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Rio de Janeiro
Brasil
2022

Bella 🌙

Minha mãe e meu padrasto corriam de um lado para o outro organizando e limpando tudo o que podiam de última hora. Mesmo não querendo ajudar, eu fiz o jantar e isso já é grande coisa considerando tudo o que fiz. Gosto de cozinhar, não foi muito esforço.

Diferente dos dois, eu não estou nem um pouco animada com o novo visitante. Charlie não é meu pai biológico, mas é como se fosse. Recentemente descobrimos que a ex esposa dele morreu, e ele tem um filho que não tem para onde ir e que precisa de ajuda.

Como a minha opinião não conta para absolutamente nada, eles conversaram entre si e decidiram chamar o garoto para vir morar conosco.

Eu fui contra desde o início, parece que eu sou a única pessoa que tem senso dentro dessa casa.

O Garoto matou uma pessoa quando tinha quinze anos, foi direto para um reformatório. A alguns meses ele completou dezoito anos e junto a pena dele foi cumprida, estava na hora de sair de lá.

Na verdade, faz quase um ano que ele fez dezoito mas eu não entendo bem o que aconteceu. Acho que ele tinha um péssimo comportamento e acabou aumentando a pena.

Mas ele não tem para onde ir, a mãe morreu enquanto ele estava no reformatório, e já faz um ano. Charlie ligou para ele poucas vezes durante oito anos, esse foi o tempo que ele se separou e nunca mais viu o filho pessoalmente.

Ontem minha mãe recebeu uma ligação do diretor do reformatório, ele explicou toda a situação, que o tal Dylan, iria sair de lá em menos de uma semana e que não teria para onde ir. Minha mãe aceitou imediatamente, saiu de casa igual uma louca e depositou o dinheiro para que pudessem comprar a passagem para ele.

Charlie ficou nervoso de imediato, gritou que mamãe não deveria tomar decisões sem o consentimento dele. Mas no fim cedeu e agora está animado com a volta do filho, um garoto que é desconhecido para todos nós.

Não é uma birra nem nada, o problema é que não conhecemos o garoto, nem o próprio pai conhece, Charlie e ele conversam por ligação as vezes. Ele pode matar todos nós a qualquer momento, ou nos traficar.

Tenho a sensação de que sou a única com senso de sobrevivência nessa casa. Eles não assistem filmes? Povinho sem cultura.

O garoto ligou ontem a noite e hoje mesmo ele chega, para ser mais exata, em menos de uma hora ele vai estar aqui.

—Obrigada por ter feito o pudim Bella, Dylan gosta muito — seu sorriso foi sumindo aos poucos — pelo menos gostava quando era criança.

Isso é tão triste, ele não conhece o próprio filho. Mas foi Charlie que escolheu ser assim, ele poderia ter ido visitar o filho ou que exigisse ter a guarda compartilhada, mas não quis porque não queria ter contando com a ex Mulher. Ele é tão errado por isso.

—Se ele não comer, eu vou enfiar pela sua garganta — Ameaço.

—Não precisa, eu também gosto de pudim — um sorriso sincero — vou terminar de arrumar as coisas.

Charlie pega as chaves do carro e sai quase correndo de casa, deve estar indo ao mercado. A muito tempo eu não o via tão feliz.

Minha mãe terminou de ajeitar os livros na estante e se sentou ao meu lado, parecia cansada.

—Ainda acha que limpar a casa é melhor do que cozinhar? — brinco.

—Eu acho, ninguém merece ficar com a barriga colada em um fogão, é muito trabalhoso ter que cozinhar. Uma pena que você só cozinha nas suas folgas — Lamenta.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora