Capítulo 22

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— Você precisava ter visto, ele foi incrível!

— Deve ter sido mesmo, eu acredito nele.

— Tadinho, deve estar cansado até agora.

— Cansado? Esse garoto vai para a marinha! Ele é incansável.

Olip ouvia-os conversando na sala de jantar. Suas vozes estava distantes, como se ecoassem em uma caverna.

— Tente apoiá-lo, está bem, Pai?

— Vocês estão confundindo as coisas... quem mais apoia ele aqui sou eu!

Olip começara a descer as escadas, de forma lenta para que os degraus não rangessem. Se apoiava ao corrimão de madeira, enquanto tentava minimizar a dor que sentia ao andar. Ainda sentia o nariz doendo pelo soco que recebera no dia anterior. Agora, seu avô e seus pais estavam ali para parabenizá-lo, embora não tivesse nem entrado no pódio.

Um frio absurdo o fizera parar na metade da escada. Sentia frio em todas as partes do corpo.

Tateou a blusa e a calça, notando que elas estavam frias, como se estivessem...

Encharcadas.

Abriu os olhos, notando que não enxergava nada agora, apenas uma grande escuridão o rodeando.

Um flash dos acontecimentos das últimas horas o alcançaram, e então uma urgência tomou-lhe controle.

"Morri?".

Olip não conseguia se mover direito, parecia que estava flutuando, e seus movimentos eram um tanto mais lentos. Quando movia as mãos, enxergava bolhas flutuarem por dentre os dedos. Quando movia os pés, bolhas maiores surgiam.

"Eu cai no mar! Eu estou no mar!".

Olip olhou para baixo, notando que seus pés balançavam. Um pânico escalou seus pensamentos. Estava em alto mar, envolto de escuridão, sozinho.

"Eu preciso sair daqui! Meu Deus! Eu-".

Quando o menino fizera esforço com os braços para nadar para cima, sentiu que não surtiu efeito. Olip notou que acima havia uma pequena camada de luz na superfície, como se fosse realmente a superficie do mar. Porém, algo estranho acontecia ali. Nem mesmo estava de noite para haver toda esta escuridão. Nem parecia que estava no oceano, e sim no espaço, flutuando.

De qualquer forma, ainda era aterrorizante.

Tentou novamente nadar, mas seus movimentos só lhe tiravam as forças.

Tentou mais uma vez, e sentia os braços já queimando.

Havia muito ali para entender, e gradativamente o pânico dava lugar à dúvida.

"A quanto tempo estou aqui?".

Sentia que prendia a respiração, mas, de alguma forma, não sentia os pulmões queimarem. Definitavamente estava envolto de água, mas, tirando isso, não parecia que estava se afogando.

Ouviu, como um eco distante, o som de uma explosão logo acima. Aquilo lhe dispertou do estado de inércia e dúvida que começara a germinar. Tentou mais algumas vezes se debater, entretanto, nada ainda acontecia.

Por fim, Olip tentou tomar impulso, quase como se buscasse força para dar um longo salto, e então empurrou, batendo os pés como um nadador. O ato produziu um minimo efeito, sentiu que se movera.

"Eu".

Olip tentou mais uma vez.

"Tenho".

Outra vez.

Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora