A Única Rosa Pálida

Mon Lapin

Eu devo ser uma idiota que não pode ser ajudada.

     Meus erros me perseguem. A cada dia que passa, cada pequeno momento da minha vida, não consigo fugir disso. Tudo me puxa para baixo. 

     Independente do que faço, nada parece me completar. Mas eu mereço mesmo ser feliz? Existem pessoas que se importam comigo e que me amam de verdade, mas eu os mereço?

     Talvez sim.

— Daqui uma semana bato meu recorde de sobriedade. — Digo, olhando para o distante. — É bom, né? Mas , depois disso... Não sei o que fazer.

— Você segue sua vida. Já se sente um pouco melhor, não? — Ele pergunta, também olhando para o distante. 

— É, acho que sim... 

     A brisa leve do fim de tarde beija minha pele. O céu alaranjado traz o sentimento de continuidade. O cantar dos pássaros, as vozes das pessoas, deixavam o ambiente mais aconchegante. 

— Estou com medo falhar novamente, Shikamaru. E se eu não conseguir? E se eu acabar com tudo outra vez?

— Aí você tenta de novo. — respondeu calmamente — A vida é assim, se baseia em tentativas. É normal falhar, a resposta é você não desistir. Tem que lutar contra seus demônios interiores, curar suas feridas. 

— Sinto que não vou melhorar.

— Você vai, juro. Eu pensava o mesmo e agora finalmente sinto que estou vivendo minha vida. As coisas que aconteceram antes ainda me rodeiam, mas estou bem comigo mesmo. — deu de ombros. — Falhei por muito tempo. Nesse momento, vivo um dia de cada vez. Vai aprender a fazer mesmo.

     Encarei seu rosto sereno. O pequeno sorriso me fez ter a certeza que tudo era verdade. Ele realmente parecia estar melhor consigo; me pergunto se vou ser assim também. Shikamaru passou por muitas coisas, ver que ele está finalmente bem me alegra. Mas ainda me sinto culpada.

— Você não precisa se odiar, Sakura. — tocou meu ombro — Não tem como fugir do passado, entretanto, pode aprender a lidar com isso. 

— Nunca aprendi a viver. — suspiro — mas acho que agora é hora de realmente encarar isso.

     Encaro novamente o distante. A vista de cima do Monumento Hokage realmente é linda.

— Uma vez, há muito tempo, você me disse que somos iguais. Lembra? Isso ficou na minha cabeça por um tempo. Odiava essa sua fala. — deu um riso fraco — Sabe o engraçado? Vendo essa situação agora, vejo que estava certa.

— Não estava. Não somos iguais. 

— Somos sim. Anos atrás, tive essa mesma conversa, nesse mesmo lugar... Eu estava exatamente como você, acreditando que nunca poderia ser feliz. Mas eu percebi que mereço a vida. Com você não vai ser diferente, Sakura. 

      Não sabia o que dizer, muito menos o que fazer.

— Eu te entendo, de verdade. Fiz mal a muitas pessoas e isso transformou minha vida, tentei compensar isso fazendo boas ações, pedindo perdão... Só que não parecia suficiente. A culpa sempre voltava pra mim.

— Shikamaru...

— Mesmo assim, tive pessoas ao meu lado que me ajudaram a melhorar. Você tem pessoas assim também, não é? — Seus olhos pareciam penetrar minha alma. — Qualquer um percebe que Obito e Inari fariam de tudo pela sua felicidade. Eles são a prova de que você tem chance, só precisa dar o primeiro passo. 

— Qual é o primeiro passo? — falei, minha voz mostrava que estava tensa.

— Perdoar. — sorriu novamente — Não consegue ver, Sakura? No momento em que te perdoei, depois que Neji morreu, finalmente me libertei. Pude viver em paz.

     Perdoar? Se eu mereço o perdão, também posso merecer perdoar. 

— Não acho que somos amigos. — ele se levanta e me estende a mão — mas é um bom recomeço. Tenho certeza que vai conseguir seguir em frente.

— Shikamaru, obrigada. — me levanto — Por tudo. 

— Você é uma pessoa intensa, tudo com você é muito grande. Não é uma coisa ruim, só que, às vezes, a gente precisa da simplicidade. — Faz um curto cafuné no topo da minha cabeça. — Fica bem, Mon Lapin.

     'Não sou uma boa pessoa, mas posso me esforçar para tentar ser'. Esse é o ensinamento? 
     Eu vou conseguir melhorar. 
     Eu vou melhorar.

Agora entendo, Shisui.

— Nee-san, onde você tava? — Inari, ao me ver chegar no portão vem ao meu encontro. — Você tá bem?

— Oi, pequeno. Saí pra dar uma voltinha e encontrei um conhecido, então, paramos um pouco pra conversar. — Sorri e segurei sua mão. — Está tudo bem, não tem com o que se preocupar. 

— Ah, entendi. — me puxa para dentro — Enquanto você estava fora, eu e o seu amigo Uchiha preparamos o jantar. Fizemos sua comida favorita. 

— Você e Obito trabalhando juntos? Essa eu queria ter visto. — ri. 

— Ele é um chato, mas quando se trata de você ele se esforça. — deu de ombros — Acho que finalmente estamos nos dando bem. 

     Às vezes esqueço que Inari tem 21 anos e estranho quando ele demonstra maturidade. Para mim, ele sempre vai ser meu caçulinha. 

— Sakuratan, preparamos um jantar especial pra você. — Obito diz assim que entramos na cozinha. 

— Vocês são uns amores. — sentei-me na mesa, encarando a cheirosa comida. — Não acredito que prepararam tudo isso.

     ❝Qualquer um percebe que Obito e Inari fariam de tudo pela sua felicidade❞. Realmente, como não percebi antes?

— Você merece, gata. — Obito piscou, sentando-se na cadeira a minha frente — Mas só pra deixar claro que a ideia foi toda minha. Seu irmão só entrou de enxerido. 

— Ei! Seu Uchiha... — Inari, ao meu lado, bate na mesa — A ideia foi minha, seu palerma! Incrível que você nunca aceita que tenho mais inteligência, por isso fica roubando as coisas que eu crio!

— Mais inteligente? Seu moleque insolente, tem noção de com quem está falando!? Esqueceu quem era o cabeça por trás do Tsukuyomi infinito? Quem manipulou a Akatsuki por anos? Quem conseguiu esconder a própria identidade por décadas!?

— Bom, tecnicamente isso tudo aí quem fez foi o Madara e o Zetsu. — deu de ombros — E olha que curioso... Você de novo roubando ideias de outras pessoas.

— Ora, seu diabinho! Você vai ver só! 

     Os dois continuaram brigando sem motivo. 'Acho que elogiei cedo demais'. Pensei comigo. 

     Vendo a cena e a gritaria, eu ri genuinamente. Era algo tão idiota, que chegava a ser engraçado. Shikamaru tinha razão, esses dois são a prova de que consigo mudar.

     Mas primeiro preciso perdoar e antes de perdoar a mim mesma, tenho que aceitar as desculpas daqueles que me machucaram anteriormente. 

     E já sei exatamente por quem começar.