capitulo 12°- "vendida"

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Liana.

O baile foi onde nos vimos e ficamos juntos pela a última vez ,desde então ele não mandou me chamar mais ,embora ele tenha dito que nós não iríamos parar. Eu fiquei melancólica nesse dias, porque por alguma razão eu sentia falta dele,mas sabia que era melhor assim, eu e ele não nascemos pra ficar juntos ,mulher nenhuma merece ser tratada da forma que ele trata. A mãe e a vó de Letícia acabaram descobrindo sobre esse meu caso com ele e eu tive muita vergonha,expliquei o porquê de ter feito e elas lamentaram muito ,disseram que eu deveria ter contado a elas e dona Olga quase chora. Tia Suzane alertou tanto pra mim quanto para Letícia que não deveríamos achar que vida de mulher de bandido é fácil.
-”Quando se namora alguém desse “ramo”,todo mundo que o odeia passa a te odiar também.“- tia Suzane conta. “-A gente saía de casa sem saber se ia voltar vivo. Era muito medo. O tempo todo. E não estou falando só de outros bandidos, não, tem a polícia também.-“ ela conta que no começo, quando o pai da Letícia mudou para sua rua e eles começaram a morar juntos, a relação era cheia de carinho. Ele era muito educado e brincalhão. “-Depois foi se mostrando quem realmente era. Reclamava das minhas roupas, mexia no meu celular, apagava fotos. Quase me bateu. Eu até entendo a menina que quer namorar um traficante. Ela, que não tem nada, de repente recebe um maço de dinheiro pra ir ao salão, pra comprar roupa nova pro baile. E eles são bonitos, sedutores mesmo. Sei que uma das melhores coisa é essa sensação de poder e perigo. E os mimos também,eu amava. Tipo roupas ou então me levava onde eu quisesse. Bastava eu escolher: se quisesse algo ou ir pra algum lugar, ele sempre dava um jeito e fazia minha vontade.... O que vocês têm que entender é que essa é uma embalagem furreca. Isso aí dura só uns dias, não vale a pena!... Depois você vai apanhar por causa de outras mulheres, vai dormir sozinha, vai criar filho sozinha. Eles não são fiéis e ainda podem te envolver no tráfico também. E,claro, você vai ficar lá na cadeia sozinha, porque eles é que não vão fazer visita. Traficante sempre acaba morto ou na cadeia.-” Tia Suzane conta tudo com a tamanha certeza de uma mulher versado que já passou por tudo isso na pele. Mas como eu já havia dito, ela aconselha, mas não se mete nas escolhas de Letícia. Talvez porque ela saiba que se alguma coisa assim começasse a acontecer no relacionamento da filha ,Letícia não se submeteria a continuar.
Eu fiquei de dar o dinheiro a Felipe no domingo, mas acabou que não deu certo e ele estava sem tempo de marcarmos pra ele pegar ,ou Letícia entregar,já fazem quase dois dias que eles não se vêem. Ele me mandou mensagem agora a pouco,dizendo que hoje era o último dia que tio Pedro tinha para acertar a dívida dele na boca de fumo. E que iria descer para a rua principal e pediu que eu o esperasse no beco .
Resolvi tomar meu banho antes porque logo mais iria descer para pista ,vou pegar uma prainha,tentar fugir outra vez do caos que está minha vida ,dado que eu amo muito o mar ele me acalma bastante ,me faz refletir melhor,afinal quem não ama o mar? pela sua imensidão, beleza e força, ele nos inspira, nos relaxa e parece até lavar a nossa alma. Não é por acaso que poetas, músicos e artistas, de todas as épocas, têm usado o oceano como cenário principal das suas obras... O mar é o reflexo dos nossos pensamentos, medos e desejos, as águas salgadas são um infinito de histórias e possibilidades fascinantes. O azul das águas parece sempre cheio de segredos e, muitas vezes, quando olho o reflexo do mar, eu sinto como se estivesse sendo levada a pensar sobre o mundo, os outros e nós mesmos. 'Era como se o mar,com seus infinitos,me desse um alívio de sair desse mundo.'
Tomo meu banho e não molho o cabelo, visto um biquíni preto ,uma camisetinha por cima e um shorts curto na parte de baixo, uma havaianas branca no pé e meu protetor solar no corpo ,o desodorante e pronto. Letícia bateu na porta. Iríamos juntas. Vou abrir e ela não entra,esperando que já fôssemos.
Liana: espera só um minutinho que eu vou pegar o dinheiro. — disse e subi novamente para o quarto, mas não antes de escutar ela reclamar.
Letícia: aí vamo logo Liana, fazem dois dias que não vejo meu pretinho . — ela queixou-se ,referindo-se a Felipe. Ultimamente eles andam muito ocupados mesmo, o morro também está numa movimentação ilimitada ,mas achávamos normal ,mesmo sabendo que o motivo pode resultar em uma invasão, o difícil era saber de quem? polícia, ou bandido. O que também não faz muito diferença, já que em ambas geral vai se esconder pra não correr o risco de morrer de uma bala perdida. Vou até o meu vasinho de planta onde escondi o dinheiro, que eu deixava sempre na janela e percebo que tem um pouco de terra caída para fora do vaso,eu não costumo espalhar de forma que a terra caía. “-Alguém mexeu.-” Constantei de emediato, comecei a procurar nas pressas e nada .
Liana : não,não, não. — falava em desespero enquanto jogava terra para todos os lados. — Não pode ser. — eu dizia incrédula, virando o vaso de cabeça para baixo destruindo a planta inteira. Caí no chão em prantos, eu estava desolada e agora o que eu faria ? foi tio Pedro! com certeza foi ele ,como ele pôde ter sido tão burro a esse ponto ? ele vai morrer, o Thiago vai vim matar ele,meu Deus, eu não tenho mais o que fazer. Peguei o vaso jogado ao meu lado e arremessei com todas as minhas forças na parede à minha frente,de seguida à um grito de ódio,fazendo o vaso quebrar em várias pedaços .
Letícia: o que é isso Liana ? o que aconteceu amiga?—ela perguntou assustada enquanto me olhava no chão.
Liana: ele roubou o dinheiro Letícia. Tio Pedro levou todo o dinheiro, aquele burro. Burro, burro,burro. — disse,dando vários socos em um travesseiro ,tentando diminuir toda a minha raiva.
Letícia: eu não acredito. — ela disse de olhos arregalados,desacreditada. — Meu Deus,e agora ? — perguntou meio que para sí mesma.
Liana: agora ele vai morrer! — disse chorando. — QUE ÓDIOO.— gritei. — É o que ele merece mesmo,morrer. — eu chorava compulsivamente.
Letícia: calma Liana, e se ele tiver sumido ,sei lá fugido com esse dinheiro e não volte mais? — disse,tentando pensar otimista .
Liana: se ele tiver feito ele vai voltar,logo quando ele gastar tudo com drogas e álcool. — disse passando as mãos no cabelo. — O que eu vou fazer agora? — perguntei olhando para ela .
Letícia : falar com o Terror, é a única solução . — disse .
Liana: ele vai querer que eu me humilhe, vai querer que eu volte a ficar com ele e eu não vou ! — disse chorando.
Letícia : mas e agora?— ela também não sabia o que podia ser feito.
Liana: vou mandar ele ir embora caso apareça,vou ajudá-lo a fugir. Caso ele não queira ser morto. — disse , constatando que não tinha outra opção a seguir.
Letícia: ele sabia da existência desse dinheiro? — perguntou .
Liana : acho que não, ele só sabia que eu iria pagar a dívida dele . — falei ,enquanto levantava do chão.
Letícia: ele achou que você já havia pago. Porque não é possível que ele tenha roubando tudo sabendo que era a única maneira que ele tinha de ficar vivo. — ela disse.
Liana: não, não acho que ele tenha pensado isso. Acho que assim que descobriu sobre esse dinheiro já constatou que era o dinheiro que eu tava conseguindo com o Thiago,para a dívida dele. Mas ele é um viciado Letícia, talvez nem ele se importe mais em morrer ou não. Ele já desistiu da vida dele ,hoje foi a gota d'água. — falei. Sentei na cama com as mãos na cabeça, não acredito que foi tudo em vão. Não acredito que tio Pedro vá morrer. Eu sei que ele vai de qualquer forma ,ele mesmo está se matando aos poucos. Mas desse jeito não !eu estou o odiando muito agora por isso,entanto sem dúvidas nenhuma não quero que seja com a vida que ele pague. Como eu vou conseguir viver com mais isso?com a cena de alguém da minha família sendo assassinado,se repetindo outra vez?
Liana: O pior é que eu não posso fazer nada,somente esperar e torcer que ele não apareça amanhã por aqui e que se aparecer,dê tempo pra fugir de vez .— falei apreensiva.
Letícia: vai tudo acabar bem ,você vai ver ,ele não vai aparecer . A gente vai encontrar Felipe agora e vamo contar o ocorrido. Vamos perguntar também se ele não viu teu tio pelo o morro hoje. Se ele esteve provavelmente Felipe vai saber.— disse .
Liana: minha ansiedade vai atacar ,porque eu não posso fazer nada, só sentar e esperar pelo o pior. — falei preocupada.
Letícia: O pior não vai acontecer ,vai ficar tudo bem. — disse respirando fundo ,nem ela estava acreditando no que acabara de falar. — Vamos . — chamou e a gente saiu de casa ,Felipe chegou assim que chegamos no lugar marcado e eu contei à ele ,que não ficou nada feliz com a história . Ele parecia preocupado comigo, sabia que agora Thiago poderia mandar matar tio Pedro e isso vai mexer em muito dentro de mim. Felipe disse que não viu meu tio pelo o morro hoje e eu pude respirar um pouco mais aliviada . Eu e Letícia continuávamos seguindo para a praia ,eu estava sem vibe nenhuma, mas acho que era bom que eu fosse ,me faria bem . Pegamos ônibus e assim que chegamos fomos para uma parte mais vazia da praia ,onde Letícia estendeu a canga no chão. Nós tiramos a roupa,ficando de biquíni. Eu sentei e fiquei observando o mar e a paz que nele transbordava junto a brisa fresca que caía sobre minha pele. Assim que sinto o cheiro e olho aquela imensidão de água e mundo,meus olhos enchem de lágrimas . Em outra vida, posso ter sido uma sereia, pois minha atração pelo mar é algo muito forte. Meu coração bate do jeito certo quando ouço o barulho das ondas, e o mistério que ele guarda consigo me intriga. A imensidão infinita do horizonte me faz lembrar que meus problemas não são tão grandes assim, e a calmaria e a umidade do ar me fazem renovar a alma toda. Nada me revitaliza tanto quanto o mar! Mesmo sem mergulhar, vou profundamente dentro de mim. Eu poderia ficar horas apenas olhando para o mar, e quem me vê pensa que não estou fazendo nada, mas, dentro de mim, estou organizando tudo. Aos poucos, vai me dando uma sensação de paz, como se toda a bagunça dos meus pensamentos desaparecesse. Eu queria poder ficar aqui para sempre e não ter que voltar pra minha realidade . Eu deixei que algumas lágrimas rolassem enquanto Letícia molhava os pés na água . Era fim de tarde,o sol estava quase se pondo ,o céu estava lindo . Eu e Letícia mergulhamos uma vez e fomos até a barraca tomar uma água de cocô e olhar o sol se pondo de lá.
Ainda observando o céu, eu percebo um cara se aproximando da gente,muito bonito por sinal. Era alto,de pele branca e cabelos pretos ,tinha os olhos de cor verde claro e o corpo coberto de tatuagem. Ele demorou o olhar em mim e quando eu olhei ele disfarçou.
***: ô amigo, me vê uma água de coco geladinha,por favor. — ele pediu. E daí ele continuou a me encarar,ele era tão bonito que eu estava sem jeito, se fosse feio eu não estava .
Liana: perdeu alguma coisa aqui ? — perguntei depois de alguns segundos,dado que eu já estava incomodada.
***: talvez. — ele disse me olhando com fascinação. Eu olhei para Letícia para saber se ela estava prestando atenção nisso. E ela estava segurando o riso .
Liana: como ? — perguntei de sobrancelhas arqueadas. E ele sorriu ,na medida que no mesmo estante eu senti algo no peito ao ver o sorriso dele ,acho que meu coração deu uma acelerada . O sorriso dele era deslumbrante .
***: desculpa te falar isso do nada, eu nem te conheço. Mas é que eu te achei tão bonita . — ele disse ,mas com o olhar meio que perdido em mim ,no meu rosto . — Nunca tinha visto alguém com um rosto tão angelical. — ele disse, deslumbrado . Eu fiquei vermelha no mesmo estante e queria correr, me esconder. Fiquei sem palavras,olhando pro rosto dele sem acreditar que aquele cara estava me elogiando . Só voltei ao normal,saindo do meu transe quando senti Letícia me enfiar um beliscão no braço em excitação,esperando que eu responda o cara .
Liana: o-obrigada. — foi a única coisa que eu consegui falar,antes de desviar meu olhar para a vista ,disfarçando .
***: e com vergonha é ainda mais…— ele continuou e Letícia arregalou os olhos ,de seguida tomando a água de coco,disfarçando o sorrisinho. Ela com certeza está eufórica e estava para gritar de animação.
Liana: é … eu tô ficando sem jeito. — sorri pra ele ,sem graça,colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha .
***:Lucas . — disse tomando a água de coco dele e desviando o olhar para o mar.
Liana: oi ? — inquiri confusa. E Letícia não conseguiu segurar o riso,fazendo com que o cara também emitisse um risinho. Olhei para cara dela à repreendendo com o olhar. Eu já estava com vergonha e ela ainda faz piorar .
Lucas: me chamo Lucas. — disse me olhando e sorrindo.
Liana: Ah… — disse ,corada. — Liana ,me chamo Liana. — completei depressa dado ao meu constrangimento de parecer uma retardada. — Prazer conhecer. — disse sorrindo simpática e Letícia me olhou de canto, pressionando os lábios para não rir .
Lucas: o prazer é inteiramente meu . — ele disse ,agora com um olhar diferente,enigmático. Ele começou a jogar conversa fora com a gente, puxou papo com Letícia também e em poucos segundos nós estávamos rindo e descontraindo com ele. O cara além de bonito pra caraca ,era sedutor,simpático,fino,gentil,bem-educado, super gente boa e engraçado . Ele me xavecou umas duas a três vezes no meio de papos e risos. Porém foi incrivelmente modesto, ao mesmo tempo que após fazer algumas cantadas discretas ele me olhava ,com meio sorrisos. Juro, extremamente atraente. Ele disse que morava aqui na pista ,em um bairro de classe média. Falou também que estava de férias por aqui ,mas que logo voltaria para os trabalhos dele nos Estados Unidos. Disse que fica de lá e cá o tempo inteiro. Perguntou também de onde eu e Letícia éramos e se era muito perigoso: “-o Alemão é muito perigoso? muito vigiado?-”
“-nunca pensei em ir visitar ,mas de repente seria uma boa conhecer lugares novos . "- Você podia ser minha guia de turismo ,o que você acha?“- “-Se o seu namorado não se importar claro.-” Incrível como homem faz um giro de trezentos e sessenta graus para poder te perguntar se você namora.
Liana: eu não namoro e você? — sim,eu perguntei mesmo.
Lucas: não não. — disse.
Letícia: eu namoro. — disse em tom sarcástico,dado que a gente não estava dando atenção à ela na conversa.
Lucas: é , eu sei ,percebi pela a aliança. — disse natural e descontraído .
Liana: a gente tem que ir Lucas ,está ficando tarde. — eu disse.
Lucas: certo… Toma aqui. — falou, me entregando um cartão.
Liana: o que é isso? — perguntei olhando o cartão curiosa .
Lucas: meu número. Quero voltar a falar com você! posso? — perguntou me olhando com olhar questionável.
Liana: vou pensar. — disse sorrindo, o olhando. E ele abriu um sorriso enorme ,dado que pela a minha cara ele sabia que eu o chamaria.
Lucas: vou estar esperando, ansiosamente. — disse me olhando nos olhos,com um sorriso de orelha a orelha. Balancei a cabeça em afirmação, ainda sorrindo, meio tímida,enquanto eu e Letícia nos distanciávamos dele. —A GENTE SE FALA. — ele gritou de longe e eu olhei para trás sorrindo abertamente, fazendo um sinal de joinha,mostrando concordância.
Letícia: amiga o que foi issooo? — Letícia perguntou eufórica, dando pulinhos de alegria.
Liana : caraca Letícia, eu nem acredito. — falei boquiaberta .
Letícia: não acredita no que ? que um cara como esse te deu mole? pois ele te deu amiga. Não só deu como ainda passou o contato ,ele vai te chamar pra sair. — disse contente.
Liana: e o que eu vou fazer se ele chamar? — perguntei agora preocupada.
Letícia: como assim não sabe o que vai fazer ué? vai sair com ele,né? mas é óbvio! — disse.
Liana:eu não tenho cabeça pra isso agora . — disse ,enquanto seguíamos para o ponto de ônibus. Já no morro eu estava meio apreensiva de chegar em casa ,com medo de encontrar tio Pedro por lá, drogado, ou até mesmo ainda pior ,morto . O dia que virão atrás dele será amanhã e eu desejo de verdade que ele lembre que não pode circular por aqui em hipótese nenhuma,à não ser se for trazendo o dinheiro de volta,coisa que sem dúvidas não tem chance de acontecer. Antes de subir para casa eu e Letícia procuramos Felipe outra vez, eu precisava perguntar de novo por tio Pedro, saber se não viram ele pelo o morro hoje. E graças a Deus a resposta foi não,talvez ele realmente tenha fugido. Mas ainda assim estou apreensiva, com o coração na mão, como se sentisse que algo ruim está por vim. Entro em casa e felizmente estava tudo como eu deixei,nem sinal dele. Amanhã tenho aula e dois dias depois tenho o Enem ,justamente quando tudo está piorando ainda mais. Eu realmente não sei que tática usar para conseguir me concentrar ,eu preciso muito passar.
[...]
Eu estava correndo,correndo com medo de alguma coisa. Eu corria depressa e desesperada ,não parava de olhar para trás. Meu rosto estava lavado em lágrimas e meu coração batia tão acelerado que eu podia jurar que teria um taquicardia. Havia alguém correndo atrás de mim,até que eu me vi em um beco sem saída,escuro e hediondo. Encostei-me na parede e respirava aceleradamente,apavorada mas esperando ver o que me açodava, em meio ao breu . Então em minha frente eu ví duas pessoas,completamente disformes. Mesmo com tamanha opacidade eu consegui identificar aquelas duas figuras,se tratava de um casal, uma mulher e um homem. Estava muito escuro e eu forçava à visão para tentar conhecê-los. E então eu pude ver melhor… eram papai e mamãe ,completamente deformados.
Liana: Mamãe,papai? —estranhei. Coração ainda batendo compulsivamente.
Liandra: Porquê está fazendo isso?—a voz dela era de decepção.
Roberto: você está nos dando desgosto. —a voz de papai era de raiva.
Liana: não. - coloquei as mãos nos ouvidos, tentando não ouvir aquilo ,esforçando-me em pensar que não era real,eles estavam mortos ! — Foi preciso… — eu dizia ainda com as mãos nos ouvidos e olhos fechados. Não conseguia olhá-los,eles eram disfugurados. Aquilo que parecia minha mãe, continha um furo na testa bem onde ela havia levado o tiro. E o que parecia ser meu pai estava com as vestes lavadas em sangue. Eles estavam em estado de decomposição pelo o que parecia,o corpo estava com um número enorme de larvas, gerando um odor muito forte.
— VOCÊ QUEM NOS MATOU. - falavam juntos. E meu desespero foi crescendo conforme o choro.
Liana: não... - chorava.
— Você nos matou... Nos matou...Matou... — a voz deles ecoavam,mas era dentro da minha cabeça, ressoava sem parar.
E eles não paravam. A voz deles ficava ainda mais alta ,era como se a queixa deles estivesse metamorfoseando dentro da minha cabeça,e eu chorava com as mãos no ouvido,era enlouquecedor.
—NOS MATOU...— agora eles gritavam.— TUDO CULPA SUA...— diziam e eu percebo que estavam me culpando pela a morte deles. — AGORA ESTÁ NOS DANDO MAIS DESGOSTO... A CULPA É SUA... SUA.
Liana: NÃAAAAO. — acordei gritando em prantos, completamente atemorizada,estava tremendo muito . E só depois de um tempo ainda respirando aceleradamente, gritando e chorando muito eu me dei conta que não foi real, que tudo não passava de um pesadelo muito, muito horrível. Fiquei mais alguns segundos tentando me convencer que realmente não havia passado de um pesadelo e esperando que o medo passasse. Para só então eu levantar ainda receosa e ir até a cozinha. Coloquei água em um copo e misturei com açúcar,eram seis da manhã, hora exata de me preparar para ir a escola. Fazia muito tempo que eu não tinha pesadelo ,todos os últimos foram quando criança e fazia tempo que não sonhava com um tão horrível quanyo esse. Fiz um ovo mexido e comi com pão integral e café. Me arrumei pra ir para escola e quando encontrei Letícia contei do pesadelo a ela,que assim como eu,também ficou horrorizada. Mas tarde eu fui para o trabalho ,o dia correu normalmente ,mas a noite eu ainda continuei angustiada ,pensando em tio Pedro. Ele não apareceu, mas também não tem como saber se já não estar morto ,jogado em alguma viela. Porém se estivesse eu já deveria estar sabendo. Hoje eu estava tentando dormir cedo,mas não estava conseguindo ,dado que fiquei com muito medo de ter pesadelo de novo,até de ficar sozinha eu estou com medo . As nove eu escuto algo lá embaixo, como se alguém entrando na minha casa ,eu desço com bastante medo para ver do que se tratava e quase morro do coração, quando vejo tio Pedro, ali parado.
Liana: você tá maluco de voltar pra casa logo hoje ? — perguntei indignada.
Pedro: me ajuda Liana, eu preciso de ajuda…— antes que ele pudesse concluir, um chute forte é dado na porta ,como se alguém tentando arrombar. E de seguida, outro chute forte ,esse fez com que a porta abrisse. Passaram por ela dois caras armados ,seguidos de Thiago e Felipe logo atrás, também armados, eu quase desmaio de susto. Eu olhei pro Felipe desesperada assim que eu percebi que o negócio estava sério ,dado que o Terror estava aqui.
Terror: tu tava tentando fugir seu pau no cú?— ele indagou enfurecido. Eu estava com um nó na garganta. — Pelo o teu bem, é bom tu ter essa grana, tu falou que ia arrumar, cadê? — perguntou já colocando a arma na cabeça de titio. E eu olhei pra Felipe de novo ,implorando que ele fizesse alguma coisa . Ele fez um sinal discreto com as mãos, me pedindo calma .
Pedro: eu não consegui arrumar,pelo o amor de Deus me dá mais um tempo ,ela vai arrumar. — ele disse jogando a responsabilidade em mim. Terror demorou o olhar nos meus olhos por um tempo, parece que só agora ele me percebeu ,desesperada e assustada.
Terror: eu quero essa grana agora seu velho desgraçado. Não adianta implorar seu comédia, diz logo ,não tem? — perguntou e titio negou com a cabeça chorando e implorando. — Beleza ,pede perdão a Deus então que eu vou te mandar pra encontrar com ele pessoalmente. — insensível e cruel ,agora destravando a arma.
Liana: Terror por favor,eu tô te implorando . Eu posso tentar arrumar…—disse .
Terror: CALA A BOCA QUE O PAPO NÃO É CONTIGO. — gritou e eu me assustei.
Pedro: eu tenho… uma proposta . — disse trêmulo tartamudeando.
Terror: que mané proposta seu bosta ,eu quero minha grana . — disse e desceu o revólver pro ouvido de tio Pedro,acho que agora ele iria atirar .
Pedro: FICA COM ELA . — ele gritou em desespero e eu o olhei de sobrancelhas juntas ,confusa e incrédula. O Terror fez a mesma expressão e de novo demorou o olhar em mim ,mas eu não consegui ler . —Eu sei que você já tá ficava com ela. Mas toma ela pra você em troca da dívida,ela é sua agora e vai te servir até quando você quiser e…— o cortei.
Liana: você está me vendendo em troca da tua dívida, seu doente? — eu indaguei revoltada e descrente. Meus olhos já cheio de lágrimas ,tamanho era o meu desgosto .
Pedro: você vai ! ou ele vai me matar. — ele ainda concluiu.
Felipe: tu ta vendendo tua própria sobrinha ? ela que tentou fazer de tudo por ti? tu merece ir pro inferno mesmo.— disse enfurecido, já partindo em direção a ele ,mas Thiago fez sinal para que ele parasse.
Terror: eu aceito. — disse impotente , me olhando como se me provocado .
Felipe : Th?— indagou confuso.
Liana: isso não existe . — disse incrédula.
Terror: é uma troca, tu pela a vida dele. Ninguém tá te obrigando a nada aqui,tu faz se tu quiser. — disse ,mas ele estava me obrigando sim ,se não tinha outra saída,se ele não me deu outra alternativa,ele estava me obrigando sim!
Liana: você tá maluco ? como não está me obrigando se você não está me dando outra escolha ? — cuspo as palavras com ódio.
Terror: ninguém tá te obrigando aqui não porra . — ele disse agora apontando a arma pra mim.— Tu vem se tu quiser…— eu o cortei.
Liana: E PRA QUÊ VOCÊ ME QUER ? PRA SER SUA ESCRAVA SEXUAL? — gritei .
Terror: baixa a porra do tom comigo se não eu vou te mandar pra conhecer Deus junto com ele. — disse. — Vou te levar pra trabalhar pra mim. Dona Benê não tá dando conta de tudo sozinha e eu não gosto de colocar gente que eu não conheço pra trabalhar dentro da minha casa. Tu vai trabalhar pra mim e vai ganhar com isso.— eu senti um certo deboche na voz dele nessa parte ,como se tivesse associando a alguma outra coisa ,covarde, escroto. —A dívida vai ser descontada todo mês do teu salário. Mas preciso que tu more lá. — ele completou e eu balançava a cabeça indignada. Mas aí Felipe sussurrou no meu ouvido,mas não antes de eu concluir:
Liana: eu não quero. — disse.
Terror : ótimo, tô doido pra mandar ele pro outro mundo mesmo. — disse colocando a arma na cabeça de titio outra vez.
Felipe: pera aí porra. Pera aí. — pediu a Thiago e depois veio até mim falar no meu ouvido. — Ele vai matar ele ruiva ,isso aqui não é brincadeira, posso pedir pra te levar pra um lugar que tu não escute. — era uma merda ecutar isso, porque por mais que eu quem quisesse agora enfiar uma bala na cabeça de tio Pedro eu não posso deixar. Como eu viveria sabendo que eu podia ter evitado,como eu dormiria em paz? — Tu quer,vamo ? — perguntou.
Liana : E se eu aceitar? — questionei dando-me por vencida.
Felipe: ele fica vivo e tu vai viver uma vida um pouco melhor do que essa . Você também não vai precisar fazer nada que você não queira, nunca . E se caso você precise fazer, você vai me contar antes. — ele sussurrou. Ele estava referindo-se à um estupro ? Terror seria capaz? imagina a guerra que seria uma briga entre os dois . — eu balancei a cabeça em positivo, arrasada . — Sobe e pega algumas poucas coisas ,rápido tá? depois ele manda alguém vim buscar o resto. Não se preocupa, nada de ruim vai te acontecer. — disse por fim e eu subi e peguei uma mochila e fui colocando só o essencial, eu chorava que soluçava a cada coisa jogada dentro da bolsa . Tentei me acalmar quando já precisava descer e escutei de longe ele falar.
Terror : você não compra mais droga na minha favela, se eu souber eu mando te esquartejarem. E paga o aluguel da casa se não eu te jogo na rua. Se eu pelo menos te ver passando perto da boca, eu mesmo te enfio uma bala na cabeça no mesmo instante,se ligou ? — ameaçou. Logo após de um tiro. Eu corri depressa para constatar que ele não o havia matado .
Felipe: bora ruiva . Ele tá de boas ,foi no pé.—disse enquanto eu olhava tio Pedro se contorcendo no chão. Mas pelo o ferimento eu sei que ele iria ficar bem. Andei até ele e o observei ,olhei dentro dos olhos dele,me perguntando como ele pôde ser tão desumano. Eu achei que lá no fundo ,que pelo menos lá no fundo ele poderia sentir uma espécie de amor de pai por mim. Já que para mim ele foi o mais perto de um pai que me sobrou. Mas um pai jamais seria capaz de fazer isso com uma filha.
Liana: você morreu pra mim, hoje . — disse a ele com desprezo e saí, subindo na moto de Felipe em seguida. Fui o caminho inteiro chorando,eu estava desolada.

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