Eu não queria sair da minha cama. Meu corpo estava doendo muito. E isso era por conta de uma droga de tratamento que pode me matar de qualquer jeito.
Olho para a barra de notificação do meu celular. Havia uma mensagem da minha mãe, do meu irmão e do Copo Cheio. É, o apelido pegou e eu esqueci o nome dele.
Eu e o Copo Cheio fizemos uma ligação durante a madrugada e ficamos conversando até um de nós pegar no sono. Não vou mentir, foi divertido ter feito isso. E pude conhecer muito bem ele, muito mesmo.
Respondi as mensagens que tinha e analisei a última mensagem muito bem antes de responder qualquer coisa. A mensagem era do Copo Cheio perguntando quando eu poderia sair, acho que ele também tem aquela coisa de poder sair uma vez no mês. Mas se a gente fosse sair, seria no outro mês já que nesse combinei de jantar na casa dos meus pais, inclusive, é nesse fim de semana. Mas será que seria uma boa ideia convidar ele para ir comigo?
Jantar na casa dos meus pais é horrível, o clima é sempre pesado. Normalmente, a namorada do meu irmão sempre está junto mas não muda o jeito que meus pais agem a respeito do meu câncer. Pelo menos eu teria uma companhia nessa situação.
Não teria tratamento hoje então meu passatempo seria dormir o dia todo por conta do cansaço e provavelmente eu acordaria apenas no outro dia, talvez um pouco melhor do que hoje. Eu espero isso, não posso parecer mais doente do que já sou por conta do câncer.
Vejo a tela do meu celular brilhar assim que o meu irmão me ligar. Penso se atender seria uma boa ideia já que não estou no meu melhor momento e ele vai ficar preocupado.
———— Bom dia, Shiv. ———— ele diz sorridente mas seu sorriso some em poucos segundos ———— O que aconteceu?
———— Não acordei muito bem. É por causa do tratamento estar ficando intenso, mas você não precisa se preocupar.
———— Você tem certeza? Posso faltar uma das aulas… não vai ser problema te ver e garantir que fique bem.
Gosto do jeito que ele cuida de mim, mas faltar uma aula da faculdade pode ser perigoso dependendo de como estão suas notas. Mas vindo dele, duvido que suas notas sejam péssimas. Lamar é um ótimo aluno.
———— Não precisa, Lamar. Vou ficar bem.
———— Promete me ligar depois?
———— Prometo.
Desligou a chamada. Talvez quando ele me ligar se questionando porque eu não fiz isso, vou estar dormindo.
Pensei muito se o que eu iria fazer agora. Queria ligar para o Copo Cheio para ver se ele poderia vir ao meu quarto, poderíamos passar um tempo juntos e assim eu o convidaria para jantar na minha casa para eu não ter que ficar sozinha com minha família.
———— Copo Cheio! Tudo bem? Eu vou começar sendo sincera com você, esqueci seu nome e me lembro somente do apelido.
———— Bailey.
———— Isso, sabia que era algo assim.
———— Aconteceu alguma coisa?
———— Na verdade, sim. ———— falo ———— Você tem tratamento hoje?
———— Tenho. Inclusive, por que não está aqui?
———— Não é meu dia. ———— suspiro fundo ———— Se importa de passar no meu quarto depois? Meu irmão deixou o videogame dele aqui e a gente pode jogar. Gosta de videogame?
———— Gosto. E sim, posso passar no seu quarto depois do tratamento.
Sorri. Não acredito que sorri somente por esse motivo bobo que nenhum idiota liga. Sei que o tratamento dele dura duas horas, assim como o meu, então decidi dormir nesse tempo.
•••
Meu despertador tocava e eu abro os olhos. Minha cabeça não estava doendo tanto e meu corpo também não. Me levanto da minha maca e me arrumo, na verdade, arrumo meu cabelo, sem dúvidas, estava uma bagunça.
Ouço baterem na porta. Arrumei meu cateter antes de atender.
———— E aí.
É a primeira vez que eu digo isso. Eu deveria ter falado como uma pessoa normal.
———— Quer dizer, oi. Pode entrar. E ignora qualquer bagunça que tiver. ———— peguei o videogame de Lamar para conectar e o entreguei um dos controles.
Não lembro exatamente como Lamar havia conectado o jogo da última vez mas acho que consegui fazer isso de um jeito que não parecesse que eu sou uma idiota que não sabe fazer isso.
———— Você desenha?
———— É um hobby bobo.
———— Você desenha bem.
Sorri com o elogio.
———— Você tem algum hobby?
———— Eu cantava.
Quando ele disse no passado, entendi no mesmo segundo. Ele parou de cantar por causa do câncer. É uma merda isso.
———— Posso te fazer um convite?
———— Pode.
———— Quer jantar na casa dos meus pais no fim de semana? A não ser que tenha algo para fazer.
———— Não tenho, meu pai não vai vir me ver essa semana.
Que legal. O clima ficou horrível e eu estava odiando.
———— Posso ir na casa dos seus pais.
———— Eu vou te avisar, é horrível. Eles não sabem lidar com meu câncer então é complicado, espero mesmo que você ignore todo tipo de comentário vindo deles.
———— Tudo bem, posso ignorar os comentários de seus pais.
Não sou boa jogando videogame então perdi quase todas as partidas que jogamos durante a tarde. Vou ser sincera, foi divertido e eu faria isso em algum outro dia se eu tiver alguma oportunidade.
Às seis horas da tarde, ele foi embora. Me arrumei para dormir, mas antes liguei para o meu irmão e conversamos por quase uma hora. Depois que desliguei, fiquei pensando se foi boa ideia ter convidado alguém da mesma situação que eu para um jantar com meus pais. Mas agora já estava feito, então eu espero que seja melhor do que jantares anteriores que eu tive.
Não quis mais pensar nisso e acabei dormindo muito rápido.
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ʟɪᴠɪɴɢ ᴀ ʟᴏᴠᴇ ɪɴ ᴛʜᴇ ʜᴏsᴘɪᴛᴀʟ
FanfictionTer câncer de pulmão aos quinze anos e ter que morar em um hospital podem ser as piores coisas na vida de Shivani Paliwal. Ela é uma garota que já perdeu todas as esperanças possíveis de se livrar do câncer por conta dos últimos transplantes terem...