16: Um Buraco Negro em Violeta.

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FEVEREIRO, 1977

Saphira havia o beijado, havia literalmente o beijado, e naquele momento, tudo parecia se encaixar. As incertezas e os questionamentos que antes tanto o atormentavam haviam sido momentaneamente silenciados. Agora, ele podia assumir gostar dela, pois o gesto dela confirmava seus sentimentos, ou pelo menos era o que ele desejava acreditar.

Também sabia que as coisas entre eles não seriam mais as mesmas, sabia que aquilo mudaria a dinâmica entre eles para sempre. Não havia mais espaço para a fachada insensível que Saphira costumava ostentar, ela havia se mostrado vulnerável, permitindo-se cruzar uma barreira que ela própria havia construído.

Agora, não havia escapatória para ela. Ela teria que lidar com as consequências daquele beijo, e ele também teria que enfrentar o fato que estava envolvido com Saphira Black, de uma maneira que ia muito além da simples rivalidade entre Sonserina e Grifinória, entre ser um Potter e ser uma Black, entre ideologias e questões políticas. Eles haviam se conectado naquela noite, de uma maneira irreversível, não podiam mais voltar atrás e com toda certeza nenhum dos dois iriam esquecer isso em um piscar de olhos, um beijo e principalmente um daqueles, era um ato simbólico.

E eles ainda estavam ali, sentados naquele chão frio de madeira polida, com os coturnos dela roçando nos tênis vermelhos dele junto de seus cadarços sujos e mal amarrados. Ainda estavam ali, com a luz da lua sendo a única iluminação, o cheiro bolorento de cigarros impregnado no ar mesmo que ela já não fumasse mais.

Ele ainda sentia o peso da cabeça dela em seu ombro, conseguia sentir os fios dos cabelos sedosos dela em seu pescoço, fazendo cócegas em sua pele. Drácula ainda estava no colo dela, o livro totalmente amarelo, sem figuras, apenas com as escrituras em vermelho. Imaginou se ela ainda estava acordada, porque já não falavam mais, tudo o que ele conseguia ouvir eram os sussurros da noite e a respiração dela, calma como um gato adormecido.

O cansaço o atingiu de repente, como uma onda suave e acolhedora. Ele deitou a cabeça por cima da dela, com cuidado para não causar desconforto, e fechou os olhos. Subitamente, seus olhos se abriram novamente e lá estava Saphira, diante dele, com seus olhos azuis vívidos fixos nos dele. A intensidade do olhar dela o prendeu, como se estivesse sendo hipnotizado pela profundidade daqueles olhos. Era uma visão que parecia tão real, mas James sabia estar em um estado entre o sonho e a vigília.

A risada contagiante dela preencheu sua mente e ela disse algo que ele não entendeu.

"Eu estou sonhando?" perguntou.

"Sim", ela respondeu, sua voz ecoando suavemente em sua mente, como se fosse um sussurro etéreo.

Ele olhou ao redor, maravilhado com a paisagem onírica que se desdobrava diante deles. Era um local onde ele nunca havia estado antes, parecia uma mistura da biblioteca de Hogwarts com um jardim encantado. E Saphira, ainda na sua frente.

"Então… tudo isso não é real" murmurou, triste e cético.

"Não é só porque está acontecendo na sua mente que significa não ser real, James."

Antes que ele pudesse responder, o sonho começou a desmoronar, os cenários se dissolvendo como pó dourado. Lutou para tentar segurar a mão de Saphira, mas ela escorregou por entre seus dedos como líquido enquanto ele acordava para a realidade.

James acordou na biblioteca com os primeiros raios de sol batendo em seu rosto, estava sozinho, nem mesmo Drácula continuava por lá. O eco do sonho ainda estava reverberando em sua mente enquanto ele virava a cabeça para os lados, à procura de Saphira, mas ela já não estava mais lá e era como se nunca tivesse estado antes.

BLACK BEAUTY / JAMES POTTEROnde histórias criam vida. Descubra agora