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BELLA

Me olho no espelho procurando um vestígio de quem eu era meses atrás. Me forço a dar um sorriso, e constato que esse é o sorriso mais feio e forçado que já dei em toda a minha vida. Tiro os cabelos de trás das orelhas tentando melhorar minha aparência, mas não resolve. As olheiras e a expressão extremamente cansada permanecem intactas. Nunca me senti assim antes, é simplesmente horrível.

Estou vivendo aquele momento em que parece que nada é suficiente para me fazer feliz. Que não importa se eu tente deixar os problemas de lado e seguir em frente, sempre terá marcas frescas em mim. E bom, é impossível deixar os problemas e seguir em frente.

Fecho os olhos com força e meus pensamentos me mandam para longe, para minha infância. Quando minha mãe sorria genuinamente abraçada ao meu pai, e ele dizia que eu era o melhor presente que minha mãe tinha dado para ele e que nenhum outro me superaria. E então, ela dizia que nós dois éramos os amores da sua vida e que eramos a melhor coisa que poderia lhe acontecer.

Eramos verdadeiramente felizes, todas as lembranças que tenho do meu pai são felizes. Bom, até o dia em que visitei ele no hospital sem entender direito o que estava acontecendo mas mesmo assim ele transformou aquele momento na despedida mais linda.

Ele olhou nos meus olhos, segurou a minha mão e disse o quanto me amava. Que eu era luz onde passava e que iria iluminar a vida de quem estava no escuro. Disse que minha vida era feita de propósitos e que conseguia ver claramente que eu seria salvação para quem necessitasse de ajuda, porque eu fui tudo isso para ele. E que ele queria que eu fosse para outras pessoas.

Naquela noite eu perdi meu pai para o câncer. Foi o pior momento da minha vida, mas me confortava ver que ele partia em paz, cheio de amor e gratidão.

Quero ser como ele disse que eu sou. Quero ajudar, quero levar luz para a vida das pessoas. Mas ultimamente eu não consigo mais brilhar, preciso ser salva e não tem ninguém que possa fazer isso, não tenho ninguém para me salvar.

—Bella?

Me virei vendo Dylan me olhando. Não me esforcei para limpar as lágrimas que molhavam meu rosto, olhei para ele assim mesmo, sem medo de que ele me achasse uma fraca que só sabe chorar.

—Está tudo bem — sorri fraco — vai ficar tudo bem.

—Eu odeio te ver chorar.

Me virei para o espelho e encarei meu reflexo. Eu estava destruida tanto por fora quanto por dentro e não consigo nem mesmo fingir que está tudo bem.

—Bom, eu chorando não é uma cena muito agradável de se ver.

Dylan se aproximou e passou as pontas dos dedos nas minhas lagrimas, limpando com tanto cuidado, como se eu pudesse quebrar ao seu toque, como se fosse extremamente delicada.

Subi meus olhos pelo seu rosto e então nossos olhos se encontraram, os olhos escuros mais lindos que eu já vi em toda a minha vida, mesmo sem brilho algum.

Suas sombrancelhas se franziram enquanto ele me olhava, como se estivesse pensando em algo muito sério.

A sua mão pousou delicadamente na minha bochecha, acariciando, deslizando pela minha pele e seus olhos seguiam os movimentos pelo meu rosto, como se ele analisasse com calma cada pedacinho de mim.

Talvez eu esteja errada, talvez exista alguém que possa sim me salvar. E esse alguém é Dylan, com sua personalidade forte, seu jeito durão e difícil, mas que é capaz de me dar tanto carinho mesmo parecendo não saber direito o que fazer quando me abraça ou quando acaricia meu rosto como está fazendo agora.

Ele tem sido minha válvula de escape. Eu tenho tentado Ignorar o quanto ele vem mexendo comigo desde que apareceu na minha vida, desde quando me encurralou contra a parede e senti seu corpo contra o meu.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora