É no momento em que minhas palavras estão sob a luz de muitos olhos que enfim esta história torna-se estranha, confusa, diferente, agridoce, difícil, aventureira e extraordinária.
O menino teve plena certeza de que havia acordado, porém, envolto de um grande breu. Ouviu-se um estalo ecoar por todos os lados, se propagando por toda aquela imensidão, mas o garoto não tinha noção de quão extensa era.
"Olá!" Disse trêmulo, esperançoso de que alguém fosse o responder. Sua voz ecoou por todos os lugares, dando-lhe uma impressão de que estava numa câmara gigantesca. A resposta veio com um outro "Olá", porém, incomum.
Uma voz profunda e grave invadiu o espaço, cortando abruptamente a fala de Olip.
O menino buscou desesperado com os olhos de onde havia vindo aquele som, tão grave como uma tuba. O som tinha inúmeras origens, vinha de todos os lados.
O céu estrelado no barco deu lugar a um apagão total. Não enxergava onde os pés pisavam e nem se haveria de ter paredes ali. Um gotejo distante o fazia sentir-se como num túnel de esgoto.
Esperou mais alguns minutos para ver se a voz daria prosseguimento em sua fala, onde quer que ela estivesse e de onde viesse.
— Eu estava muito perdido! — Disse a voz, choramingando.
— Você estava perdido?
— Perdido! Ninguém se importava comigo, então eu fugi, mas então me perdi! Me perdi por muito tempo, muitos anos. Ninguém me entendia.
— Ei, onde está você? Onde estamos? Como—
— Realmente, as pessoas se importavam muito pouco comigo.
— Senhor, como saímos daqui? Afinal, onde estamos?
— Teve uma vez que tive um amigo, ou só um colega. Eu finalmente me senti grande novamente, como se tivesse forças para agir por mim mesmo, mas ele...
— E esse lugar em que estamos, hein?
Olip bateu com o pé esquerdo no chão, com toda a força que conseguiu, mas nenhum som surgiu deste gesto.
— Porém, fico feliz que tenha te encontrado. Podemos ser amigos, caminhar juntos, enfim.
— Senhor, por favor, onde estamos?
— Bem longe. Você deve ter dormido bastante.
Olip franziu o cenho, aconchegando os braços ao redor do peito para sanar os calafrios tão eletrizantes que percorriam seus braços.
— Longe de onde? Quer dizer que estamos juntos, aqui, afinal?
— Bem, longe de tudo, mas no centro de tudo, é complicado. Mas não se preocupe, aqui é aconchegante e bem espaçoso — A voz gradativamente ia desaparecendo, mesclando-se quase com o gotejar ritmado que continuava em algum lugar.
O menino girou a face para todos os lados. Não havia nada de aconchegante naquele nevoeiro denso e escuro. Espaçoso sim, mas aconchegante? Jamais! Olip imaginava onde ele colocaria uma poltrona ali? E onde viria o abajur? E se um dia quisesse pendurar uma lâmpada no quarto de visitas e ela acabasse ficando no meio da cozinha?
— Ah, tenho uma coisa para te dizer!
— O que? — Olip perguntou, hesitante.
— Sem que pode estar se sentindo perdido, mas estou indo para um lugar, talvez se nos encontrássemos lá, poderíamos voltar para casa juntos.
— O que? Como você sabia que eu fugi de casa? Eu não quero voltar!
— Bem, eu quero, e estou indo para um lugar que vai me ajudar a trazer meu amigo de volta.
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Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]
AventuraO que a perda de um ente querido pode causar a um ser humano? Olip Maut, um menino de 12 anos, precisa lidar com as consequências da morte de seu melhor amigo, e enquanto isso, Olip irá trilhar um caminho por um mundo inteiramente novo e, por ve...