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BELLA

Me mexi desconfortávelmente. Olhei para baixo e demorei um tempo para processar a informação de que estava vestida com roupa de hospital. Eu estava deitada em uma cama de hospital e minha mãe estava chorando nos pés da cama. Charlie logo ao seu lado com a cabeça baixa. Procurei por ele no quarto mas não encontrei.

Senti meu rosto sendo molhado aos poucos enquanto me lembrava da noite passada. Essa é com toda a certeza a pior noite da minha vida. Cada momento, cada segundo que vivi me dá vontade de morrer.

Eu nunca, em toda a minha vida imaginei que passaria por uma situação como essa. Na verdade ninguém espera isso. Sim, sempre estamos em alerta e sempre esperamos que isso possa acontecer, mas nunca que realmente vamos ser atacadas. Ou só ignoramos o fato de que somos presas faceis.

Fechei os olhos pensando em todas as mulheres que já estiveram no meu lugar. Eu quase fui estuprada e o que estou sentindo é a pior sensação do mundo. Não consigo nem mesmo imaginar a situação de mulheres que são abusadas.

A violência contra mulher sempre será uma das coisas que eu mais abomino na vida. Nunca vou entender como um ser humano tem a coragem de forçar uma mulher a algo, mesmo que ela implore e grite desesperadamente para parar. Tanto violência sexual, quanto piscologica e violência doméstica sempre serão as piores coisas para mim. É nojento, é podre. Não consigo nem mesmo encontrar palavras para descrever o quão terrível isso é.

O rosto daquele homem não saia da minha cabeça. Eu só queria apagar toda aquela cena da minha memória e esquecer que aquilo aconteceu. Eu estou sentindo nojo de mim mesma, nojo de cada lugar que ele tocou. Eu só quero tomar banho e me levar, tirar tudo isso de mim e deixar ir pelo ralo.

—Bella — minha mãe se aproximou rapidamente e colocou a mão no meu rosto limpando as lágrimas — ah minha filha, eu sinto tanto. Se eu pudesse trocaria de lugar com você sem pensar duas vezes.

Eu podia sentir a dor dela, e foi isso que fez com que eu desabasse de vez. Chorei de soluçar abraçada com a minha mãe. Eu só consiguia pensar que por pouco eu não fui violada, por muito pouco eu não tive a minha vida inteira destruida.

—Eu sinto muito — Charlie pegou a minha mão e segurou com força entre a sua. Parecia tão sem jeito — Aquele monstro foi levado para a delegacia, será punido pelo que fez.

Fechei os olhos e respirei fundo. Não existe justiça, ele ficará um tempo preso mas logo será solto. É isso que acontece no Brasil, a nossa justiça é falha.

—Seu chefe esteve aqui — mamãe comentou — Mas você estava dormindo. Ele disse que caso Você queira voltar, colocará câmeras na porta para você estar sempre monitorando tudo. Mas que se a sua intenção for realmente voltar, que ele quer que fique um mês em casa para se recuperar.

Eu não sabia se estava pronta para voltar e muito menos se queria voltar. Acho que eu sempre vou temer, sempre vou ficar vulnerável em qualquer lugar. Mas o problema da livraria é que, aquele nojento pode sair da cadeia e voltar para terminar o que começou. Eu não consigo nem mesmo pensar nisso. É uma sensação aterrorizante.

—A verdade é que eu não sei se estou pronta para voltar com a minha vida normalmente — fui sincera — acho que eu preciso de um tempo para mim. Na verdade eu tenho certeza. A situação pela qual eu passei, deixou meu psicológico muito abalado. Eu só preciso de um tempo.

—Tudo bem filha. Você está certa, tudo no seu tempo. Nada mais importa do que o que vai deixar você bem.

Ela me entregou uma bolsa onde tinha colocado algumas coisas pessoais para que eu pudesse tomar banho. Me contou que eu fui internada porque tive um ataque de pânico, eu não conseguia respirar e simplesmente desmaiei. Foi a primeira vez que algo assim aconteceu comigo, e a primeira vez que passei a noite no hospital.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora