33: O fim, a paz.

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Julho, 1977

O toca-discos de Remus estava girando sem parar um disco do cantor Tim Maia. Isso porque no dia anterior os garotos haviam ouvido vários discos de música brasileira juntos, e enquanto Sirius e Peter pareceram ter gostado mais de Os Mutantes, James e Remus gostaram muito de Djavan e Tim Maia. Principalmente Tim Maia, que James tinha certeza de que suas letras e sua melodia melancólica combinavam muito com o seu estado do momento.

Enquanto ele sentia uma sensação de queimação em sua cabeça e algumas cócegas (ele estava descolorindo o cabelo), Tim Maia estava chorando em seu ouvido após um amor perdido, pois ela havia partido:

Ela partiu
Ela partiu e nunca mais voltou
Ela sumiu, sumiu e nunca mais voltou
Ela partiu, partiu…

— Você deveria descolorir seu bigode também, James — Sirius comentou com diversão, enquanto não demonstrava um pingo de dor ao ser tatuado pelo irmão de Lucinda Buarque.

Os outros garotos riram do comentário de Sirius, até Lucinda e Victoria. Mas o garoto apenas balançou a mão e pediu para que seu bigodinho ficasse fora disso. Olhando seu próprio reflexo no espelho de mão que Victoria havia lhe emprestado, ele viu todos os seus cachos envoltos naquele tipo de “creme” branco, coberto por uma sacola de plástico. Faltavam muitos minutos e depois ele poderia lavar com a água da mangueira.

Estavam fazendo tudo em casa, até mesmo as tatuagens de Sirius. Tony, Remus e Peter também iriam fazer tatuagens, e James estava pensando se ele deveria ou não. Quando pediram aos pais, Euphemia ficou relutante, mas Fleamont disse que os jovens deveriam ser jovens e que eles deveriam aceitar a jovialidade dos filhos, mesmo que tatuagens, brincos e cabelo descolorido não fossem comuns na época deles. A mãe de Peter não foi contatada sobre sua tatuagem e nem os pais de Remus.

Apesar da atmosfera despreocupada e das risadas ao seu redor, James achava muito difícil mergulhar totalmente naquele momento. A sua mente sempre estava voltando constantemente para Saphira. Ele sabia que deveria aproveitar o momento, a viagem, e se divertir aqui com seus amigos, mas uma parte dele não conseguia se livrar da sensação de vazio e saudade que sentia sem ela.

Tentou se concentrar na música do toca-discos, mas as letras de coração partido de Tim Maia apenas pareciam intensificar sua solidão, era como se tivessem sido escritas sobre ele e Saphira. A todo momento, ela estava sem sua mente, era como uma condenação, algo que ele não conseguia fugir, se é que ele estivesse mesmo tentando fugir.

Invejava a capacidade dos seus amigos de simplesmente estarem ali, no presente, rindo e se divertindo sem preocupações. Invejava Sirius e Remus por poderem se amar sem nada os impedindo, e sabia que enquanto seus amigos teriam uma vida inteira juntos, podendo se casar e morar juntos, e essas coisas de casal. James passaria o resto da sua vida pensando em Saphira, relembrando as memórias de menos de quatro meses juntos, e apenas imaginando os momentos que poderiam ter passado juntos.

Um dia, Saphira iria se casar, engravidar, ter todos os filhos e criá-los com todo amor do mundo. Ela acordaria e se apaixonaria todos os dias pelo mesmo homem que não seria James.

Deu outra olhada em seu reflexo no espelho de mão, o creme branco em seu cabelo contrastava fortemente com seus cachos castanhos escuros, mas que lentamente se tornavam de outra cor. Também olhou para seu novo pequeno brinco dourado brilhando na orelha esquerda. Uma tentativa forçada de mudar sua aparência física para refletir toda a sua turbulência interior. Uma tentativa forçada de se tornar outra pessoa, qualquer uma, que não fosse ele e todos os fracassos que vinham em conjunto.

— Ei, James! — Victoria deu uma pesada nele com o pé. Ela estava deitada na cama e James estava sentado aos pés. Sua visão estava turva porque estava imerso em seus pensamentos. Mas, Victoria parecia ter falado algo que ele não ouviu.

BLACK BEAUTY / JAMES POTTEROnde histórias criam vida. Descubra agora