10: Vampiros & Morcegos.

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Janeiro, 1977

James se questionava se havia tomado a escolha correta e fazia isso cotidianamente. Às vezes, o instinto de agir com bondade superava sua autopreservação, e ele se encontrava em limbos como esse. “Você não precisa ser bondoso o tempo todo, James. Há pessoas que não merecem a sua bondade”, seu pai lhe dissera, mas agora ele notava que nunca havia realmente ouvido.

Ele se perguntava se deveria mesmo ter oferecido ajuda a Saphira Black com o feitiço do Patrono. Afinal, ela nunca fora exatamente receptiva a ele e todas as únicas coisas que ele sabia sobre ela eram coisas ruins. Ela era apenas a irmã chata de Sirius, alguém que ele deveria ignorar, uma idiota metida a supremacista como qualquer outra garota da Sonserina. Além de ser da linhagem dos Black, que literalmente parecia mais interessada em tradições antiquadas do que em verdadeira evolução. Também, a relação entre ela e James era marcada por um jogo doentio de atração e repulsão, ou, ao menos era o que ele achava.

Observou Saphira de longe, perdido em seus próprios pensamentos. Sabia que ela era a personificação de uma incógnita, e por mais que tentasse lutar contra esse desejo, ele sabia que estava tentando de tudo para decifrá-la. Enquanto a via interagir com os amigos, não podia deixar de notar como ela parecia à vontade em sua própria pele. Era como se Saphira fosse uma constelação de estrelas brilhantes, cada uma contendo um segredo, cada uma contribuindo para a complexidade de sua imagem completa. Ele se perguntava se algum dia teria a chance de desvendar esses mistérios, se teria a oportunidade de conhecer a Saphira que existia além das paredes de Hogwarts, para além das palavras ásperas de Sirius. Ninguém era bom o tempo inteiro, ninguém era mau o tempo inteiro. Saphira, afinal, também era humana.

Mordeu a torrada, ainda com os olhos nela, os pensamentos subindo de tópico a tópico. O que o levou a fazer aquela oferta sobre aulas de Patrono? Era o desejo de provar que ele mesmo podia ser mais do que um rótulo? Ou talvez fosse apenas a vontade de passar um pouco mais de tempo com ela, conversar com ela, ver um sorriso sincero no rosto dela, mesmo que fosse por um breve momento. Mas as palavras de seu pai ecoavam em sua mente mais uma vez. “Há pessoas que não merecem a sua bondade”, será que Saphira era uma dessas pessoas?

Ele sentia empatia por ela, sentia dó dela, e percebeu isso agora. A vez que sua mãe bateu no rosto dela, e as lágrimas não paravam de rolar pelas bochechas avermelhadas, mesmo enquanto ela gritava com ele, ainda assim, sentia uma vontade imensa de salvá-la. Quando a encontrou chorando no próprio aniversário, um sofrimento silencioso. Ele sentiu dó dela, quando percebeu que a mesma não tinha memórias felizes para conseguir conjurar um Patrono, nem sequer uma faísca prateada. Como era possível alguém ser assim? Viver dessa maneira?

Seus pensamentos foram roubados de si, quando sentiu um tapa forte no ouvido e engoliu rapidamente um pedaço de torrada ao se virar para Peter.

— Foi mal, você tava no mundo da lua eu precisei fazer algo — ele se desculpou rapidamente, um sorrisinho cortando as bochechas volumosas.

James massageou a orelha atingida, seus olhos procuraram por outras pessoas na mesa, mas notou um vazio: Sirius e Remus não estavam mais por lá. As garotas estavam conversando entre si, pareciam animadas, provavelmente por ser mais um sábado monótono em Hogwarts e não um dia de semana cheio de afazeres.

— Onde estão Sirius e Remus? — Se virou novamente para Peter, alcançando seu copo de suco.

— Você estava tão abobalhado que nem ouviu quando eles saíram, não é? — Peter revirou os olhos, levemente divertido. — Estava olhando para o quê? — Virou a cabeça para os lados, suas íris azuis buscando incansavelmente por alguém.

BLACK BEAUTY / JAMES POTTEROnde histórias criam vida. Descubra agora