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BELLA

Sempre tem aquele momento da sua vida em que você para só para poder repensar em tudo o que aconteceu até hoje. E às vezes bate uma leve depressão com os pensamentos, uma triste sensação de que está envelhecendo sem viver da forma que gostaria. Acho que essa é a famosa crise existencial. Tenho tido bastante disso ultimamente, Já estou quase fazendo dezessete anos e durante todo esse tempo de vida eu não tenho nada de bom para contar.

É como se eu estivesse parada vendo a Vida passar diante dos meus olhos.

Acho que trabalhar todos os dias em uma livraria e me dedicar inteiramente aos estudos não é o que um adolescente da minha idade tem o hábito de fazer ultimamente. Acho que é por isso que eu não tenho muitos amigos. São vibes totalmente diferentes, ainda não encontrei ninguém com os mesmos pensamentos que eu. Mas isso é normal, ninguém é igual a ninguém.

Mas acontece que se eu tivesse amigos, eu com certeza iria sair de casa e iria aproveitar mais a minha vida. Mas eu não tenho amigos, nenhum além de Noah. Na verdade ele nem é tão amigo assim, ele se afastou muito de mim e ultimamente eu tenho me encontrado muito sozinha.

Talvez essa crise existencial seja porque eu acabei abrindo o Instagram e vendo que todas as minhas colegas de turma estão juntas em uma festa, enquanto eu estou com a cabeça encostada no vidro do carro de um cara que eu mal conheço e com o psicológico totalmente abalado. Estou tentando ao máximo pensar em várias coisas para ignorar a noite passada. Mas não adianta, eu sempre acabo voltando para lá.

—Onde conseguiu um carro? — me inclinei o olhando enquanto dirigia. Pude ver com calma as tatuagens na sua mao, eram muitas — A pouco mais de um mês você não tinha onde dormir, e agora tem um carro.

Ele se endireitou no banco e eu permaneci o olhando, normalmente eu nunca tenho nenhuma resposta vinda dele. Mas dessa vez eu estava empenhanda em descobrir, até porque mesmo não conhecendo absolutamente nada de carros, sei que esse não é nem um pouco barato.

E mais, as roupas dele estão diferentes, ele está diferente. Dylan está com roupas muito boas, diferentes das roupas baratas que estava usando quando saiu do reformatório. Sem contar os vários anéis nós seus dedos que parecem ser prata. Esse cara está muito bem de vida e minha curiosidade é saber como tudo aconteceu em um mês.

—Sabe, você faz perguntas demais.

—E você sempre foge de todas elas.

—Talvez porque eu não goste de responder a perguntas. Já pensou nisso?

Não era difícil saber que ele odiava responder qualquer pergunta. Até a mais simples ele Ignorava.

—Eu só perguntei sobre o carro.

—E se eu responder, você vai encontrar passagem para outra pergunta e não vai mais parar — dei de ombros meio ofendida, mas a verdade é que ele estava certo — Prefiro que não me faça perguntas.

Cruzei os braços e fechei a cara no mesmo instante. Qualquer um diria que eu estava parecendo uma criança birrenta, mas acho que realmente estava. Odeio não conseguir respostas para as minhas perguntas, faz com que a minha cabeça queime em teorias.

Acho que tráfico é uma ideia cogitável. Ele já morou em reformatório e é bem provável que tenha acesso a esse tipo de coisa, já que para esse lugar vão sempre as piores pessoas. Na verdade, essa é a melhor opção até agora. Ninguém muda de vida assim tão rápido, foi literalmente em um piscar de olhos.

Eu trabalho a tanto tempo e se tiver cinquenta reais na bolsa é muita coisa, na verdade, deve ter dez ou vinte.

Repreendi meus próprios pensamentos. Estou pensando o pior dele só por causa do seu passado, isso é errado. Não posso basear a vida dele em coisas ruins.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora