Capítulo 1: Confusão e Pólvora

2 1 0
                                    

É no momento em que minhas palavras estão sob a luz de muitos olhos que enfim esta história torna-se estranha, confusa, diferente, agridoce, difícil, aventureira e extraordinária.

O menino teve plena certeza de que havia acordado, porém, envolto de um grande breu. Ouviu-se um estalo ecoar por todos os lados, se propagando por toda aquela imensidão, mas o garoto não tinha noção de quão extensa era.

"Olá!" Disse trêmulo, esperançoso de que alguém fosse o responder. Sua voz ecoou por todos os lugares, dando-lhe uma impressão de que estava numa câmara gigantesca. A resposta veio com um outro "Olá", porém, incomum.

Uma voz profunda e grave invadiu o espaço, cortando abruptamente a fala de Olip.

O menino buscou desesperado com os olhos de onde havia vindo aquele som, tão grave como uma tuba. O som tinha inúmeras origens, vinha de todos os lados.

O céu estrelado no barco deu lugar a um apagão total. Não enxergava onde os pés pisavam e nem se haveria de ter paredes ali. Um gotejo distante o fazia sentir-se como num túnel de esgoto.

Esperou mais alguns minutos para ver se a voz daria prosseguimento em sua fala, onde quer que ela estivesse e de onde viesse.

— Eu estava muito perdido! — Disse a voz, choramingando.

— Você estava perdido?

— Perdido! Ninguém se importava comigo, então eu fugi, mas então me perdi! Me perdi por muito tempo, muitos anos. Ninguém me entendia.

— Ei, onde está você? Onde estamos? Como—

— Realmente, as pessoas se importavam muito pouco comigo.

— Senhor, como saímos daqui? Afinal, onde estamos?

— Teve uma vez que tive um amigo, ou só um colega. Eu finalmente me senti grande novamente, como se tivesse forças para agir por mim mesmo, mas ele...

— E esse lugar em que estamos, hein?

Olip bateu com o pé esquerdo no chão, com toda a força que conseguiu, mas nenhum som surgiu deste gesto.

— Porém, fico feliz que tenha te encontrado. Podemos ser amigos, caminhar juntos, enfim.

— Senhor, por favor, onde estamos?

— Bem longe. Você deve ter dormido bastante.

Olip franziu o cenho, aconchegando os braços ao redor do peito para sanar os calafrios tão eletrizantes que percorriam seus braços.

— Longe de onde? Quer dizer que estamos juntos, aqui, afinal?

— Bem, longe de tudo, mas no centro de tudo, é complicado. Mas não se preocupe, aqui é aconchegante e bem espaçoso — A voz gradativamente ia desaparecendo, mesclando-se quase com o gotejar ritmado que continuava em algum lugar.

O menino girou a face para todos os lados. Não havia nada de aconchegante naquele nevoeiro denso e escuro. Espaçoso sim, mas aconchegante? Jamais! Olip imaginava onde ele colocaria uma poltrona ali? E onde viria o abajur? E se um dia quisesse pendurar uma lâmpada no quarto de visitas e ela acabasse ficando no meio da cozinha?

— Ah, tenho uma coisa para te dizer!

— O que? — Olip perguntou, hesitante.

— Sem que pode estar se sentindo perdido, mas estou indo para um lugar, talvez se nos encontrássemos lá, poderíamos voltar para casa juntos.

— O que? Como você sabia que eu fugi de casa? Eu não quero voltar!

— Bem, eu quero, e estou indo para um lugar que vai me ajudar a trazer meu amigo de volta.

Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora