Nenhum dos meninos sabia dizer por quanto tempo caíram, nem a altura que despencaram, mas o que parecia mais estranho era como Olip havia parado lá embaixo com menos machucados.
— Fui me agarrando pelas raízes. Essa ladeira foi bem inusitada. — Ele sussurrava, fitando um ponto que julgou ser Slim.
Os meninos haviam descido quase trinta metros, o que causou em Slim leves machucados na face e nos braços, e um tornozelo torcido. Berno não se safou dos ferimentos, pois seu braço havia sido arranhado por entre raízes e galhos, e sua perna sangrava um pouco pelos inúmeros arranhões.
Em Olip, apenas o curativo do disparo que havia recebido na orelha, e um talho superficial que corria do queixo à bochecha direita.
Juntos, os três meninos agonizavam, imersos na escuridão quase palpável da noite. Olip talvez acreditasse que já não tinha mais medo do escuro.
Acreditaram, por um segundo, que estavam à sós novamente, porém, algo cortou o silêncio como uma faca muito afiada. Um outro disparo, um tiro seco que ecoou pelo céu, encheu Olip, Berno e Slim de pavor. Enfim, puseram-se a correr novamente. Slim apoiava seu peso quase todo nos ombros de Berno, enquanto Olip havia pegado dessa vez a arma de Berno. Olip agora fazia pequenos movimentos como olhar de relance para trás, através das árvores escuras da floresta, enquanto mantinha-se atento ao caminho pela frente.
— Já está carregada, é só puxar o gatilho. — Disse Berno, enquanto quase que arrastava Slim por cima de uma raiz alta.
Olip não apenas ouvia os seus passos e os de seus amigos, mas também outros que moviam-se pela mata, ferozes, ágeis, violentos e imprevisíveis. Galhos estalavam, folhas eram arremessadas e pedras eram lançadas. Não parecia que estavam sendo perseguidos por dois ou três, e sim dez, vinte, e talvez tivessem um touro com eles.
Olip tinha um impasse dentro de si. Se atirasse, talvez revelaria sua posição, porém mostraria que estavam armados, e se não atirasse, continuariam a persegui-los.
— Olip, vai! — Berno sussurrou.
A visão era completamente limitada agora. Tudo o que conseguiam enxergar era aquilo que as árvores permitiam mostrar, pois a floresta tornou-se tão densa, que a própria luz da lua adentrava com dificuldade. Isso era bom, mas também, muito ruim.
Olip decidiu-se. Apontou o cano da arma para trás, para onde ouvia perfeitamente passos descompassados, passos que quebravam galhos e esmagavam folhas.
— São crianças!
— Melhor ainda!
— Lembra o que Aran disse?
— O que?
— Que tinha três crianças...
— E você acha mesmo que nós as acharemos assim?
— Calem as suas bocas e continuem! Eles estão bem à frent—
"POW"
O disparo ecoou como uma trombeta.
Houve um grunhido.
O único som possível fora dos passos dos meninos.
Os demais, cessaram.
Berno agachou-se para passar por debaixo de um galho. Olip saltou uma raiz que se projetava a um metro do chão. Slim afastava as folhas do caminho com as mãos. Berno precisou se agachar mais ainda para atravessar um buraco feito naturalmente pela junção de dois troncos. Slim o acompanhou, apoiando as mãos à casca da árvore. Olip ainda apontava o cano da arma para a escuridão, enquanto caminhava lentamente para a passagem de troncos.
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Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]
AventuraO que a perda de um ente querido pode causar a um ser humano? Olip Maut, um menino de 12 anos, precisa lidar com as consequências da morte de seu melhor amigo, e enquanto isso, Olip irá trilhar um caminho por um mundo inteiramente novo e, por ve...