A Única Rosa Pálida

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Eu deveria estar no topo.

     Um mês se passou desde que entrei em um relacionamento. Durante as semanas, fugia vez ou outra do trabalho para encontrar minha namorada.

     Assim que oficializamos essa relação, Hinata pediu para que não contasse a ninguém. Disse que seu pai e seu clã eram muito preconceituosos, portanto, prefere deixar entre nós por agora. A garota revelou que tem medo de fazerem algo comigo ou com ela. Não tenho motivos para negar esse pedido, o clã Hyuga ainda tem pensamentos antigos e tenho certeza que fariam algo para nos impedir.

     Digamos que temos uma "relação rebelde". 

     Com o passar do tempo, não conseguimos mais esconder. Alguns amigos suspeitavam e contamos apenas para eles. Pedimos também que guardassem segredo e assim fizeram.

     Obito surtou por alguns segundos, mas logo nos parabenizou e ficou feliz por nós. Obviamente ele reclamou de estar encalhado, dei a ideia para formar um casal com Kakashi, porém ele quase vomitou só de pensar e começou a dizer mil motivos para aquilo não acontecer.

     Sasuke e Itachi estavam em viagem há mais de dois anos, voltavam juntos hoje. Como Naruto estava muito ocupado e não podia recebê-los, esse trabalho ficou para sua assistente—no caso, eu.

     É a primeira vez que me encontro com os dois após a guerra. Não sei como me sinto em relação ao mais velho, ele fez coisas ruins para mim e magoou minha alma. Talvez eu ainda guardo rancor.

     Sei que não deveria, mas não consigo evitar. Só de pensar que ele não fez nada para me ajudar naquela época já me deixa aflita. Só de estarmos no mesmo lugar me deixa ansiosa.

     E vendo-o na minha frente, senti meu corpo respirar. O que deveria dizer?

— Bem-vindos de volta. — Me reverenciei.

     Não queria ter que mostrar respeito para ele.

— O Hokage não pôde os encontrar pois está ocupado com seus assuntos e não pode deixar a Torre, portanto, meu dever é substituí-lo. Peço que me acompanhem até o QG para resolvermos suas estadias e as conclusões das missões.

     Talvez eu tenha treinado essa frase mais do que deveria. Talvez não quisesse estar aqui. 

     Caminhava rápido para o local e eles me seguiam sem dizer uma palavra. Não tentei puxar assunto porque não é necessário. Ambos me fitaram o caminho inteiro, completamente em silêncio.

     Me acostumei tanto com o jeito extrovertido de Obito e Shisui que me esqueço da personalidade forte dos Uchiha. 

     Depois de uma longa hora assinando papéis e os orientando sobre o que devem fazer de agora em diante, finalmente me livrei. Disse para os dois irem ver Naruto, podendo enfim respirar um pouco.

     Em nenhum momento resolveram tocar em assuntos passados, provavelmente deixaram o passado no passado e seguiram em frente. Deveria fazer o mesmo.

     Mas lembrar que tive a chance de ser salva e me deixaram de lado é frustrante. Só eu senti todas aquelas dores, só eu vivi aquelas dores... Implorei a Deus por salvação tantas vezes e mesmo assim tive que me virar sozinha, porque Itachi não quis me salvar.

     Ele.não.quis.me.salvar.

     Ninguém nesse mundo entenderia o peso que essas palavras têm, ninguém tem a mínima ideia do que senti quando aquele Uchiha me afogou num lago sujo. 

     Ninguém. 

     Estava sofrendo e ele me ignorou. Deixou que passasse por aquilo. Deixou que vivesse com aquele monstro. Deixou fantasmas me assombrando. Deixou que tudo o que construímos fosse jogado numa caçamba de lixo.