Você deixou a porta aberta?

193 31 36
                                    

POV: Chloe Beale

Não consigo me abrir para Beca, não consigo dizer o que Aubrey e eu conversamos no quarto, sei que é errado esconder isso dela, mas também não sei se posso confiar, não consigo acreditar que ela não vai cair fora se tudo der errado, fiz ela prometer que estaria aqui pela Bella, não por mim. E sinceramente, acho que meu pesadelo está longe de acabar.

Meu depoimento inocentando Chicago não foi entregue ao juiz, meu advogado tinha o original, bastou eu demonstrar que fui forçada a mentir, para Aubrey me convencer de dizer a verdade e fazer a coisa certa. Bom... pelo menos era o que achavamos ser o certo.

Miguel me ligou mais tarde naquele dia, eu preferia que ele não tivesse feito isso. Me disse que Chicago foi exonerado de seu cargo, foi desligado de todas as suas tarefas e agora não servia mais ao exército, também que cumpriria uma pena por violência doméstica, chantagem e falsificação de documentos médicos, mas que havia pago a fiança e estava em liberdade condicional.

Vivo a ansiedade de cada segundo acordada, cada ligação ou notificação em meu celular, não tenho coragem de contar a ninguém, estou tentando fingir que está tudo bem, mas tive medo ao ver Beca saindo para o trabalho, nunca senti alívio tamanho ao ve-la de volta. Acho que Bree está certa, o quanto antes eu iniciar a terapia, mais rápido posso me recuperar dos meus traumas e me livrar da culpa.

— Bem vinda ao lar, amor. - Pego a bolsa de Beca e coloco na mesinha de centro. — Como foi no trabalho?

— Ah, você sabe, apenas brincando de DJ... E aí, o que quer fazer hoje? Vamos jantar fora?

— Jantar fora? Alguma ocasião especial? - Ela estava empolgada, mas era segunda feira, isso era algo incomum de se fazer.

— Não precisamos de uma razão especial para isso, estamos juntas, estamos nos dando bem. Quero recuperar o que perdemos... - Fico a olhando e ela desvia o olhar, sacode a cabeça e ri sem jeito. — Viajei né, nada ver, foi uma ideia idiota.

— Não, eu gostei. - Ela percorre o olhar por todo meu rosto, como se ao olhar em meus olhos fosse espiar todas as minhas intenções. Me sinto queimar por dentro. — Vou me arrumar. - A beijo na bochecha, ela é fofa quando está insegura, mas é a mulher mais confiante que conheço.

Beca, Bella e eu fomos ao restaurante no centro, uma esquina com mesas ao ar livre, a noite estava quente e haviam muitas pessoas passeando por ali, Bella estava encantada com todo o movimento. Pela primeira vez deixamos Charlie sozinha em casa.

— Gosto daqui, por que nunca viemos antes? - Me pergunta entre uma sobremesa e outra.

— Porque você não gosta de gente...

— Touché. - Rimos.

Meu celular vibra sobre a mesa, não olho pra ele, mas não passa despercebido por ambas. Vibra mais uma vez, eu toco na tela e vejo a notificação de um número desconhecido me mandando um SMS com um link, não clico. Viro a tela para Beca ver a mensagem.

— Tudo bem? - A morena não deixa passar nada.

— Sim, é só um link, parece anônimo...

— Não clica, é vírus, cavalo de Tróia. - Beca diz, limpando os lábios com um guardanapo.

— Pra você todo vírus é cavalo de Tróia, Beca...

— Teria que clicar pra saber se é ou não, então temos que assumir que ele é.

— E que não é ao mesmo tempo. - Dou uma piscadinha e ela pega a referência.

— Olha aí, você e esse experimento do gato na caixa. - Lembro-me de passar duas semanas me lamentando pelo "gato de schrödinger" quando Beca me explicou o que acontecia.

— Você me disse que era uma teoria! Então o gato realmente... Oh não. - Finjo estar triste e faço Beca rir, ela é tão linda, seus olhos ficam apertadinhos quando ela sorri e minha parte favorita é que no final, ela coloca a língua entre os dentes, é a coisa mais adorável do mundo.

— Teoria, experimento, vírus... É tudo ciência no fim, apenas não clica, ok?

— Ok. - Meu Deus, eu teria sido tão feliz ao lado dela.

Fico olhando pra ela o tempo todo, meu peito se enche de um misto de alívio e tristeza. Alívio por ter uma segunda chance ao lado de alguém que amo e tristeza por ter perdido isso a minha vida inteira. De pensar que o último ano poderia ter sido completamente diferente se eu a tivesse seguido por aí, ao invés de escolher a frança e a promessa de um amor de cinema... Tento focar no agora, mas em momentos como esse, é impossível não me pegar martelando o "e se".

Pedimos a conta quando Bella começara a dormir sentada, se dermos sorte, ela irá dormir a noite toda e nós também.

Pedi a Beca as chaves do carro, queria dirigir até em casa, sempre amei dirigir a noite, a brisa, as luzes, a cidade, era reconfortante saber que todas essas pessoas chegaram ao fim de mais um dia.

Estaciono paralelo a guia, guardar o carro na caragem já era uma tarefa mais difícil para minhas poucas habilidade motoras. Beca nota algo estranho logo de cara, eu percebo depois.

— Você deixou a porta aberta? - Pergunta.

— Não.

— Fique no carro.

— Beca, onde você vai? Não me diga para ficar no carro, você não vai entrar lá sozinha. - Seguro seu braço fazendo com que ela olhe pra mim. — E se alguém ainda estiver la dentro?

— Tudo bem, vamos ligar para a polícia.

Uma viatura chega não muito tempo depois, fazem uma vistoria no interior e fora da casa. Nos chamam para entrar e checar se algum pertence havia sumido, mas estava tudo no lugar, nada foi roubado, tão pouco havia marcas de arrombamento.

— Talvez você esqueceu de trancar a porta...

— Beca, eu sei que tranquei! - Tinha certeza, me lembro de por a chave na bolsa logo em seguida.

— A casa esta limpa, nenhum vizinho percebeu nada. Parece estar tudo bem. - O policial caminhava até a porta, seu parceiro já na viatura. — De qualquer forma vamos registrar a ocorrência. Nos liguem se precisarem de algo.

— Okay, obrigada senhor. - Beca fecha a porta assim que o homem vai embora.

Continuo parada, olhando com desconfiança ao meu redor. Tudo estava no lugar, de fato, mas algo parecia diferente.

— Chlo, ta tudo bem, ei?! - Beca passa as mãos em meus braços. — Não aconteceu nada, estamos seguras.

— Você acredita em?

— A gente se engana, amor, é normal. Não precisa se cobrar por isso, tabom?

Afirmo com a cabeça, mas com os pensamentos distantes dali.

— Vou colocar um pijama na Bella e já vou para o quarto, esquenta meu lado da cama pra mim? - Beca beija minha bochecha e se direciona para o corredor com a pequena dormindo em seu colo.

Me sento no sofá tentando refazer meus passos na cabeça, talvez eu tenha me confundido, talvez seja a lembrança de outro dia aquela de traçar a porta. Enfim, não importa. Pego meu celular para postar uma foto do nosso jantar, na tela ainda a mensagem de texto anonima. Me sinto tentada a clicar no link.

A tela fica branca, por um momento me arrependo, não quero ter que dizer a Beca que meu celular está com vírus. Mas quando a página carrega, meu coração para de bater.

Era uma foto do berço de Bella, com uma legenda que dizia: "Então é aqui que você se esconde."

Minha mente fica turva, não tinha dúvida alguma de quem havia mandando a mensagem, meu coração batia tão forte que podia sentir o sangue percorrer quente em minhas veias. O que eu mais temia aconteceu.

Chicago nos achou.

Bella's lullabyOnde histórias criam vida. Descubra agora