O caminho revelou à Olip que, após a floresta e a mata alta, um vilarejo estranho vivia ali. Distante, só conseguia enxergar algumas poucas construções, mas à medida que se aproximava, pôde notar como cada construção era diferente das outras. Olip notou que as pequenas casas, de um andar, eram pintadas com os mais diversos tons de cores, talvez por falta de renda. O menino andou mais um pouco, atravessando algumas plantações, para enfim se ver sobre uma rua calçada de pedra.
O vilarejo estava estranhamente silencioso, o que fez o menino pensar que fosse uma vila fantasma. Olip prosseguiu, à passos vacilantes, em frente, na direção de uma fonte de pedras negras, no centro de uma rotatória. Teriam veículos automóveis naquele lugar? Não, eram muito caros para isso. A vila parecia interiorana, tinha cheiro de mato e água salgada.
Olip imaginava se haveria população ali, devido ao extremo silêncio, mas enfim notou um pouco de movimento humano. A alguns metros à frente, numa venda de frutas, uma mulher muito idosa descascava uma maçã sem pressa. O menino tentou se aproximar, mas a mulher correu para dentro de casa, batendo a porta com força.
"Que pessoa estranha."
O menino continuou seguindo em frente. Notou que as casas não pareciam mais tão diferentes das outras, e na verdade tornavam-se um pouco mais altas, com dois andares. Olip passou por uma placa que indicava que aquela vila chamava-se Polimo. "Essa Polimo tem gente muito mal-encarada" O menino disse após passar por mais um grupo de pessoas que puseram-se a correr.
Andando mais um pouco, Olip viu, numa placa de madeira alta, uma pequena folha rasgada com alguns dizeres escritos, e como tudo ali despertava sua curiosidade, pôs-se a ler.
"Informamos que, após estes grandes e estranhos acontecimentos, Polimo deverá se recolher o mais cedo possível — Conselho de Líderes."
Mais uma dúvida gigantesca se formava na cabeça do menino.
— Hein, está perdido? — Olip ouviu uma voz áspera e fraca aparecer logo ao longe.
O menino buscou com os olhos, encontrando a origem da voz, um homenzinho de pele escura, olhos pequenos, nariz grande, orelhas grandes e lábios grandes. O pequeno homem usava uma roupa quadriculada, e estava sentado num banquinho, numa varada que dava acesso para a rua.
— Sim — Disse Olip, após se aproximar.
— Pois então deve estar com fome.
Olip não havia pensado sobre, mas assim que ouviu o pequeno homem dizer, sentiu um vazio crescer exponencialmente no estômago.
— Vá até o Balde de Escamas, é bem no final da rua, eles até estão precisando de gente.
Olip teria feito mais algumas perguntas, mas o homenzinho fitou um relógio de bolso e se pôs a correr para dentro de casa. Olip continuou até se ver de com uma pequena construção de dois andares, quase uma grande casa, feita de vários tipos de madeira e algumas quinquilharias.
Assim que o menino cruzou os arcos da porta, sentiu-se ser engolido pela atmosfera noturna e claustrofóbica do lugar.
Toda a taverna era iluminada por uma luz dourada bruxuleante, emitida pelos lampiões de ferro e pelas velas nas mesas.
Os indivíduos ali eram no mínimo marcantes.
Olip assim que estacionou sobre um tapete de pele, fitou abruptamente o olhar gélido de um velho homem debruçado sobre um dos balcões. O velho homem tinha o cabelo na altura dos ombros e a barba por fazer, ambos na cor mais gelada que Olip já testemunhou. Esse mesmo homem, tão velho quanto o céu e a terra, esbanjava nos olhos azuis uma carga soturna, e essas características apenas decoravam o olhar vazio dele. No lado oposto ao homem velho, uma mulher estava deitada nos lençóis de um sofá, e ela tinha um copo de vidro preso à mão. A mulher também parecia ser velha, do tipo que conta histórias sobre qualquer coisa, mas sua feição era de amargar, como se guardasse no peito as piores notícias que pudesse dar.
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Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]
AventuraO que a perda de um ente querido pode causar a um ser humano? Olip Maut, um menino de 12 anos, precisa lidar com as consequências da morte de seu melhor amigo, e enquanto isso, Olip irá trilhar um caminho por um mundo inteiramente novo e, por ve...