Senhoras e senhores, o conselho tutelar

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Mais uma vez a luz do sol castiga meus olhos cedo de manhã, cubro o rosto numa tentativa falha de voltar a dormir, mas meu sono se esvai como areia por meus dedos. Me enfureço com o sol, a posição da cama, as brechas na cortina e uma intensa sensibilidade á luz. Minha mente trovejando com o resquício de droga em meu organismo, cada som parecia três vezes mais alto, as cores vibravam e minha boca estava extremamente seca.

Chloe por sua vez, ja havia levantado, na real não me lembro de te-la sentido na cama esta noite. O cheiro de café me guia até a cozinha.

Hesito sair do quarto com medo da casa estar destruída, tenho lembranças turbulentas de nós duas parecendo um furacão tirando tudo do lugar. Sorrio de canto de boca ao pensar na ruiva como uma força da natureza...

— Chloe? - Meus olhos estranham o ambiente. — O que rolou aqui? - Ao contrário do que imaginei, a casa estava um brinco.

— Bom dia, Becs, café? - Ela automaticamente pega uma xícara antes que eu responda sim, parece agitada. — Não consegui dormir a noite, aproveitei pra dar uma geralzinha na casa.

Por "geralzinha" ela quer dizer lavar, passar, encerar, mudar os móveis de lugar e redecorar o ambiente. A pergunta é: como eu não ouvi isso?

— Eu não me lembro de... - Aponto para um enorme quadro na parede, uma pintura muito bizarra de Chloe, Bella, eu e Charlie como num daqueles quadros de familia real, com coroa na cabeça e vestido bufante, só que feito por uma criança de uns oito anos.

— Ah, isso? Eu pintei, gostou? - Ela parecia orgulhosa.

— Uhum. - Dou um sorriso amarelo, meus olhos demorariam para se acostumar, mas não era impossível. Provo o café, este sim estava divino.

A campainha toca seguida de três batidas na porta.

— Aubrey deve ter trazido Bella mais cedo. - Suponho.

— Não... ela deixou um recado dizendo que viria depois do almoço.

— Srta. Mitchell, Srta. Beale? - A voz feminina nos chama do lado de fora.

— Fernanda!? - Chloe diz num sussurro que me deixa desesperada, a assistente social da qual havíamos esquecido da existência estava na porta para uma visita de rotina.

— Porra, fudeu! a Bella!?? - Me sinto uma criança que aprontou na escola e será punida. Fico meio perdida entre parecer cem por cento sóbria, inventar uma mentira para a ausência da criança ou simplesmente abrir a porta.

— Querida, tome seu café. - Chloe toma as rédeas da situação. — Uma coisa de cada vez, vou abrir a porta e você... - Me olha com leve desdém. — Tente parecer uma pessoa normal pelo amor de Deus. - Não a julgo, minha aparência estava um trapo.

Sua ordem quase ofensiva me deixou estranhamente feliz? As vezes me esqueço de que Chloe Beale sempre foi quem me trazia pro chão quando eu estava surtando na faculdade. Agradeço aos céus por ela ter arrumado a casa... e o café? Uau, me acordou de uma maneira estranha, preciso perguntar o que ela colocou naquilo.

— Oi, Fernanda, como vai você? - A ruiva é uma ótima atriz. Ouço a outra dizer que está bem e Chloe a convida para entrar.

— Olá, que prazer reve-las. - Fernanda me cumprimenta. — Vejo que deram um jeito no lugar. - Ela olha em volta e para bruscamente ao encontrar o quadro.

— Gostou da nossa obra de arte? - Chloe realmente está feliz com a pintura.

— Ah, sim! Podem chamar qualquer coisa de arte hoje em dia. - A mulher não se esforça para ser agradável, me sinto ofendida, mas noto que Chloe não percebeu o tom maldoso em seu comentário. — Vamos conversar?

Bella's lullabyOnde histórias criam vida. Descubra agora