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DYLAN

Calma, tranquilidade, paciência. Isso são coisas que eu nunca soube o que eram, sempre fui muito explosivo, por uma coisa minúscula eu já pegava a primeira coisa que via pela frente e acertava contra a parede com toda a força. Eu tive muitos problemas no reformatório por causa disso, sempre levava a punição de ficar trancado em um quarto escuro o dia inteiro sem água e comida. E foram incontáveis vezes, a primeira experiência foi terrível mas depois eu me acostumei, até gostava na verdade, eu tinha paz quando ficava preso lá dentro.

Os apelidos me deixavam com mais raiva ainda. Me chamavam de esquentadinho, explosivo, maluco. Só Anthony e Michael me chamavam pelo nome. E foram os únicos com quem eu não perdi a paciência naquele lugar. Eles pareciam pensar igual a mim, bom, em algumas partes. Anthony por exemplo, era uma manteiga derretida mas a gente se dava bem. Já Michael, ele era praticamente igual a mim quando foi para o reformatório, mas hoje em dia é mais cabeça, mas sentrado.

Eu juro que na maioria das vezes tentava me controlar, era até mesmo patético eu contando de um a dez e tentando controlar a respiração, algumas vezes funcionava mais outras não.

Na minha cabeça, eu tinha quase certeza de que esse comportamento é consequência de crescer em um lar violento. Eu era calmo, uma criança muito calma que sempre agia na tranquilidade e sem pressa alguma para nada. Mas com o passar dos anos, com a adolescência batendo na porta eu fui ficando agressivo e não me orgulho nem um pouco disso.

Um dos primeiros episódios pesados que fizeram com que minha mãe me mandasse para o psiquiatria aos doze anos, foi quando um garoto derramou suco em mim na escola. hoje eu percebo que não foi proposital, mas na época eu peguei o copo da mão dele e soquei o rosto do garoto com o objeto de metal. O sangue escorrendo pela sua pele e seus gritos não eram suficientes para fazer com que eu parasse. Hoje me arrependo, e muito.

No reformatório eu já cheguei a brigar com três caras de uma vez e pode parecer absurdo, mas eu ficava descontrolado a ponto de conseguir bater nos três e sair com quase nenhum arranhão. Tenho certeza de que se eu contar essa história para alguém, as pessoas vão rir da minha cara e me chamar de mentiroso.

Os episódios violentos no reformatório não paravam, era um teste constante cada dia que se passava. A cada momento eu encontrava muitos obstáculos e tinha muita pouca força para conseguir lidar com eles. Então eu brigava praticamente todos os dias lá dentro, o refeitório tinha se tornado uma área de luta livre.

Foi quando os responsáveis pelo reformatório notaram que meu comportamento estava longe de ser normal e ser considerado como atos rebeldes. E foi quando eles correram atrás para descobrir o que eu tinha e eu tive o diagnóstico de TEI.

Transtorno explosivo intermitente. Não consigo me controlar, sou levado pelos impulsos agressivos. Tenho ataques de fúria e comportamento nem um pouco normal.

Eu não me orgulho disso, dos meus descontroles até aqui, eu tenho tentado trabalhar a minha mente e o meu corpo para entenderem o que é manter a calma. Eu não posso simplesmente perder o controle com alguém, e depois jogar a culpa no meu passado ou nos meus problemas psicológicos.

Tenho que me responsabilizar pelas minhas atitudes de agora. Se eu perder o controle com uma namorada por exemplo, o que eu vou dizer para ela? Desculpa, é que eu cresci em um lar violento e agora estou descontando as minhas frustrações e minha raiva em você. Me perdoa, perdoa meus atos violentos e vamos seguir em frente como se nada tivesse acontecido porque acima de uma agressão, está o meu amor por você.

Ou então, me desculpe, tenho transtorno de raiva e acabei surtando e descontando em você. Mas não é culpa minha não procurar um tratamento e descarregar tudo encima de você.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora