capítulo 17°- "traficante não é vagabundo"

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Terror

Que eu era louco eu sempre soube,mas a maneira que essa menina tá tirando ainda mais o pouco juízo que me restava é fádico,extranatural sem caô. Eu tô ficando chapado na dela. E de verdade tô começando a acreditar que ela deve ser alguma dessas parada de feiticeira,bruxa e tá fazendo magia pra mim. Embora eu não acredite nessas parada,mas com um bagulho desses que tá passando,eu tô começando a pensar em várias possibilidades e só essas ideia de louco faz algum sentido,porque na vida real nada se encaixa. Ela é meio esquisita pra caralho! porque como que uma mina como ela, sem fazer nada, consegue causar a porra desse efeito em mim?não faz sentido. O que me deixa grilado é imaginar que ela me deixou assim por causa de sexo,sendo que já peguei mina muito mais vivida e experiente nisso,ela ainda está aprendendo,pelo o que eu vou ensinando. Porque é isso que eu sinto,desejo apenas,nada além. A gente tem muita química,tudo que a gente faz encaixa perfeitamente bem,é impossível não perceber isso quando a gente se toca. E as vezes penso que é isso que me deixa louco nela. Por eu ter sido o primeiro dela,por saber que fui eu o primeiro ali,e por imaginar que tudo que ela faz de novo foi eu quem ensinei,me trás um sentimento de posse,de domínio,ela é mais minha do que qualquer outra. Eu sei que é coisa de maluco,possessivo, mas foda-se, eu sou mesmo. Eu quero que continuei assim,que ela seja somente minha,que somente eu posso tocar e somente eu possa foder, literalmente. E o fato da Liana não aceitar isso me contraria ,eu não sou acostumado a ser contrariado,a não ter as coisas como eu quero. Porra eu sei que errado,é errado querer que ela fique só comigo e com as condições que eu imponho,não posso tratar a mina assim,como um objeto para sexo, mas é um bagulho que eu não consigo controlar. Qualquer outra mina do morro morreria por uma vida assim comigo,desde que eu assumisse como fiel. Aceitaria minha vida de putaria,em viver com alguém que não à ama,porque isso eu não poderia oferecer a ninguém. Me obedeceria e faria tudo conforme eu mandasse . De troca ela teria a vida de primeira dama,ia ter tudo que quisesse,uma vida de luxo,além de ter à mim é claro. Mas a Liana com certeza não aceitaria e outra mina eu não quero. Quando eu soube que ela tava de papo com um cara na pista, eu fiquei maluco. Soube que ele beijou o rosto dela ,que estavam cheios de papo e sorrisinhos, se eu pego esse maluco eu dou um susto cabuloso ,vai dar rolo pra ela e é fria pra ele,na certa. Fiquei puto em presumir que eles já estavam se encontrando a algum tempo,sem que eu soubesse. E com esses pensamentos em mente, eu fui empurrando droga goela abaixo em mim mesmo. Imaginar que aquela filha da puta tava dando pra ele me fazia sentir vontade de matar ela,ao mesmo tempo que desejava foder a Liana,até que ela me juraci que aquela buceta rosada foi e é, somente minha e que nunca mais ela iria chegar perto de homem nenhum. Eu saí de mim,saí da rédea. Quando eu percebi ela chorando amedrontada na cama dela foi como se um soco no estômago,parecia que não era eu,embora eu fosse acostumado à fazer coisas piores,bem mais cruciantes com pessoas que tentaram me passar para trás. Mas com ela eu nunca pensei. Bagulho de louco o complexo de raciocínio e sensação que me passou ,tanto no momento como depois. Eu desejei matar ela,me senti culpado depois que eu percebi o que eu estava fazendo,quando eu vi o olhar de medo e submissão dela. Mas depois que eu saí do quarto e me acalmei,tomando um banho de água gelada para sair da brisa, eu senti uma espécie de satisfação,ao lembrar do pânico no olhar dela,toda aquela áurea de menininha atrevida e rebelde dela,que eu me amarro e odeio muito ao mesmo tempo haviam sumido. Ela estava enfim me respeitando e por mim pouco importava se era por medo,eu queria ela daquele jeito na minha mão,sujeita a ser dominada,a me obedecer, a ser submissa a mim. Não só no sexo porque nisso ela já era,mas em todo momento.
Felipe também havia ficado puto,porque a mina dele também tava junto e embora saibamos que pode ser que de fato elas não tenham culpa,visto que são duas mina bonita,os playboy vão pra cima mesmo, óbvio. Mas dar condição é vacilação. Sem contar que elas são meninas muito novas,não tem entendimento da hierarquia do crime,porque se sim jamais ficariam de papo com um cara que se aproximou delas na rua,não trariam um cara que conheceram do nada pra próximo do Alemão. Uma é a fiel do Felipe,a outra é amiga e a que eu estou comendo,eles aduzem decerto. Depois da última invasão tudo consta a um possível x9 aqui dentro,mas normal,em toda favela bem administrada vai ter um. Eles precisam colocar para tentarem pelo menos chegar perto da possibilidade de me derrubarem, se não nunca conseguem e não vão mesmo,com a fé do grande. Mas aqui não passa nada,eu tonteio até os meus,porque não se pode confiar em ninguém. Se tiver mesmo algum rato x9 aqui,eu vou achar e vai ser pouca idéia pra ele. Aqui temos as nossas próprias leis,você segue e tudo acaba bem. Chamamos de tribunal do tráfico,e tudo depende do “delito” cometido pelo réu. Espancamento, expulsão do bairro, um corte de cabelo, principalmente no caso de mulheres, e até mesmo uma advertência verbal são outras maneiras utilizadas por nós,traficantes para manter o poder dentro da comunidade. E óbvio nossa lei mais rígida,a morte. Burlar a lei do silêncio, traição, roubo, estupro e até mesmo a desobediência a uma determinação do tráfico podem levar a pessoa a julgamento. Se o nosso tribunal vê que você deixou de atender aos interesses do tráfico, nós aplicamos penas. Eu convoco um grupo dos meus homens de mais confiança, que em geral são os que podem controlar a comunidade também,mas somente depois de ordens minhas, e passamos a impor essas sanções da lei paralela. No dia a dia, os moradores precisam seguir as regras e agir conforme a nossa lei para não se tornar um alvo. Exemplos de coisas que não podem fazer são: dedurar bandido,roubar na comunidade,estupro,racismo e algumas outras coisas mais. Isso dentro do meu morro,aqui funciona assim. Nois age de forma ríspida,mas sempre estipulado, para que tudo ande conforme tem que ser,e para que se mantenha comedido. Aqui ninguém vai obrigar morador a guardar droga e nem armas de bandido em casa,se eu souber de nego oprimindo morador desse jeito e dando o papo de que se a polícia pegar não podem falar nada,vai tomar pipoco sem dois papo.
As oito eu estava de pé e fiz minha higiene de todos os dias,coloquei uma blusa branca do Brasil e um shorts preto,havaianas do pé, desodorante, perfume e desci. Dona Benê já estava aqui.
Terror: fala tu dona Benedita.—disse descontraído. —A bênção?—pedi. A respeito como se fosse minha segunda mãe.
dona Benê: Deus te abençoe meu filho.—disse me abraçando enquanto eu deferia um beijo no topo de sua cabeça.—Você sabe da menina Liana?—perguntou.
Terror: ué, ela não tá no quarto dela?—perguntei de cenho franzido.
dona Benê: até agora ainda não desceu.—falou. E eu saí indo em direção ao quarto da Liana. Abro a porta sem bater e assim que entro não vejo ela,confiro no banheiro e nada dela. Peguei o celular no bolso e enviei uma mensagem.
“—onde tu tá?—” enviei,a mensagem foi entregue,mas não visualizada.
“—Volta pra casa,dona Benê tá precisando de ajuda.—” digitei,mentindo na cara dura mesmo. Ela não visualizou,mas o online dela apareceu.
Terror: filha da puta.—disse,logo após ligar para ela. Chamou chamou mas ela não atendeu.
“—Eu não tô pra brincadeira contigo,se eu souber onde tu tá eu mesmo vou te buscar.—” Alguns segundos e aparece que ela estava gravando áudio.
“—Me deixa em paz Terror. Você ainda não está satisfeito com o que você já fez?—” ela disse na mensagem de voz. E eu percebi a voz rouca. Mas que vacilo.
“—Você pediu por isso.—” eu tive a cara pau de enviar,também em áudio. “—Presta atenção…Eu vou trampar e quando eu chegar em casa eu quero que você esteja aqui, não tô de caô contigo. Você está aqui porque me deve e não vai ser na casa de amiguinha nenhuma que tu vai quitar tua dívida comigo.—” Enviei o áudio. Já deixando claro que eu sabia muito bem onde ela estava. Não esperei mais ela responder e desci novamente.
dona Benê: ela estava lá?—perguntou um tanto preocupada.
Terror: não,ela dormiu na casa da amiga dela.—Eu disse enquanto pegava um suco na geladeira,não costumo tomar café.
dona Benê: a neta da Olga ?—perguntou ocupada com a louça.
Terror: é…acho que é.—é tanta gente que tem nessa favela,dona Benê acha mesmo que eu vou lembrar de quem aquela maluca é neta. —Vou meter o pé dona Benê.—disse enquanto saía comendo um sanduíche que ela preparou.
dona Benê: cuidado meu filho.—falou. Eu segui para a minha garagem e escolhi a minha Naked pra ir trabalhar com ela hoje. Eu me amarro em moto,tenho trinta por enquanto,das mais caras do mercado. Amo andar com uma diferente para cada dia. Me sinto solto, livre quando piloto,embora aqui no morro eu não tenha espaço,dado que a qualquer momento tu pode bater com uma criança, com uma parede, ou com um porte. Como eu sempre digo,se não fosse pela a minha favela eu trocaria tudo que tenho pela a minha liberdade. Poder correr na pista que nem bicho solto,não tem comparação. Minha primeira moto foi uma Harley-Davidson Electra Glide,clássica. Ganhei do meu advogado,que atua na família Trindade desde antes minha mãe morrer. Na verdade mesmo, eu sei que ele era amarradão na minha mãe,por isso vivia me presenteando. Ao perceber meu amor por motos, ele me presenteou com essa máquina aos quinze e desde então eu não parei mais de tentar colecionar. Essa moto desde o lançamento em 1965 até os dias atuais, atrai a atenção não somente dos apaixonados pelas máquinas de duas rodas como eu, mas de todos aqueles que observam o modelo passando pelas ruas,aqui na favela então,geral olha. Em relação a motos eu não sou nada humilde,eu gosto das mais caras do mercado,desde as clássicas as mais modernas. A Harley-Davidson robusta é uma das motos mais confortáveis que existe, principalmente para o garupa que conta com literalmente uma poltrona. O seu design clássico é mantido inclusive nos modelos mais novos, mantendo a moto como uma das mais belas da história. Eu quase não saio com ela e nunca empresto para ninguém,nem mesmo a Felipe,morro de ciúmes dela. De verdade,minha paixão por motos não se explica,só não amo mais que buceta. São muitos anos rodando sobre duas rodas (algumas vezes caído ao lado). Cheguei até a pesquisar sobre o assunto,qual é?eu gosto de estudar,pesquisar,saber o básico de quase tudo. Na ciência não existem relatos sobre os motivos que levam uma pessoa a se apaixonar por outra pessoa, ou carros, ou aviões e motos. Daí eu fiquei sem entender mesmo. Eu tinha dezessete quando eu decidi estudar pela internet sobre motos e, uma vez cheguei mesmo a pesquisar o porquê de eu amar tanto motos,eu era realmente um moleque alucinado,ainda sou,por tudo que me interessa.
Moto faz a gente passar frio, não tem botão pra acionar o vidro elétrico, quando chove, por mais que a roupa seja adequada, sempre tem um lugar onde a água penetra e pelo conhecido fenômeno da capilarização(que a ciência explica), sobe desde a bota até a cintura. A danada é instável e por só ter duas rodas, foi feita pra cair. Mas, insistimos e vivemos tentando equilibra-la. Quando moleque,ainda não conhecido por quem sou,eu ia no asfalto realizar assaltos. Eu não só era o que comandava a operação,como também fazia questão de ser um dos piloto de fuga. O que eu observava muito,era que as pessoas não respeitavam os motociclistas, além de os buracos serem implacáveis e os mosquitos deixarem a viseira parecendo mais um cenário de guerra.
De qualquer forma, o bom mesmo é acelerar, não importa aonde você vá, nem mesmo o destino, desde que seja sobre uma moto. Afinal, de que vale a lógica sem prazer. Se um dia eu morresse em cima de uma moto,eu morreria feliz,livre, e com certeza eu morreria sorrindo. Só não cai quem não anda não é mesmo?
Quando eu chego na boca Felipe já estava,com uma cara de poucos amigos. Comprimentei ele e sentei na minha mesa,observando o caderno de coisas para serem resolvidas. Bem-te-vi é um dos meus homens que organiza tudo que têm pendente para se fazer. O papel dele é me lembrar reuniões importantes e coisas que ficaram prometidas por mim, à serem feitas para a comunidade. Reunião da facção e outras coisas mais. O cara é letrado, estudando e também inteligente , por isso o coloquei na posição que está. Ele anota tudo em um caderno,as datas de coisas que prometi fazer,o morador que tá devendo a boca,o morador que tá devendo aluguel,crianças da rua tal que vinheram em busca de ajuda no crime e nome de pessoas que passaram aqui para pedir ajuda urgente,tudo organizado e feito com diligência,inclusive preciso aumentar o salário dele. Tinha bagulho pendente para agilizar pra ontem.
Terror: tem muita coisa pra fazer.—disse meio que reclamando. Felipe continuava com a cara de poucos amigos dele.—Qual foi ? O que é que tá pegando?—perguntei.
Felipe:tu bateu na mina mano?—perguntou desacreditado e em tom desapontado.
Terror: eu perdi total o controle com ela. E não vai ser a única vez,ela só aprende se for assim,ontem eu percebi isso.—eu disse.
Felipe: qual é Thiago,tá dando pra bater em mulher caralho?—indagou com indignação.
Terror: eu não bati à toa porra.—disse.—Bati pra dar uma lição,a Liana é afoita e gosta de me peitar pra caralho. Ontem eu ajeitei isso nela rapidinho. Nunca mais vai acontecer de novo se ela não fizer mais,se ela andar na linha.—falei.
Felipe:porra mas precisava bater?—perguntou abrindo os braços em sinal de chateação.
Terror: precisava!eu não sabia até fazer. Agora ela tá mansinha.—eu disse relaxando as costas na cadeira.
Felipe: ela tá com medo porra,a menina tá apavorada.—ele disse.
Terror: É pra ter medo mesmo. Qual foi Felipe?!ela tá brincando demais. Ela me afoita o tempo todo,abusa da sorte dela e ainda fica dando moral pra um cara que ela conheceu na pista,e que é corajoso o suficiente pra vim até aqui perto. Quem no Rio de Janeiro não conhece a fama do Alemão? e mesmo assim o cara encarou,erradão isso aí parceiro. Elas colocaram em risco não só elas como a favela toda mermão.—disse agora também com aborrecimento. E ele meio que baixou a guarda dele agora,sabia que eu tinha razão.
Felipe: mas na moral mesmo? Admite que tu fez isso por ciúmes,fez isso porque viu outro cara rondando ela. Tu acha que eu não te conheço viado?tu tomou a mina como uma espécie de propriedade. — ele disse,já interpretando a parada toda,Filepe me conhece muito bem.
Terror: me amarrei nela memo.— admiti.— Ela é uma mina diferente. Mas minha parada com ela é só sexo,e nunca mais rolou porque ela não quer,e se depender de mim nunca vai rolar enquanto ela não me pedir. Sou bandido,mas não estuprador,tu me conhece.—disse já procurando um cigarro de maconha porque eu já estava irritado.
Felipe: sim mano,eu sei…Mas porra,eu prometi pra ela que eu não deixaria tu relar um dedo nela.
Terror: já relei o dedo inteiro depois que tu prometeu e ela que pediu.—disse lembrando da noite que estávamos na cozinha,eu tava louco de vontade dela e usei o machucado do braço pra que ela ficasse ali comigo,pra assim eu conseguir atar e instigar ela,e aquela demônia quem acabou me deixando na tara depois.
Felipe: tsc.—fez um som com a boca,me recriminando.—Tô falando sério parceiro,a Liana não merece isso.
Terror: já te falei que fiz por merecido. Se ela andar na linha não acontece mais.
Felipe: então deixa logo ela livre.—ele disse e eu o olhei,sem saber o que responder, dado que eu não podia deixar ela ir fácil assim.
Terror: ela tá pagando a porra da dívida do tio dela e se não fosse pelo o desacato dela ,ela estava vivendo bem demais,porque ela vive bem lá em casa ,não falta nada.—disse.
Felipe: falta a liberdade dela parceiro.—expressou.
Terror: Felipe na moral,enche o saco não. Qual foi?tu quer que eu faça mais o quê? porra eu não matei o tio dela,não expulsei o zé ruela do morro,passei por cima de uma lei do tráfico, empreguei a mina. Caralho tu me conhece muito bem, tu sabe que esse tipo de coisa não é do meu feitio fazer. Ainda quer mais o quê? tu quer ajudar ela,pode pá, ajuda avisando pra ela manter a postura pelo o bem dela, porque ela já tá abusando da sorte e da minha boa vontade.—eu disse com minha melhor cara de sério,fechado. Ele não disse mais nada,sabia que não adiantava discutir comigo.—Bora trabalhar que o crime não é bombom e tamo chei de parada seria pra resolver.—falei,entregando algumas anotações pra ele avaliar. Chamei o Bem-te-vi também,dado que é ele quem orgazina as parada ,vamos ter uma mini reuniãozinha de negócio.
Primeira coisa que eu observei, muitas pessoas pediam ajuda financeira,era pra vazamento em casa,remédio, roupa ,era zé pedindo ajuda pra levantar casa,gente pedindo emprego,criançada menor de dez querendo entrar pro tráfico. —Porra,tá precária assim a situação?—disse ainda observando as anotações.
Bem-te-vi: tem gente desesperado patrão. Pedindo ajuda todo dia. —ele disse e o olhei de canto,me perguntando o que é que eu tô fazendo com tanta grana se não ajudando o meu povo.
Terror: a firma tá rica,tá na hora da gente ajudar quem merece.—disse fazendo um movimento com a cabeça,pedindo a opinião de Felipe.
Felipe: também acho,mas tem que avaliar quem realmente precisa,não quem tá ali na cena só querendo extorquir. —disse e eu balancei a cabeça em concordância.
Bem-te-vi: A gente não pode tá entregando dinheiro de graça também,não funciona assim. Eu já pensei em um jeito.—falou.
Felipe: então solta a voz cabeça.—disse e eu fiz sinal para que ele continuasse.
Bem-te-vi: vamo fazer uma espécie de empréstimo,organizado conforme as diretrizes da favela. A gente pode anunciar no morro a parada e vamos espalhar papéis numerados e assinados com as siglas das pessoas que o patrão escolher pra anteceder do domínio da comodidade. — o cara era inteligente e articulado.
Terror: como ia funcionar essa parada desses papel aí? —perguntei,dado que queria entender como que íamos conduzir uma espécie de empréstimo em uma folha de papel qualquer.
Bem-te-vi: vai funcionar como um empréstimo normal.—ele disse.
Felipe: ninguém nunca fez empréstimo aqui não zé.—comentou e a gente riu.
Bem-te-vi: vamo distribuir papel pros que precisarem do empréstimo e vamo chamar essa folha de Vale. Vamo precisar escrever alguma coisa pra ficar um bagulho mais elaborado e organizado.—disse.
Terror: a firma é rica e o patrão ajuda quem merece.—falei.
Bem-te-vi:pronto será essa! vamo enumerar esses papéis,pra não virar bagunça e tem que ser assinado pelo o patrão.—eu balancei a cabeça em concordância.
Terror: vai passar por vocês dois primeiro.—comecei a concluir na medida que fui entendendo a parada.—Vocês vão ficar responsável pelo os pedidos do Vale. Vão enumerar e colocar a sigla de vocês. Tu.—apontei pra Felipe.—FP,e tu.—apontei pro outro.—BTV.—Só vou assinar Vale de gente se tiver numerado e com as inicias de um dos dois. Então atividade no bagulho e cuidado pra não fazerem errado e da b.o. Tem que ser direitinho pra não ficar muita coisa pra minha cabeça. Depois da minha assinatura a demanda é aceita e aí nego vai descer com o vale pra boca2 e lá eu vou deixar o Lulu responsável pela a entrega do dinheiro. Vão sacar o dinheiro com ele.—Lulu era o responsável por fazer a contagem do dinheiro da boca. Menino é bom no cálculo.
Bem-te-vi: isso, você vai escrever também o valor concedido certo?parada importante.—disse e eu assenti.
Felipe: aí como funciona, eles não devolve depois?—perguntou coçando a cabeça, confuso.
Terror: não, jumento. Funciona como um empréstimo bancário normal. Vai ser tipo um contrato firmado entre o morador e a boca de fumo entendeu? a gente da uma data predeterminada pra eles pagarem o valor que eles pediram,eles vão devolver o dinheiro emprestado depois. Só que parcelado se liga?pra caber no bolso do pobre. Se passar da data e nego não tiver pago a parcela,vai correr juros, e aí a boca recebe o principal mais os juros.
A gente organizou no computador como ficaria o papel,para mandar logo imprimir. Ficaria em primeiro: “Vale de empréstimo” logo abaixo a frase dita como motivo da idéia do Vale. Precisaria do nome completo da pessoa,o número da rua e o da casa. Vai ter a opção dos “antecedentes” que será onde ficará a siglas do Felipe, ou do Bem-te-vi. Depois "autorização” onde eu terei que firmar,sou eu também quem vou assinar o valor e em quantas parcelas o morador pedir. O motivo do empréstimo também tem que ser acrescentado ao Vale. Depois desse processo nego desce pra boca2 onde Lulu vai analisar o Vale e vai entregar o valor do saque pedido,ele também tem que assinar e carimbar. Vamo agilizar carnês para que o pagamento seja organizado. Acabamos de resolver a parada do Vale e já mandei que fosse avisado à comunidade. Depois voltei a olhar as anotações,e fui riscando o que já íamos resolvendo.
Terror: reunião da facção pra dia vinte,fechô?—questionei a eles.—Vamo fazer o encontro no Clube da Rocinha,como esperado.—o clube da Rocinha era grande, bem vigiado e discreto,sofisticado ,não tinha como ninguém chegar até nós. Por isso todos os agrupamentos mais importantes,no caso sempre negócios sobre a facção,eram realizados lá. Era negócio altamente sério,dado que só os maiores caras associados ao tráfico estariam lá. Dentre eles chefes de milícia,líder de outros morros, o representante da mafia italiana-‘Ndrangheta,e o de Los Zetas – máfia do México. Evento crucial para a facção,negócios e mais agregação e união entre nós. Cerimônia que inclusive,requisita elegância e acompanhantes,todos iam acompanhados por suas esposas,ou por alguma mulher. A primeira vez que fui a uma reunião depois de solto,levei Taynara,dado que ela havia feito muito por mim. Mas não a levo mais,pois era algo que exigia não só educação como também postura.
—Já foi agilizado o abrigo?—perguntei quando eu vi anotações de menores de dez anos pedindo para entrar para o tráfico.
Felipe: já tá pronto pra inauguração.—disse.
Terror: beleza,vamo fazer um churrasco como inauguração. Apartir de agora menor de dez anos não atua mais como aviãozinho,só estuda. —passei a ordem. Mandei que construísse um abrigo para crianças abandonadas ou em situação de abandono,muitas vezes os pais usuários deixam os filhos passando fome. O lugar que oferece resguardo e proteção vai abrigar crianças e adolescentes em situação de abandono. E apenas moleques acima dos treze vão poder escolher se querem entrar pra vida,e começarão apenas como aviãozinho ou olheiro. No abrigo será fornecido água,comida,cama,roupas e estudo,para todos. Aos dezoito eles tomam o rumo que desejarem. —Amanhã na meia noite eu quero todos os representantes da comunidade reunidos na boca2. Vamo tratar de problemas de convivência e também impor as regras da facção. É para ajudar a manter o tráfico, como um esquema de trânsito especial para que a gente possa chegar logo a locais mais seguros em caso de invasão policial. Vamo tratar de outras coisas para manter a ordem também, como estipular horários para o comércio e a conduta dos moradores.
E assim foi o resto do dia,nem fui para casa,almocei por aqui mesmo, dado que hoje o trabalho estava puxado. É parceiro, é como eu disse,isso aqui é uma empresa,traficante não é vagabundo.

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