Harrison e seu companheiro adentravam cada vez mais a mata, com um único objetivo sendo contado de minuto a minuto, a joia.
O companheiro passava um longo tempo, as vezes num grande monólogo, argumento sobre como a joia estaria extremamente bem guardada, num cofre de titânio, com uma senha dificílima, no meio de vinte guardas superexperientes, e estes vinte estariam no meio de outros cinquenta guardas. A imaginação crescia e frutificava como a flor desabrocha na primavera.
Harris, ainda mancando por conta do ferimento, mantinha-se a fitar o pássaro. O falcão, de penas cinzentas, olhava para o ambiente com desinteresse. O aperto das garras no antebraço de Harris havia deixado de ser um incômodo.
— Bem, meu amigo, não posso negar, é bom te encontrar — Harris sorriu, acariciando a cabeça do falcão — Seria ótimo se você pudesse me dizer o que vê lá de cima.
— Pronto. Agora está conversando com ele! Quer uma pedra para fazer um par?
Harris e o companheiro prosseguiam esgueirando-se pelo caminho ao redor das árvores. A caminhada tornava-se cada vez mais difícil por conta dos inúmeros galhos que se projetavam de todos os lados, alguns até os arranhavam. Harris gemeu quando sentiu a ponta de um raspar-lhe o machucado. De vez em quando, o companheiro de Harris tornava-se distante, como se sua voz se afastasse rapidamente, e sua presença também. Harris sentia que estava a um passo de desmaiar, ou de alucinar.
Harris e seu amigo continuaram por mais alguns minutos, e então decidiram mudar de curso, virando para a direita. Chegaram em uma praia. A areia era tão clara quanto a outra em que estiveram no dia anterior. Harris descansou um pouco mais, sob a sombra de uma palmeira, enquanto seu amigo fazia planos desenhando na areia com um galho pontudo.
— Seis cães. Mil arqueiros. Trezentos cavaleiros...
Depois, retornaram para a floresta. Num determinado momento, Kiven, o falcão batizado por Harris, se debateu em seu antebraço e alçou voo, seguindo em direção oeste. Eles decidiram seguir em terra a direção de Kiven e, num determinado momento, chegaram ao que parecia uma clareira. Harris passeou com o olhar, notando a presença de uma cabana simples, no meio das árvores. Havia uma fogueira a alguns metros da porta, onde uma panela pesada e alta repousava sobre estacas.
Sentiram uma euforia se apossando, mas, de súbito, algo lhes acometeu, um sentimento de indecisão. Na verdade, Harris estava indeciso, já seu amigo, desconfiado.
— Certeza que é uma emboscada.
— To morrendo de fome — Disse Harris.
— Não seja idiota! Eu não aceito comida de estranhos, e você também não!
— Mas... eu to realmente com fome!
— Eu te conheço como eu me conheço, não tem a menor chance de batermos nessa portinha e "olá senhor ou senhora! Teriam como me fazer um pratinho de sopa para eu almoçar?" Ah! Dalton! Pelas barbas de meu pai, não sejamos estúpidos!
Antes mesmo que pudessem fazer algo, a porta se abriu lentamente, revelando uma figura esquelética e idosa, que segurava uma xícara. A velha senhora era muito baixinha, usava uma camisola azul, e tinha um cabelo com fios grisalhos. Sua face era completamente enrugada, e seus olhos eram muito pequenos.
— A quanto... tempo... não vejo... um homem...
Harris franziu o cenho, acompanhado de seu amigo.
— Mas... o que está fazendo aqui?
Harris ponderou alguns segundo, fitando os dedos magricelas da senhora se entrelaçarem na caneca.
— A gente tá numa missão ultrassecreta, tudo bem? Não daremos informações adicionais. Só queremos sabe—
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Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]
AventuraO que a perda de um ente querido pode causar a um ser humano? Olip Maut, um menino de 12 anos, precisa lidar com as consequências da morte de seu melhor amigo, e enquanto isso, Olip irá trilhar um caminho por um mundo inteiramente novo e, por ve...