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BELLA

Eram quase nove da noite quando fechei a livraria. Foi bom voltar a trabalhar, me fez um bem enorme ficar sozinha rodeada de livros por horas e tendo paz para colocar a minha leitura em dia. Hoje terminei de ler todas as suas imperfeições, foi um livro que me pegou de surpresa em muitos momentos e que alugou um triplex na minha cabeça. Me deixou muito reflexiva, me fez pensar em relacionamentos, como alguns parecem perfeitos aos nossos olhos mas pode ser que quando o casal está só, seja um verdadeiro inferno.

Fiquei pensando na traição de Graham, não só a traição me deixou sem chão, mas por ele ter dito que não era igual a Ethan e então ele foi lá e fez a mesma coisa, de uma forma conseguiu ser até mesmo pior. Fez com que Quinn confiasse nele, e então, ela teve uma das maiores decepções da sua vida.

Me faz pensar que nunca vamos realmente conhecer uma pessoa e saber do que ela é ou não é capaz. Sempre podemos nos surpreender, seja de forma negativa ou positiva. Seres humanos são falhos, erram muito. Mas deviam ser certos antes de destruir uma pessoa que te ama e que faria qualquer coisa por você.

São experiências que eu nunca quero vivenciar, mas é algo que não posso controlar. Não queria ter uma decepção com alguém que eu amasse e que me amasse de volta. Mas pode acontecer, não posso controlar o outro.

As vezes queria ter o poder de tirar os meus sentimentos, de não amar e muito menos me apaixonar. Mas quando assisto ou leio um filme de romance, algo dentro de mim queima e anseia por isso, viver um amor, amar e ser amada. Nada tira da minha cabeça de que o amor é a melhor coisa da vida, de que ser amado de volta é ter um mundo nas suas mãos e que a paixão pode te fazer sentir ainda mais vivo.

Eu simplesmente amo o amor.

Abri a porta de casa e de cara vi minha mãe e Charlie sentados no sofá assistindo novela. Eles não me viram, então por alguns segundos permaneci em silêncio olhando para eles. Minha mãe estava com a cabeça encostada em seu ombro, eles estavam de mãos dadas e comentávam animados sobre a novela.

Não conseguia assimilar na minha cabeça que esse mesmo casal vivia situações violentas, é algo que as vezes eu não quero acreditar. Mas não posso ignorar que aconteceu, mas seria tão mais fácil se eu fizesse.

-Filha, que bom que você chegou - seu sorriso se alargou quando me viu, acabei sorrindo de volta para ela - Vem sentar com a gente, é a novela que você gosta.

Me virei trancando a porta e me demorando o máximo que conseguia. Eu não quero sentar perto deles e fingir ser uma família normal, mas já que a minha mãe não vai deixar ele e vou ter que aguentar essa situação por pelo menos mais dois anos, então vou tentar fazer com que o clima nessa casa fique mais leve.

Eu sempre tento me lembrar que ela não tem culpa, que é a minha mãe e que é a vítima. Nunca sabemos direito o que se passa na cabeça das mulheres que sofrem violência doméstica, mas sabemos que no meio de tudo existe medo, dependência e comodismo.

-Preciso tomar um banho, estou cansada. Quero tomar um banho e tirar um cochilo, talvez mais tarde eu levante e faça um lanche.

Ela sorriu para mim de uma forma que aqueceu meu coração e ao mesmo tempo fez com que eu me sentisse culpada.

A muito tempo eu não conversava com ela dessa forma, tão calma. Estava sempre distante e com respostas curtas e secas.

Minha mãe sempre foi incrível para mim, ela já sofre demais e não merece que eu seja mais uma pessoa ruim na sua vida. Minha função é cuidar, aconselhar e proteger. Não transformar nossa relação em algo insuportável.

-Como foi o primeiro dia de aula? E o trabalho?

Caminhei até ela e me sentei na poltrona a sua frente, dando atenção para ela e ignorando completamente o homem ao seu lado.

Até o fim Onde histórias criam vida. Descubra agora