PRÓLOGO

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Este livro é, sem a menor sombra de dúvidas, fonte de uma revolução marinha, do caos aquático e abissal, de origem tão profunda e escura que o ser poderia sentir a colisão das placas. É das grandes profundezas que o caos emerge, expulsando para a terra a revolução dos oceanos; é nas mais profundas almas que, após o caos e a revolução, o espírito abunda o corpo na paz que excede todo o entendimento.

Não pense, por favor, que uma grande história nasce de um grande ser. Uma formiga poderia explicar, de forma muito mais inédita, a um astrônomo como mapear o céu. O vento poderá cantar sobre as florestas de forma muito mais bela do que um grande e talentoso cantor. Tanto a chuva quanto o frio, a neve, a faísca, o tecido, a grama, a cadeira, o sino, o farol, a tocha, o espelho, a luz e as trevas podem contar-lhe uma história, e tenha certeza de que destes partirão ótimos ensinamentos.

Penso que cada ser, grande ou pequeno, tem algo a dizer, a contar, talvez não com os lábios, mas com o suor e as lágrimas.

É por isso que inicio esta história a partir de uma visão simples, pequena, franzina, curiosa e enlutada. Este é um dos maiores problemas, o luto. Tanto os grandes ou pequenos seres nunca estão preparados para que o caminho siga adiante. A chuva torna-se mais forte, o sol, mais fraco, à noite, mais intensa, os passos, mais lentos, o café, sem graça, o lírio, sem cor, o corpo, sem vida, os olhos, sem lágrimas. A verdade é que as pessoas nunca estão prontas para que algo se perca, muito menos alguém próximo. A alma, malcuidada de sabedoria e entendimento, fragmenta-se, e acopla uma parte de si, de suas memórias e sentimentos, ao ser sem vida no túmulo, mal sabendo que aquele que o era, já não está mais ali.

Estes entendimentos são adquiridos pelo indivíduo que viveu para entender, para aprender. Existem os que aprenderão antes de que a perda aconteça; existem os que aprenderão com a perda, e infelizmente este o caso de nosso protagonista.

— Cruze o caminho mais longo, mais íngreme, mais difícil e mais escuro — Disse o mago, com sua barba prateada rodeando os lábios sorridentes.

— Por que não o mais fácil? Nem o mais rápido ou mais iluminado?

— O processo importa mais do que o final, Tito. O resultado será importante, mas talvez você só esteja pronto depois de passar pelo que o processo tem reservado a você.

— Estou com medo — O pequeno duende torcia os dedos e coçava aos mãos — Medo de me perder.

— O seu coração, se iluminado estiver, será um candeeiro. Você não precisará temer a escuridão, porque conhece a luz, e sabe que ela retornará logo em breve.

O livro colidiu com força contra a porta de madeira, e com um baque, caiu sobre o carpete azulado. As folhas se dobraram e a lombada permaneceu escancarada, virada para o alto.

O menino cruzou os braços com extrema força na altura do peito, com os olhos agora ardendo, enquanto fitava o céu enlutado distorcer-se através da chuva na janela. Estava sentado na cama, envolto de um cobertor branco, embora não fizesse tanto frio, porém sentia-se mais confortável assim. Sentia que era um esconderijo, um local onde nem a luz e nem o som podiam adentrar.

Queria dormir para sempre, queria apagar. Sentia algo dentro de si que era muito ruim, incomodava demais, era amargo... não... era um nada.

A ausência de algo fazia tudo em Olip se descontrolar.

Era como se um buraco negro gradativamente se expandisse dentro do peito dele, consumindo a tristeza, a raiva, a alegria e o medo. Não sabia explicar o que sentia, pois ninguém entendia. Seus pais estavam reagindo de forma extremamente diferente da dele, e isso o incomodava demais, o incomodava num nível de querer gritar de raiva, gritar com todos da família.

Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora