Capítulo 15: Reconheço

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Os meninos não precisavam de um mapa para saberem que estavam longe. A paisagem já havia mudado bastante, e cada vez que avançavam, mais o solo caía, dando lugar às árvores menos altas e vegetação baixa.

Mal sentiam as pernas. Também sentiam fortes dores nas costelas. Seus pés doíam e os corações batiam nas gargantas. Agora, Olip sentia que poderia morrer de tanto cansaço.

Começaram a encontrar pequenas poças onde seus pés afundavam.

Slim havia acendido a lanterna, iluminando o caminho à frente com uma luz amarelada. Olip checou novamente sua bússola, mas a agulha permanecia ensandecida. Berno segurava sua arma de fogo bem junto a si, como se fosse um membro. Olip tinha medo do escuro, mas por algum motivo, não o temia mais, talvez por existirem tantos outros problemas para se preocupar agora.

Olip guardou a bússola no bolso, e continuaram a descer o campo. Desde que partiram de Polimo, em completa perseguição, não falavam muito além de alguns alertas, como quando havia galhos à frente e outros obstáculos. Olip sentia que todos estavam tensos demais para conversarem, sentia que ele mesmo se tentasse dizer algo, não completaria a frase.

— Nesse sentido, talvez estejamos próximos de Pássaros. — Disse Berno.

Os meninos prosseguiam em silêncio por entre as árvores, sendo acompanhados apenas pelo som das corujas nas árvores. A cada estalo que seus passos produziam, Slim virava-se para checar. A luz por entre as árvores, aquela que vinha da lanterna de Slim, se mexia, nessas horas, desesperadamente. Berno apertava o cano da arma junto ao corpo, e por vezes Olip percebeu que o ratinho, dentro do bolso, parecia temer algo que estaria por vir.

— Quer dizer que podemos ser pegos a qualquer momentos? Pelos bromálios? — Disse Olip, hesitante.

— É. — Disse Slim, ainda à frente.

— E as sombras. — Disse Berno.

Momentaneamente, sentiram que a trilha se elevava drasticamente. Decidiram continuar a segui-la até acharem uma abertura entre as árvores. O caminho terminava numa queda brusca, a muitos metros do campo. Era como a sacada de uma grande casa, que dava vista para as planícies e os montes, rodeados pelas árvores altas e baixas. Sob a luz da lua, Olip pôde avistar, na parte mais baixa do terreno que enxergava, algumas poucas luzes, próximas do mar.

Com algumas habilidades, Berno armou uma fogueira, e então toda a clareira se iluminou pelo brilho acalorado do fogo. Slim tirou de uma bolsa um pote com castanhas e alguns pedaços de coco. Eles sentaram-se ao redor da fogueira e comeram, com a orientação de Slim, a pequena porção daquele dia.

Decidiram partir ainda de noite. Berno apagou a fogueira e Slim reacendeu a lanterna, levando-os novamente a descer o caminho. Agora, que já estavam um pouco mais descansados e alimentados, seus pensamentos estavam mais tranquilos.

— Olip, a noite está cheia de estrelas, cuidado com as mentiras, senão o grande dragão te pega. — Disse Berno.

— O grande o que?

— Dragão. — Disse Slim.

— É ditado popular, você sabe... — Disse Berno.

— Mas qual o motivo? Tem a ver com nossa jornada?

Berno passou alguns poucos minutos em silêncio.

— Na verdade, eu só me lembrei disso mesmo.

— Vocês não acham triste isso? Essa coisa de lembrança. — Disse Slim.

— Como assim? — Perguntou, Olip.

— Sabe, essa coisa de ficar lembrando...

— Mas lembrar? Não seria pior se esquecêssemos? — Perguntou, Olip.

Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora