Capítulo 9: A espada persegue a fagulha

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O vale era estreito, mas suficiente para uma carroça passar. Tinham rochas acumuladas em degraus nas subidas e sulcos às paredes, por onde algumas raízes secas se projetavam no ar.

Acima da fenda do vale e logo mais à frente começava a surgir o fantasma de uma população. Casas pequenas, muito humildes, apareciam timidamente sobre o terreno cinzento que margeava o vale. As construções seguiam e se adaptavam à descida da colina e então, logo à frente, o vale se abria e a boca se alargava, terminando onde uma pequena cidade começava.

O pássaro saltava os olhos para cada detalhe daquela população. Viu alguns carregando caixotes nos ombros, sujos de fuligem e poeira. Usavam capacetes que provavelmente eram feitos de latão.

Aquilo é uma muralha?

Olhando mais adiante, percebeu que uma extensa muralha cortava a pequena cidade de uma cidade bem maior. O muro era feito de tijolos escuros, mas a parte superior era construída com blocos brancos de pedra, que refletia a luz do sol. De onde estava, o pássaro podia ver toda a cidade. Havia pequenas estradas que serpenteavam entre as construções. As casas e outras construções tinham grandes pilastras de pedra, blocos de barro, telhados de cerâmica, janelas com muxarabis e pedras negras que serviam como fundação.

Também notou muitas torres espelhadas pela cidade. Todas tinham sinos.

Roan. O pássaro lembrou-se do homem baixinho e careca. Vivem de mineração do vale.

Que lugar feio.

Se esta é Roan, e vim de Polimo, então, segundo o homem baixinho, já passei de Pássaros. Devo tomar cuidado.

O pássaro caiu em direção ao vale, e continuou sobrevoando-o por alguns minutos. Pousando numa das torres da cidade menor, o pássaro pôs-se a observar o movimento de pessoas. Reconheceu um padrão de vestimenta em algumas pessoas específicas. Uma blusa larga e verde, uma calça no mesmo tom da blusa, um chapéu amarelo e uma arma empunhada. Tinha um distintivo.

Devem ser os guardas da cidade.

Porém, fitando mais atentamente, percebeu que havia um outro padrão de vestimenta. Homens vestindo grandes uniformes vermelhos, como combatentes do império napoleônico. Estes usavam botas negras e brilhantes, calças brancas, um chapéu largo e empunhavam armas.

Uma guarda especial?

O pássaro saltou de onde estava e sobrevoou rasante os telhados, vasculhando com o olhar por mais informações que poderia obter. Pousou sobre uma segunda torre de observação, está agora tinha um outro guarda, de uniforme comum. Um pouco mais próximo do muro que dividia as cidades, pôde notar uma grande bandeira pendurada, esvoaçando ao vento. Nela podia-se ler: "Queimem o rato! Derrubem o reinado!"

Reinado?

O pássaro percebeu que havia mais bandeiras próximas das muralhas. Quando fitou com atenção, notou que não eram só bandeiras, eram placas, tochas e várias outras coisas. Saltou de mais uma torre para pousar em outra, podendo tem mais noção do que acontecia.

O que viu, pareceu-lhe uma revolta. Grande parte da população, empunhando estacas e tochas, erguendo bandeiras e placas, avançava contra um grupo de guardas. O grupo de guardas era constituído pelos guardas de vermelho e os guardas comuns. O grupo de revoltosos, pareciam somente cidadãos.

O pássaro resolveu cair sobre uma sacada, onde havia um homem que apenas apreciava a paisagem, ignorando a revolta logo em baixo.

— Ei.

— O que? — O homem voltou-se para os lados, fitando por fim o pássaro.

O homem, lento e hesitante, o fitou com estranheza.

Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora