Eu não sou louca.

151 24 17
                                    

— Chloe!? ... Chloe! - Balanço as mãos diante de seus olhos, mas a ruiva está estática. — Chlo, amor, fala comigo! - Ela pisca pela primeira vez em um minuto e uma lágrima grossa percorre o caminho de seu rosto, desenha lentamente a curva de sua bochecha, vai até o limite de seu queixo e fica ali por alguns segundos, o silêncio no cômodo preenche todo o espaço, mas não é silêncio silêncio, é silêncio como quando você está debaixo d'água e pode ouvir seu coração bater dentro da sua cabeça. Sinto o impulso de amparar aquela gota de lágrima antes que ela caia no chão, passo meu dedo indicador em seu queixo, depois o polegar em sua bochecha, secando o rastro molhado que ficou gravado ali. Chloe pousa a mão sobre a minha e aperta contra seu rosto, sua mão está fria, ela respira fundo, beija o dorso da minha mão, mas não diz uma palavra, apenas se direciona ao banheiro.

Levo Bella para o berço, ainda acordada, porém cansada, não irá demorar a dormir. Vou para a cozinha e preparo um chá para Chloe, enquanto espero a água ferver, mando uma mensagem para Aubrey.

Beca: "Bree, tem falado com Chloe?"

Aubrey: "Não com frequência, por?"

Beca: "Ela esta estranha..."

Aubrey: "Por que diz isso?"

Beca: "Saímos para jantar, quando voltamos a porta estava aberta, ela diz que trancou a porta, mas a polícia não encontrou nenhum sinal de arrombamento, nada sumiu. Eu disse que ela esqueceu, isso é normal. Né?"

Aubrey: "E ela?"

Beca: "Ficou em silêncio desde então, quase catatônica, parece em choque. Acho que ela precisa de alguém para conversar, ela não conversa comigo. Fiquei pensando se talvez você não pudesse falar com ela e quem sabe me ajudar"

Aubrey: "Olha, Beca, eu amo você e amo Chloe, por essa razão, não posso fazer isso. Eu não poderia tirar informações dela para te contar, quebraria a confiança dela e é a última coisa que ela precisa."

Beca: "Entendo."

Aubrey: "Mas se um conselho meu puder ser útil, Bec, Chloe precisa de terapia, o que vocês estão passando, o que ela passou... É demais para lidar sozinha, é demais para você se responsabilizar. Ela precisa de ajuda."

Beca: "Eu dou conta, Bree."

Bloqueio a tela e deixo o celular no balcão, ele vibra outras vezes, mas já não respondo. Quero acreditar que tudo o que Chloe precisa está aqui, que é cedo expor ela aos traumas que viveu. Além do que, sei exatamente o que ela irá dizer quando eu sugerir a terapia.

Quando notei a água já em borbulhas, ouvi um barulho alto no banheiro, uma batida, depois outra, um vidro quebrado e o grito abafado de Chloe.

Corro até a porta que está trancada, chamando seu nome, implorando que me responda, mas ela só chora, me lanço contra a porta algumas vezes até doer meus ombros, mas não tenho forças pra arrombar, meu primeiro pensamento é achar que tem alguém fazendo mal a ela, mas quando a ouço me pedir que a deixe em paz, sei que está sozinha, que está tendo um ataque de pânico e eu não posso fazer nada daqui.

Me sento no chão, com a testa colada na madeira gelada a minha frente, respiro fundo pensando no que dizer para acalma-la, mas percebo que Aubrey está certa, é demais pra mim.

— Chloe, por favor, abre a porta...

— Estou bem. - Responde tentando controlar o choro.

— Então me deixa ver você?

Ouço o clique da porta sendo destrancada. Ela coloca o rosto na fresta, na altura do meu, também sentada no chão. Tão vermelha quanto seus cabelos. Estendo minha mão pelo vão e ela coloca a dela em cima.

— Respira fundo comigo, ok? - Fazemos alguns exercícios até o rubor em suas bochechas se dissiparem. Ela aperta os dois olhos piscando pra mim, sei que é um "obrigado" em silêncio. — Vamos? Levante daí, vamos sentar em algum lugar mais confortável... e limpo.

Ja no quarto, depois de tomar o chá de camomila, invisto em tentar entender o que aconteceu. Bom, estou sempre tentando entender o que aconteceu, mas não entendo sem sobre mim.

— Então, você acha mesmo que alguém entrou na casa?

— Eu não sou louca, Beca! Sei que fechei a porta, se você não acredita em mim, não posso fazer nada. - Ela estende o edredom sobre a cama, amacia o travesseiro e se senta a beira do leito, olha para as mãos em seu colo, seu celular sendo pressionado firme em seus dedos, mais uma vez com lágrimas, mais uma vez abre a boca como se quisesse desabafar, mas nada sai, ela cobre o rosto com as mãos. E então magicamente olha pra mim como se mudasse de ideia sobre tudo. — Ninguém entrou na casa. Eu acho que esqueci a porta aberta... Desculpa.

Vou até ela, engatinhando atravesso a cama, me ajoelho ao seu lado. Ela não olha em meus olhos, mas a fito com estranhesa, ter mudado drasticamente de ideia me assusta mais do que ela continuar acreditando que trancou a porta.

— Ei, olhe pra mim. - Me sinto impotente. — Queria que você se sentisse segura comigo, mas temo não poder te ajudar, Chloe, a ajuda que você precisa está muito além do que eu ou Aubrey podemos oferecer. Não posso curar sua mente, eu queria muito, mas não posso.

— O que está dizendo? Estou bem, vou ficar bem, Beca, por favor não desiste de mim.

— Desistir de você? Chloe, eu morreria por você! Eu quero te ver bem e quero que busque ajuda, amor, a ajuda que você ofereceu ao chicago e ele recusou. Por favor, não repita o erro dele, você também tem traumas que precisa deixar para trás, fazer terapia é o primeiro passo para uma vida melhor, uma vida que você merece.

— É... deixar para trás. - Ela repetiu essas palavras, devaneando, tão perdida dentro de si que era irreconhecível. — Deixar para trás...

Bella's lullabyOnde histórias criam vida. Descubra agora