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DYLAN

Uma boa parte do meu corpo é coberta por tatuagens. Algumas tem sim um significado, como um pegueno sol no pulso. Minha mãe sempre dizia que não importa quão grande e avassaladora seja a tempestade, que mesmo se a chuva forte retirar algumas coisas do lugar e causar grandes estragos, que mesmo assim o sol ainda aparece. Como um sinal de esperança, recomeço e uma lembrança de que tudo brilha depois da escuridão.

Foi a minha primeira tatuagem. Fiz no dia do seu aniversário, primeiro aniversário dela que comemoramos desde que eu nasci. Primeiro em que Charlie não estava presente, e nesse dia tivemos bolo e cantamos parabéns. Mesmo sendo só nós dois, mas estava tudo bem, a gente se completava e se bastava.

Mas a tatuagem de escorpião perto do sol é diferente, ela não tem nenhum significado além de tentar esconder uma cicatriz. Assim como mais da metade das tatuagens espalhadas pelo meu corpo.

Era noite de Natal, minha mãe tinha conseguido um bom emprego para limpar casa de uma senhora com muito dinheiro e ela ganhava muito bem por limpar e levar as crianças na escola. Era mais do que o valor de um salário mínimo na época.

Um mês antes do natal ela me perguntou se eu queria um presente específico. Eu disse que não tinha nada em mente, mas que queria um jantar com coca cola igual aos da tv. Não tínhamos uma boa condição financeira, então refrigerante era somente em datas comemorativas.

Mas a minha mãe fez muito melhor. Ela fez realmente igual aos da tv, com árvore de natal e vários presentes embaixo, sendo a maior parte para mim. O jantar tinha tanta comida que eu nem sabia o que comer primeiro. Era a primeira vez que tínhamos uma mesa tão farta, era o primeiro natal em que estávamos realmente felizes.

Eu tinha dez anos. Era uma criança feliz abrindo os presentes e encontrando carrinhos, bonecos, roupas. Minha mãe tinha comprado várias coisas. Ela disse que por dois meses comprou presentes sempre que sobrava dinheiro. Já que ela recebia por semana.

Charlie não estava presente no jantar e muito menos enquanto abriamos os presentes. Mesmo tendo dois para ele.

Já era quase uma da manhã quando estávamos limpando a mesa e guardando o que sobrou. Minha barriga estava quase explodindo de tanta coca que eu bebi.

Então o inferno chegou, Charlie abriu a porta com tanta força que a maçaneta bateu contra a parede fazendo um pegueno buraco no lugar. Naquele momento eu soube que ele bebeu. Mas eu estava tão feliz que decidi Ignorar completamente qualquer coisa que ele fizesse ou dissesse.

Quando olhei para minha mãe, o prato que ela lavava estava quase caindo da sua mão pelo tanto que ela estava tremendo. Eu não podia deixar ela terminar a noite de uma forma ruim, ela fez o melhor para que fosse perfeito para gente e foi.

"-mãe, vai para o meu quarto - toquei de leve seu ombro - eu termino de guardar as comidas na geladeira e limpo a mesa".

Ela me olhou com aquele olhar que fazia com que meu coração se apertasse e dava a sensação de que fosse se partir dentro do meu peito.

"-Eu não vou deixar você sozinho com ele".

"-Tudo bem mãe, pode ir. Assim que eu terminar eu vou, mas vai para o meu quarto e tranque a porta. Se ele disser qualquer coisa eu não vou responder para não brigar, pode ir".

Eu não tinha medo dele, mesmo depois de tudo. Eu só queria proteger a minha mãe, mesmo que o saco de pancadas se tornasse eu. Porque, antes eu do que ela.

Minha mãe mesmo relutante, Concordou e foi para o quarto. Os roxos no seu braço ainda nem tinham saído, eu não podia deixar ele encostar nela mais uma vez.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora