Capítulo 5: O monólogo

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— Você está remando igual uma criança.

Seu remo afundou na água, retornando novamente alguns segundos depois.

— Parece que está com fome.

— Eu estou com fome — Disse o outro.

Alguma coisa muito estranha pairava pelo ar, como se uma explosão surpreendente de ideias afetassem a cabeça de Harrisson. O larápio não fez questão de se preocupar com isso. Seus olhos estavam focados no horizonte, enquanto seu remo afundava, fora do ritmo do outro remo.

Seu companheiro mágico estava ao seu lado, e juntos, remavam loucamente, na intenção de partirem de chegarem a algum lugar.

— Devemos estar perto. Sinto cheiro de ouro!

— Sinto cheiro de sal.

— Cale a boca! Você entendeu o que eu disse.

Nem Harrisson e nem o outro sabiam como eles haviam chegado nessa situação em que estavam. Se lhes perguntassem o motivo, diriam que era o ouro. Se lhes perguntassem como, diriam que era a ganância que os levou até ali. Na verdade, nenhum deles sabia ao certo o que aconteceu. Na verdade, Harrisson tinha a quase desconfiança de nunca ter conhecido o seu companheiro de barco antes.

— E qual é o plano? — Harrisson perguntou.

— Conto depois.

— Depois!?

— É.

— Por que não agora? Estamos sozinhos!

— Tá, tá! Você é realmente muito chato! Seguinte, chegamos lá, roubamos a joia, e damos no pé!

O oceano teria sido mais silencioso se não fosse somente pelos sons dos remos afundando na água. Harrisson fitou o companheiro de roubo, que esse olhava para o horizonte.

— É isso?

— Quer mais?

— Parece simples.

— E é.

— E pode dar muito errado.

— Tudo nessa vida pode dar errado.

— Mas a gente faz o possível para que não dê...

Harrisson olhava agora para o horizonte, desejando com mais avidez que alguma pontinha de terra aparecesse ali. Sentia apenas o estranho desejo de sair da água o quanto antes, talvez pelo seu medo de oceano, que interessantemente estava sendo ignorado até agora.

— Ei, me explica uma coisa?

Harrisson voltou-se para o companheiro.

— Harris né?

— Harrisson Stuart Harrisson.

— É, tá. De onde é isso? — E apontou o dedo indicador ossudo para o peito de Harrisson.

Harrisson baixou lentamente a fronte, analisando a vestimenta que usava. Usava nada mais que calças listradas branco e preto, botas, uma blusa de botões e um roupão avermelhado, com o brasão de um leão. Franziu o cenho. Não fazia a menor ideia do que dizer. Era apenas um roupão que havia encontrado por aí, jogado em algum lugar, ou talvez tivesse roubado de alguém. Não sabia responder.

— Não sei.

— Roubou?

— Provavelmente.

E ambos continuaram remando até avistarem, no horizonte, manchas azuladas que gradativamente se expandiam à medida que se aproximavam. Ambos vibraram de alegria, e o companheiro de viagem mais uma vez dizia "Sinto o cheiro do ouro!"

Além da Coroa e do Nevoeiro [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora