[tw: suicido, automutilação]
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Julho, 1977
Saphira tinha nove anos quando ela descobriu o que significava suicídio. Claro que ela não entendeu de cara o que significava aquela palavra tão estranha, que nunca havia ouvido antes. Mas o que aconteceu foi que o seu tio, Alphard Black, o irmão de sua mãe, havia tentado um suicídio durante o inverno de 1969, umas semanas depois do aniversário dela.
Houve muitos murmúrios pela casa, porque naquela época o tio ainda morava com eles — mesmo que sempre estivesse mais fora do que dentro de casa. Houve muita bagunça, e seus familiares andando para lá e para cá, e sua própria mãe gritando para seu tio o quanto ele era um nojento que não deveria ter o nome da família.
O fato era que, ninguém fez questão de se ajoelhar no chão e explicar para Saphira, Regulus e Sirius o que o seu tio, que sempre parecia tão carinhoso com eles, havia feito. Entretanto, ninguém também fez questão de esconder das crianças o que havia acontecido, nem sequer conversar sobre isso longe deles. Ela era inteligente, era óbvio que iria entender.
Tudo foi muito rápido: no banheiro do segundo andar, tio Alphard havia cortado seus dois pulsos e entrado numa banheira de água quente. A água ainda estava lá quando Saphira subiu para usar o banheiro, estava fria e com uma coloração estranha, quase rosa, e havia gotinhas de sangue vermelho pingado no chão de cerâmica.
A primeira vez que Saphira viu o tio Alphard depois desse dia também foi a última, antes dele simplesmente fazer as malas, pegar sua parte da fortuna e sair daquela casa. Ele estava na biblioteca sentado na poltrona próxima à lareira e lendo um livro, quando ela entrou na sala, olhando-o sem piscar, como se tivesse visto uma nova criatura pela primeira vez.
O tio soltou uma risadinha e fechou o livro quando seus olhos azuis fixaram nos azuis da garotinha.
“Como está, Saphira?” Alphard perguntou, enquanto ela apenas o encarava a uns metros de distância. Às vezes, Saphira simplesmente não respondia; fazia pouco tempo desde que ela voltou a falar. “Quer saber qual livro estou lendo?”
Ela assentiu e ele mostrou o título para ela, era O Retrato de Dorian Gray, escrito por Oscar Wilde e a ilustração na capa mostrava dois homens e um retrato. Ela não entendia. Nesta época, tudo o que seus pais lhe deixavam ler eram os livros didáticos para estudos. Ela deu um passo maior à frente.
“Para o que é este livro?”
Alphard Black pegou novamente o livro nas mãos. Entendia completamente o que Saphira quis dizer com aquela pergunta.
“Nem todos os livros do mundo são didáticos, Saphira. Alguns são apenas para você ler e entender a história, os personagens e o universo.”
Saphira arqueou de leve as sobrancelhas.
“E o que é esta história?”
“É a história de um jovem chamado Dorian Gray que é tão incrivelmente bonito que fez um pacto para que seu retrato envelhecesse no lugar dele. Com o passar dos anos, sua aparência jovem permanece a mesma, enquanto o retrato em seu quarto trancado envelhece, mostrando a evidência de todos os seus pecados e escolhas imorais.” Ele olhou para Saphira, que observava e ouvia as palavras dele com atenção. “Isso parece interessante para você?”
Ela negou com a cabeça, e ele fez uma expressão de quem compreende.
“Claro que não, você só tem nove anos”, e ele soltou mais uma risadinha para o fato. Ela ficou o observando mais um tempo e percebeu que aos pés dele havia uma maleta de couro aberta e repleta de livros. Saphira ainda era muito nova para saber que, lentamente, seu tio estava fazendo as malas para sair daquela casa. “Mas, eu tenho um livro que acho que você poderia gostar.”
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BLACK BEAUTY / JAMES POTTER
Fanfiction𝑺aphira Black, uma jovem que está presa aos preconceitos e tradições de sua família purista, é, frequentemente obrigada a conviver com James Potter, um garoto destemido e de bom coração da Grifinória. Inicialmente, ambos se detestam, mas com o deco...