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DYLAN

Joguei o vaso de vidro na parede com toda a minha força, colocando para fora um pouco do sentimento ruim que eu estava sentindo. Acertei a mesinha de canto com meu próprio pé e quase não consegui ver onde tudo o que estava encima dela tinha ido parar. Olhei ao meu redor, todo o apartamento estava uma bagunça, eu tinha revirado tudo e quebrado a maior parte das coisas. Estava tentando descontar a minha raiva em alguma coisa mas percebi que não adianta, nada faz eu me sentir melhor.

Abri a torneira da pia e coloquei a mão ensanguentada embaixo da água, me cortei quando soquei a porta de vidro. Merda, eu teria que pagar por tudo que quebrei e estraguei.

Virei o restante de whisky no copo e análisei todo o líquido. Eu já estava um pouco tonto, passei a noite bebendo e misturando incontáveis bebidas. Meus olhos já estavam ardendo e eu tinha a sensação de estar flutuando. Todos os meus sentimentos estavam mais aflorados, era como se eu sentisse tudo dez vezes com mais intensidade do que o normal.

Passei a mão na bochecha limpando um pouco de sangue. Briga de bar.

Me joguei no sofá com o copo de whisky em mãos, procurei por um maço de cigarro no bolso da calça. Acendi o mesmo e traguei com força sentindo minha cabeça doer no mesmo instante, eu estava um lixo.

Olhei todo o apartamento, estava uma bagunça e algumas coisas eu teria que ralar muito para conseguir pagar, mas nesse momento eu não me importo com absolutamente nada, eu só quero colocar todo esse sentimento ruim para fora.

Me levantei para abrir a porta quando ouvi algumas batidas um pouco fortes.

—Cara o que aconteceu aqui? — Michael passou por mim e se virou me encarando — Recebi reclamação dos vizinhos, que porra de barulho você está fazendo a horas?

Me virei para fechar a porta e não consegui encarar Michael, com certeza ele iria gritar e brigar quando perceber a bagunça que eu fiz aqui.

—Um pouco fofoqueiros, não é mesmo?

Um silêncio gritante me incomodou, me virei devagar para olhar Michael, ele estava de costas para mim analisando todo o apartamento. Observei ele passar devagar por cima dos cacos de vidro espalhados por todo o chão da sala.

—Cara, o que você fez?

Fique em silêncio, não tinha o que responder. Encarar ele e dizer que tive um ataque de raiva não é suficiente para justificar o que eu fiz por aqui.

—Michael, foi mal, de verdade. Eu vou pagar por tudo assim que receber meu primeiro salário, é questão de pouco tempo.

—Mal? Foi péssimo Dylan, e pagar por isso? Você não tem dinheiro para dormir em uma pensão, quem dirá pagar por tudo isso — Ele olhou ao redor respirando fundo — Meu pai não vem aqui, não vai notar que a maoria das coisas sumiram. A gente tem que jogar tudo fora e arrumar Isso aqui.

Andei até o sofá e me sentei ainda sem conseguir encarar Michael, uma das melhores coisas em mim é saber reconhecer o erro e nessa altura eu estou muito envergonhado por ter destruido o apartamento que meu amigo conseguiu para eu dormir.

—Cara, foi mal, de verdade — repeti — Eu acabei surtando, tô errado para caralho e vou concertar isso, vou pagar por tudo.

—Você não vai pagar por nada. O que você vai fazer é usar o seu dinheiro para algo útil, de preferência uma forma de recomeçar a sua vida do jeito certo. Meu pai não dá a mínima para todos esses enfeites caros, é só um capricho da minha madrasta e olha que eles nem veem nesse apartamento, por isso eu descolei ele para você passar um tempo.

Michael é meu amigo há quase dois anos, ele estava começando nas drogas muito cedo e o pai dele já não sabia mais o que fazer. Colocava o garoto em clínicas de reabilitação mas não ajudava, ele ainda tinha coragem de dizer que quando saísse iria usar mais drogas do que usava antes de entrar. E assim ele fazia, o pai o colocava na clínica e quando ele saía dobrava o uso de drogas e buscava por coisas piores.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora