capítulo 14°- "você mudou alguma coisa na minha vida monótona"

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Liana.

Sim,eu havia sido vendida pelo o meu próprio tio. O que sinto agora ,além de repulsa por ele,é uma sensação cruel de não ser amada de verdade por ninguém. Todos nós precisamos sentir que somos amados. É quase tão importante quanto comer ou dormir: uma necessidade fundamental. Quando você tem a sensação de não ser amado, acha que ninguém se importa o suficiente com você,é como se você ficasse privado do alimento da vida. A sobrevivência física depende da alimentação e do sono, e a sobrevivência emocional depende do afeto. A sensação de não ser amado de verdade vem de diferentes fontes. Inicialmente, é uma verdade que todos os seres sentem. Ninguém nos ama perfeitamente. Até os amores mais profundos e sinceros, como o das mães, são imperfeitos e incompletos. Isso segundo estudos,porém eu me sentia absurdamente amada pelo os meus pais e por mais que também me sinta por Letícia,dona Olga e tia Rosana,tenho a certeza que não é um amor que eu idealizo. E tá tudo bem ,porque percebi que se você idealizar em excesso o amor, pode acabar concluindo que ninguém o ama de verdade porque ninguém está disposto a dar a vida por você. Ou porque eventualmente as pessoas cometem erros e não estão sempre disponíveis quando você precisa. Quem ama com carência afetiva exige mais amor do que os outros podem dar. Como as minhas expectativas são muito altas, acabam não se realizando. Assim,sinto-me constantemente desapontada.
Às vezes você pode ter a sensação de não ser amado porque, simplesmente, não consegue construir vínculos de afeto verdadeiros com as pessoas. Talvez você se esconda sob a sua pele ou se isole. Talvez você não saiba como construir e manter os laços de afeto. Então, você se sente preso em uma solidão que machuca, em um desafeto que dói. Acho que esse é o caso de Thiago. Geralmente quando você sente que ninguém o ama, esse “ninguém” também inclui você. É relativamente fácil perceber que sua autoestima está no chão. Também é fácil dizer: “Bom, agora preciso gostar mais de mim mesmo”. O difícil é transformar isso em realidade,que é o que eu venho tentando fazer. A questão não é que eu não queira me amar ,apenas não encontrei uma maneira mais fácil de fazer, dado que já melhorei muito ,porque antes era bem pior. A falta de apreço por si mesmo não nasce do nada. Por trás desse sentimento, há um histórico de desafetos que, às vezes, incluem abandono ou agressões violentas. No meu caso ,um dos motivos mais prováveis que podem ser encontrados por trás dessa sensação de falta de afeto por mim mesma é que durante os primeiros anos da minha vida,não literalmente os primeiros na verdade ,os que eu ganhei depois que vim morar com tio Pedro. Me foram apresentados a falsos argumentos, muitas vezes disfarçados de inocência. De uma forma ou outra, me foi transmitida a ideia de que eu não valia a pena. De que eu não era suficientemente digna de amor. E como vemos isso pode só piorar agora ,porque Thiago me faz sentir igual a pior, já que ele só me procura para sexo. Óbvio que nisso antes eu também era um tanto receosa: ele tão acostumado com mulheres cheia de curvas e grandes e eu por mais que gostasse do meu corpo me sentia insegura,dado que nenhum homem tinha me visto tão exposta antes,como eu fiquei para ele. Thiago era muito experiente e eu não sabia fazer nada. E agora o que já sei foi ele quem ensinou. Mas ele me faz sentir tranquila e confiante quanto estou exposta para ele ,dado ao que consigo notar,me sinto extremamente poderosa quando percebo que uma pirralha como eu ,consigo despertar o que disponho em um homem como ele. Porém, eu não gostaria de me sentir atraída apenas dessa forma. Então apartir de hoje será assim,eu não vou deixar ele tocar um dedo em mim quando ele me procurar, mesmo que ele tenha dito que não fará se eu não pedir ,mas sei que quando ele chegar drogado duvido muito ele nao vim até mim. Pode sim até acontecer,mas somente quando eu também quiser usá-lo para sexo.
Falei com dona Benê pela manhã antes de sair para o colégio, expliquei para ela porque eu estava aqui e confesso que as vezes fico surpreendida com a singeleza dela para com as atitudes dele,pois ela acreditou que ele era tão bom menino e que por isso estava fazendo isso por mim. Sendo que na verdade mesmo,estou aqui praticamente contra minha vontade e ele pintou como se não,para ele mesmo também. Como se eu tivesse escolhido estar aqui por causa do meu tio e que ele não compeliu para isso em nenhum momento. Como eu odeio a petulância e o desrespeito dele para comigo. Ao mesmo tempo que tenho medo que ele me bata ,já que ele parece mais que capaz para isso. No caminho para a escola a Letícia me fazia perguntas ,ela estava com uma indignação demasiada, dado que Felipe já havia contato tudo a ela.
Letícia: como aquele monstro foi capaz de vender você? e aquele outro capeta ainda capaz de aceitar uma maluquice dessa cara ? vender você? — dizia com frenesi.
Liana: você não tem ideia do ódio que eu senti, ele nem excitou em aceitar, como se isso fosse uma coisa normal, isso é ridículo ,isso não existe! — eu disse em completa irritação também.
Letícia: mas ele real considera isso?o Terror, ele realmente tá te tratando como algo que ele comprou?tipo um objeto?. — indagou .
Liana: ele já me tratava assim Letícia. — disse estressada.— Mas até agora a única coisa que foi falada entre a gente e o que eu entendi, era que ele estava me levando pra lá para ajudar  a dona Benê, vou trabalhar como empregada dele “por um tempo”. — fiz aspas com os dedos. — Dar pra acreditar?— disse.
Letícia: ele vai te obrigar agora também a…? — perguntou receosa. Ela estava falando sobre fazermos relação.
Liana: disse que não vai me tocar se eu não pedir. — falei.
Letícia: que ridículo, como se tivesse a possibilidade de você pedir isso a ele. — ela debochou e eu não disse nada. — Não é?. Liana Moura Sanches,não tem nenhuma possibilidade de você PEDIR isso a ele ,né? — ela enfatizou o 'pedir',dado que era demais para a minha solenidade fazer isso .
Liana: isso é complicado Letícia. — falei inibida.
Letícia: complicado é o tanto que você é trouxa. — disse com indelicadeza.
Liana: você não pode me julgar. O Terror foi o meu primeiro, ele tem um poder enorme sobre o meu corpo Letícia,é mais forte do que eu.— disse de fato me sentindo uma trouxa. — Você vai mesmo dizer que Felipe não tem o mesmo poder sobre você? — perguntei de sobrancelhas arqueadas.
Letícia: sim ,mas isso porque eu já o amava antes. Você foi depois de ter perdido a virgindade com ele. — disse .
Liana: mas óbvio! — falei.
Letícia: E você não ver que isso é um problema? trate de ficar com outros,se não você vai se apaixonar por ele e isso sim que vai ser complicado.
Liana: ficar com outros Letícia? — questionei a repreendendo com o olhar.
Letícia: qual o problema? — perguntou natural.
Liana: também não é assim ,né? tá maluca?— falei.
Letícia: vai querer ter somente ele aí pra sempre? — questionou.
Liana: claro que não. Mas também não vou sair procurando qualquer pessoa. Não quero mais que seja como foi com o primeiro. Quero com alguém que me ame ,me respeite,agora.— disse .
Letícia: é verdade ,você tem razão. — concordou e fomos para escola.
Assim que chegamos na entrada do morro, um cara me esperava.
***: bora patroa,o homem mandou te levar pra casa. — disse e eu e Letícia nos olhamos. Seria assim agora então?!. Realmente não teria condição de eu ir a pé até a casa dele ,dado que era bem longe.
Liana: leva minha amiga até a rua dez?— pedi,já que a gente passaria pelo o beco da rua dela.
***: pode pá, sobe aí. — disse e a gente subiu. Letícia desceu na rua dela e nós seguimos. Chego na casa de Thiago e falo com dona Benê.
Liana: oi dono Benê,boa tarde.— disse.
dona Benê: oi minha linda ,já chegou ? vai lá tomar banho pra vim almoçar. — disse. Eu estou criando um carinho gigante por ela ,não há como não ama-la,ela é tão querida. Entrei no meu quarto e meu guarda roupa já estava aqui,junto da minha mesinha de maquiagem e mais nada ,dado que o resto o quarto aqui já tinha,como cama ,poltronas. Havia um banheiro aqui dentro também. O quarto era grande e moderno,a cama era maior do que a minha e super confortável. Tomei meu banho e vesti um vestidinho fresquinho ,passei desodorante,hidratante na pele e desci. Dona Benê fez empada de camarão e meu Deus, estava uma coisa de outro mundo, eu à elogiei tanto que ela ficou sem graça,mas é que realmente estava muito bom. Combinamos então que eu ficaria com a parte da limpeza e ela com a parte das comidas na cozinha, até porque ela cozinha maravilhosamente melhor que eu . Ela disse que me ajudaria com a limpeza também porque a casa é enorme, mas eu não aceitei, disse a ela que eu dava conta.
Liana: dona Benê, com tanta comida gostosa que a senhora faz eu vou acabar engordando. — disse,raspando o prato,eu já estava no segundo.
dona Benê: ah menina ,tá muito magrinha mesmo. Não vai deixar de ser linda se engordar um pouquinho. — disse e nós rimos. Fui limpar a casa e ela foi me instruindo,para que eu soubesse como que funcionava a limpeza que ela organizava. Ela disse que só fazia limpeza mais caprichada uma vez por semana e que diariamente só precisa organizar os cômodos mais bagunçados. Disse que nas outras casas que ele tem,apenas duas fora essa aqui ele frequenta as vezes, então em um dia de cada duas semanas ela precisa limpar. Eu disse que ela não ficasse preocupada que eu ficaria responsável pela a limpeza das três casas. Dado que eu preciso me sentir útil,sentir que eu estou aqui realmente à trabalho,se não tiver muita coisa para que eu me mantenha ocupada,o que eu vou fazer? eu não vou conseguir me sentir confortável aqui. E viver aqui ainda mais inconfortável do que eu já estou ,fica difícil para mim. As duas da tarde já não tinha mais nada para fazer e dona Benê já iria embora. Me disse que as vezes por não ter mais o que fazer ela iria embora mais cedo mesmo. Ela sempre deixa o almoço de Thiago pronto e a janta também, para que Thiago só esquentasse se quisesse comer a noite. Eu falei para ela que também não precisava mais deixar a janta feita que eu faria agora. Seria menos trabalho para ela ,acredito que dona Benedita já deveria estar aposentada,embora ainda não esteja. Uma mulher muito guerreira eu diria, e olha que nem conheço muito sobre a história dela,mas grande parte das senhoras daqui são mulheres fortes,sofridas! eu fiquei surpresa quando ela disse que era mãe de Felipe,por isso que Thiago confia tanto nele,eles devem ter sido criados juntos. Eu fiquei feliz que hoje eu não precisava me ocupar tanto,assim sobraria mais tempo para estudar,dado que depois de amanhã seria o Enem,no Domingo,então preciso focar muito agora. Eu estou ultra ansiosa e tenho que me dedicar em estudar hoje. Amanhã como é sábado eu irei focar um pouco mais. Graças a Deus Letícia também vai precisar e não vai me azulcrinar para ir mais uma vez ao baile com ela. Perguntei dona Benê se podia deixar a casa sozinha ,eu precisava ir no salão dar satisfação do porque não fui hoje e nem vou mais nos demais dias também. Dona Benê disse que não havia problema nenhum nisso,a casa ficava vigiada o tempo inteiro ao que pude entender. Eu já deveria imaginar ,mas realmente não parece que tem alguém em algum lugar observando a casa. Ele sempre tão inteligente e articulado. Ela foi primeiro e eu fiquei organizando algumas coisas na cozinha e depois também saí. Tive que ir andando, porque além de não ver nenhum dos homens dele aqui ,se visse também não pediria ,já que com certeza eles iriam pedir permissão primeiro a ele. E isso me irrita ao extremo,porque sei que será assim agora ,e só Deus sabe até quando, Deus e o capeta ,né? já que Terror é quase o próprio em pessoa, mas disfarçado no corpo humano de um cara insuportavelmente gostoso. Quando eu estava próxima ao salão eu escuto barulho de tiros um tanto longe “-invasão.-” Pensei e comecei a correr para chegar mais rápido no salão e conseguir me esconder. Alguns segundos e o alarme de recolhimento do morro começa a soar. Merda! Eram tiros e mais tiros e eu já chorava, dado que eu escutava passos nos becos a todo estante . Assim que chego no salão, percebo que já estava fechado,quando ocorre invasão desse tipo,as meninas fecham o salão e correm para a parte de cima,dado que é mais seguro. Ou seja ,eu posso morrer chamando aqui que elas não escutariam. Eu me encolhi no canto e já estava chorando quando eu escuto uma voz cansada,dirigindo-se a mim.
Terror: ou…entra aqui.— era Thiago e foi quando eu respirei aliviada,porque eu jurava que seria baleada aqui. Entro observando se não havia ninguém aqui na parte de baixo e percebo que o portão que havia na escada estava com cadeado. Acho que as meninas fecharam e foram pra casa,pois não acredito que haveria alguém lá encima. O portão na escada era para a filha da minha ex patroa não descer para essa parte de trabalho da mãe dela,dado que ela é uma bebê de um ano e meio. Mas elas não costumam trancar no cadiado,somente quando fecham o salão e não há mais ninguém,então deduzo que de fato não havia ninguém aqui. Escuto um barulho de tiro ,seguido de outro, foi tão rápido que quando olhei Thiago já baixava o portão e eu não pude ver quem era. Só escutei ele falar alguma coisa que eu nem entendi,visto que minha atenção foi de imediato voltada para o braço dele,que sangrava ,ele havia sido baleado.
Liana: Meu Deus! — disse alarmada. — O que é isso?— falei apreensiva.
Terror: fui baleado, não tá vendo?— disse em tom ríspido enquanto sentava em uma poltrona,pressionando o ferimento. Grosso do caramba ,devia deixar ele morrer com esse braço aí. Revirei os olhos e ele me olhou carrancudo,porque até minhas expressões faciais ele quer controlar.
Liana: espera aí que eu vou procurar uma caixinha de utensílios que tem aqui. Vai servir. — disse indo até um 'depósitozinho' achando a caixa.
Terror: tá maluca que eu vou deixar tu mexer? — disse em defensiva,com as sobrancelhas juntas e baixadas. Eu respirei fundo e fiz uma cara de escárnio.
Liana: você sabia que eu quero ser médica ,né? — indaguei.
Terror: e daí? eu queria ser o Cristiano Ronaldo e nem jogo.— falou sério de sobrancelha arqueada agora.
Liana: deixa de bobeira. Eu estudo a bessa sobre ferimento de bala e tenho curso de bombeiro tá? — disse imodesta.
Terror: iih,grandes coisas. Meu braço caí e eu não deixo tu mexer, saí fora. — falou fazendo careta.
Liana: Thiago,para de besteira,eu não vou fazer nada demais ,você está perdendo muito sangue ,eu quero só dar uma olhada.— disse e ele não falou nada ,então eu me aproximei. De fato ele estava perdendo muito sangue,mas a bala pegou só de raspão.
Liana: pegou só de raspão. — eu contei aliviada. —Mas vou limpar pra não infeccionar e colocar atadura pro sangramento cessar. Depois você vai precisar passar no hospital, acho que pega ponto. — disse o olhando de canto. Pensando em como ele iria no hospital se ele é procurado. Ele observava tudo muito atento. Olhou nos meus olhos alguns segundos e desviou depressa.
Terror: temos médicos e equipamentos no morro. — disse. — Como você acha que se salva a vida de um bandido baleado se não podem descer pro hospital? — indagou, ele realmente pensa em tudo.
Liana: vocês fazem cirurgia aqui? — perguntei.
Terror: eu forneço todos os equipamentos necessários e médicos renomeados. Tá achando que o Alemão é bagunça?— disse marrento e eu sorri,disfarçando, claro. — Sou traficante porra,não há muita coisa que eu não possa comerciar.— ele disse agora atento ao ferimento que eu limpava. — Até órgãos. — disse e eu o olhei espantada agora. Ele olhou para a minha cara novamente, visto que eu havia parada de limpar.
Liana: você trafica órgãos também? — indaguei admirada.
Terror: sim! A gente que tá nessa vida pode precisar a qualquer hora. Sem contar que eu não vou deixar o meu povo morrer em uma fila de anos de espera imposta pelo o sistema. Grande parte dos órgãos também são dos nossos que morrem nessa vida bandida. Todos nós doamos. —disse.
Liana: vocês deixam algum documento por escrito? — perguntei curiosa.
Terror: não, não é preciso deixar nenhum documento por escrito, porém é necessário manter a família ciente do seu desejo,tá ligada?. A família é quem autoriza e documenta, a liberação dos órgãos.— disse e eu achei o máximo. Óbvio que errado ,mas surpreendida pelo o tanto de coisa que ele pensa e se preocupa em fazer.
Liana: de onde vem todas essas idéias?—questionei,dado que realmente estava maravilhada com a mente brilhante dele de trazer um hospital capaz de fazer transplantes de órgão, para dentro de uma favela. Quanto ele deve lucrar com essa “profissão” dele ? capaz de dar-se para suprir o funcionamento de uma clínica desse porte, digna de uma casa de saúde particular? Incrivelmente surpreendente ,Thiago além de agora me mostra ser inteligente pra caramba, ainda me mostra ser um puta de um empreendedor.
Liana: se eles te pegam você não saí nunca mais.—disse sem pensar,referindo-me a uma suposta prisão. Depois de sair do meu transe de refletir no como é possível ,um homem como ele,um traficante,marginal, ser capaz de ser também tão prodigioso.
Terror: eles só me levam morto. — disse ,tão categórico que me fez ficar desconfortável.
Liana: não fala isso. — disse, tirando o meu olhar do machucado e olhando para o rosto dele.
Terror : o quê? de morrer? — indagou meio caçoísta.— Por que?se a morte é o destino mais decisivo de todos nós? — disse. E eu agora não disse nada,não tinha o que eu pudesse falar,mas não gosto nem um pouco da ideia de que ele possa morrer.— Vocé tem medo que eu morra?—questionou como se tivesse lido meus pensamentos. Agora eu fiquei desconcertada.
Liana:não gosto da idéia de morrer. Embora saiba que todos vamos um dia ,só acho que não precisa ser agora.— disse .
Terror: você não respondeu a minha pergunta.— falou. E eu o olhei, agora nos encaravamos e ele desviou o olhar primeiro. Bem estranho inclusive,era ele quem sempre intimidava.
Liana:tenho medo que alguém consiga matar você primeiro que eu. — disse voltando a limpar o braço dele. Em tom extrovertido. E para minha surpresa ele exprimiu um riso alto,largo e lindo. Eu o acompanhei sorrindo e delonguei meu olhar nele por uns segundos. De repente eu já não escutava mais os tiros lá fora e,parecia que tudo acontecia em câmera lenta,enquanto eu observava extasiada cada detalhe dele. O bigodinho que nunca achei bonito em homem algum, mas que nele era um charme tão excêntrico. O sorriso grande,banquinho e alinhado dele,que é a tentação de tantas mulheres,visto que é intrigante o fato de quase não vermos ele sorrindo,sendo que o sorriso dele é tão lindo. E a boca ,nossa a boca dele é divina de linda, lábios grossos, carnudos e imensamente excitante. Os olhos dele meio puxadinhos ,escuros e tão enigmáticos, tão álgidos,me faziam perder o ar todo vez que ele me encara nos olhos,de propósito. E o corpo dele,que sem dúvidas era a minha maior arruinação. Quando percebi ele cessando com o sorriso aos poucos dado ao meu olhar eu desviei novamente,depressa, fazendo um som com a garganta.
Liana: pronto.—disse enrolando uma atadura em volta ao braço dele. — Daqui você passa no postinho,hospital, sei lá. Para dar pontos e pronto! novinho em folha. — disse sorrindo sem mostrar os dentes. Ele ainda me encarava,me ouvindo sem falar nada. — Você acha que eles já foram embora? — perguntei referindo-me aos caras que estavam invadindo o morro. Ele falou naquele trocinho dele que chia e que ele chama de radinho. Segundo Felipe do outro lado em algum lugar do morro,estava tudo sobre controle, graças a Deus. — Bom,então a gente pode ir,né?. Você consegue ir sozinho?— perguntei.
Terror: balearam meu braço,não foi minhas pernas.— disse boçal levantando da poltrona.
Liana: de nada,seu mal-educado. — disse com indolência, jogando os cabelos. Ele fala essas coisas de propósito, pra quê ser tão grosso? senti a mão dele no meu braço, me puxando ágil e abrupto,colando nossos corpos. A gente ficou se encarando,eu bem abaixo do queixo dele ,o olhando de baixo e ele a mim de cima ,Thiago é um porte. De repente a respiração de ambos não estava mais controlada e estávamos respirando em sintonia. Meu coração batia tão compulsivamente,que chegava a errar as batidas,ao ponto de pensar que ele poderia estar escutando. Eu não entendo porque ele causa tanto em mim,algo que nunca senti com ninguém mais, não nessa intensidade.
Terror: o quê você tá fazendo comigo?— ele disse,rouco e baixinho.
Liana: e você? o que você quer de mim Thiago?— perguntei com o peito descendo e subindo. Ele pareceu pensar e ficou assim por alguns segundos, longos segundos. — Sexo não é? só sexo! — disse em tom meio desapontado e aborrecido. Que droga! o que diabos está acontecendo agora? comigo e com ele também. Eu vejo algo diferente no olhar dele. Parece que consigo ver facilmente duas pessoas,duas personalidades diferentes nesse momento. O Terror ,o cara ruim e sem sentimentos,que me fere e me humilha. E o Thiago,alguém meio perdido ainda,mas que quer ser melhor,e que é sem dúvidas melhor que o Terror. Vejo isso agora nos olhos dele,tão perdidos, tão inarráveis.
Terror:eu seria mais cruel se te desse esperanças quando não há nenhuma. — ele disse e confesso que me surpreendi, pareceu que ele leu meus pensamentos. Mas foi como se um soco no estômago.
Liana: então para.— sussurrei de olhos marejados.
Terror: eu não consigo.— admitiu. — Você mudou alguma coisa na minha vida monótona. — ele disse natural ,como se isso não me fizesse um mal enorme .
Liana: e daí você me usa ?! — disse desacreditada. —Você. não vai.mais.tocar.em mim. — falei pausadamente entre dentes. E saí dali pisando firme ,chateada,mas também mexida por dentro. Não sei como e nem com o que ao certo,mas sinto uma bagunça enorme aqui dentro.

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