Novas bombas a explodir

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POV BECA MITCHELL

Tick... tick... tick...

Eu nunca fui uma pessoa ansiosa, ja tive inseguranças, óbvio, mas não ansiedade, não medo antecipado de coisas que poderiam ou não acontecer. Nunca precisei ficar horas pensando no resultado de qualquer movimento que eu fizesse e nunca, nunca mesmo senti tanto medo que não fosse capaz de ver uma solução pra um problema.

Tick... tick... tick...

Algumas pessoas depois de um trauma, passam a evitar lugares, pessoas e momentos que remetem a isso, porque é muito difícil convencer sua mente de que aqui não vai se repetir. Há uns dias atrás recebi a pior ligação da minha vida, até agora. Obviamente passei a ter medo toda vez que o telefone toca, pedi para todas as minhas amigas e até mesmo contatos do trabalho me mandarem apenas mensagens, que me ligassem apenas se fosse necessário.

Eu estava ouvindo Chloe, me falar sobre o trauma dela, ouvindo ela tropeçando nas palavras, engasgando em um nó na garganta e lutando pra não chorar, devo ter prendido a respiração por vários segundos, várias vezes a ponto de ficar tonta, a ponto de perder a capacidade de raciocínio.

Tick... tick... tick...

Quando vejo no jornal que um terrorista foi preso em algum lugar, imagino como ficam as pessoas que estavam ali, como elas passam a temer lugares lotados, como passam a ter medo de sons explosivos, malas pretas no chão do shopping e coisas assim. Penso que no lugar delas, eu teria esses medos, eu teria a capacidade de ouvir um tick tack e pensar "é uma bomba" pro que na verdade é apenas um relógio.

Chloe termina de falar o que ela pôde, não foi muito, na verdade fez "tick tack" e ela pode não saber disso.

Mas é uma bomba.

Foi atentado terrorista.

Estou sentada com a mala preta no meu colo e sinto medo de me mexer e foder com tudo.

— Becs... você é a pessoa que eu mais confio nesse momento, eu me odeio por ter passado por isso e por estar te contando que passei por isso, mas eu preciso que você não faça nada a respeito...

Solto o ar, deixo o oxigênio repor cada lugar do meu cérebro, sinto meu coração beter e ele dói quando bate e o que ele envia pro resto do meu corpo me corrói, como se a raiva transformasse meu sangue em ácido. Eu sentia meu rosto queimar e sentia que tudo no meu olhar tinha virado ódio.

Me levanto por fim, me visto em silêncio, coloco um moletom e pego também uma roupa para Chloe pra que ela pudesse se livrar do lençol.

Ela está assustada, nela eu vejo mais medo do que raiva e eu sei que preciso medir minhas próximas palavras, depende de mim acionar a bomba ou não.

— Beca? - A voz dela me atrai um pouco mais de volta pro centro. — Por favor fala alguma coisa.

Eu estava parada olhando pra ela, repirando rápido, minhas mãos fechadas em punho, minha vontade era sair dali e ir atrás daquele filho da puta. Eu me sentia extremamente impotente, eu notei que ela havia se tornado uma pessoa mais chorosa, mas nunca relacionei com esse tipo de coisa, aquilo me doía, sentia a confissão dela me cortar, quando suas lágrimas começam a cair eu desabo em mim mesma.

Eu não sabia como agir numa situação assim, eu poderia trovejar toda raiva que estava sentindo, poderia dizer mil coisas, mas não acredito que nesse momento faça alguma diferença pra ela, ela só precisa saber que tem o meu apoio.

— Eu to aqui. - Me aproximo, ajudo ela  colocar a camiseta, o tecido fica molhado ao passar pelo seu rosto e ela levanta o olhar pra mim, minha única opção era me acalmar pra poder acalmar ela. — To com você, Chloe, eu...

Bella's lullabyOnde histórias criam vida. Descubra agora