Eu estava usando a minha roupa mais apagada que posso usar em um jantar com os meus pais. Uma calça jeans, uma camisa branca e um suéter bege que eu nem sabia onde estava.
———— Posso arrumar seu catéter? ———— minha médica pergunta ———— Seus pais devem estar com saudades.
———— É, provavelmente.
———— Você tem o oxigênio na sua casa, Shiv? Caso você tenha falta de ar.
Confirmei. Eu tenho um certo receio de ter uma falta de ar na frente dos meus pais já que eles sempre surtam e nunca sabem o que fazer.
———— Acha que eu estou bonita?
———— Claro que está. ———— sorriu.
———— Convidei Bailey para ir comigo no jantar dos meus pais.
———— É sério? Isso é bom?
Essa era uma grande dúvida que eu tinha. E se tudo desse errado? O jantar poderia ser horrível e talvez ele nunca mais fale comigo.
———— Talvez tenha sido uma ideia idiota, não queria ficar sozinha em um jantar com meus pais, meu irmão e a Heyoon. E ele é a única companhia que eu tenho.
Foi a primeira vez que falei isso. É óbvio que eu não queria falar com ele naquele dia, mas eu o dei uma chance e acho que foi bom. Ele é meu único amigo, além de Hina, mas ela está em outro país.
Me olhei uma última vez no espelho antes de sair do meu quarto e voltar somente amanhã. Eu estava nervosa, o jantar poderia ser uma droga e tudo dar errado. Mas acho que eu preciso ser positiva nessa situação e parar de ficar nervosa.
Ando até o elevador e já o encontro em frente a porta de metal. Sorri. Ele usava uma calça moletom da cor cinza e um moletom preto.
———— Meus pais estão lá embaixo esperando.
Ele confirmou. A porta do elevador se abriu e nos entramos. Será que eu deveria falar alguma coisa ou deixar as coisas do jeito que estão?
Odiei esses minutos dentro do elevador. Foi um total silêncio, nós não falamos nada. E eu não sei o motivo.
Meus pais estavam fora do carro, sorrindo. Parei de andar, eu poderia voltar para o hospital e nunca mais sair de lá. Ter convidado ele para um jantar na casa dos meus pais foi minha pior atitude em toda a minha vida.
———— Ei, está tudo certo?
Me assusto quando ele segura minha mão. Mas eu também não quis soltar. Eu precisava que alguém segurasse minha mão.
———— Pode não soltar minha mão?
———— Posso.
Andamos até meus pais. Minha mãe me abraça no mesmo segundo. Não vou mentir que acabei estranhando o ato mas não hesitei em retribuir.
———— Mãe, esse é o Bailey. Bailey, esses são meus pais.
———— Prazer em conhecer vocês.
———— Igualmente. Nós já podemos ir.
Não sei o motivo, mas meus pais não falaram nada no carro. E eles sempre estavam falando sobre tudo, mas eu penso que também era bom eles ficarem em silêncio.
Meu irmão estava na porta de casa me esperando já que ele me ajudava a levar o meu oxigênio até em casa. Ele sorri.
———— Shiv! ———— me abraçou ———— Como você está?
———— Estou bem. Mãe, será que depois você pode pegar meu oxigênio reserva que está no meu quarto? Tenho receio desse acabar.
———— Está acabando esse, Shiv? ———— me virei quando ouço a pergunta.
———— Consigo durar com esse até o final do jantar.
Ou talvez não. Prefiro acreditar na opção que meu oxigênio possa durar até o final do jantar para que eu não tenha nenhuma falta de ar na frente dos meus pais. Ainda penso quando isso aconteceu na frente do Lamar. Heyoon estava dentro de casa, ela me abraçou quando me viu e conversou comigo por um tempo.
É bom saber que Bailey não soltou minha mão mesmo sabendo que podia. Acho que ele levou a sério a minha pergunta quando saímos do hospital.
———— E então, como se conheceram?
———— No tratamento do hospital.
Minha mãe me olhou sem entender. Ela não sabe que temos o mesmo câncer.
———— Tenho câncer de pulmão.
Suspirei fundo. Minha mãe estava surtando por dentro. Esse jantar era uma perda de tempo.
———— É bom saber que a Shiv achou um amigo.. da mesma.. situação que ela.
———— Ela não quis dizer isso. ———— sussurrei.
———— Claro que quis, sua mãe é bem parecida com a minha irmã. Não sabe aceitar o câncer que alguém da sua família tem.
Era exatamente isso. Minha mãe não sabe aceitar que tenho câncer. Meu pai finge que não se importa e me trata do jeito que sempre me tratou, e isso é ótimo.
———— Desculpa por ela.
———— Não tem que se desculpar, não é culpa sua.
———— Claro que é. Te convidei para vir aqui.
Ele riu.
———— É melhor que ficar na minha casa. Prefiro ficar com você.
Sorri. Foi fofo de se ouvir. E eu gostava de ficar com ele também.
———— E estão namorando?
Quase engasguei. Droga, será que a gente parece namorados?
———— Não, pai. Somos bons amigos.
Meu único amigo, na verdade.
Minhas costas começaram a doer. Era um sinal. Acho que meu oxigênio estava acabando.
———— Mãe, você pegou o oxigênio que eu te pedi?
———— Não. Eu ia pegar depois.
———— Droga, mãe! Preciso do oxigênio para não ter nenhuma falta de ar e avisei que esse estava quase acabando!
———— Desculpa, filha. Não sabia que era tão importante.
———— Ah, claro, você quer ver sua filha morta? Pois pode me ver morta se você acha que isso não é...
A falta de ar me atacou. Não teve um aviso prévio. E eu queria tanto que eu morresse agora, não quero mais falar com minha mãe depois dessa noite.
———— Eu vou pegar o oxigênio. ———— Lamar correu até meu quarto.
———— Vem cá, vou te levar até o sofá. É mais fácil de te ajudar.
Me sentei no sofá. Lamar trouxe o oxigênio e ajudou Bailey, do jeito que ele poderia. Ninguém da minha família sabe mexer no meu oxigênio. Eles não sabem nada do meu câncer.
———— Pronto, está tudo bem.
Deitei minha cabeça em seu ombro. Eu me sentia bem perto dele.
———— Obrigada. Achei que eu fosse morrer.
———— Enquanto eu estiver aqui com você, ninguém vai morrer.
Ele passou a mão no cabelo, como se fosse um carinho. Eu vou ser sincera, gostei muito disso.
———— Está tudo bem agora, fica tranquila. Está tudo bem.
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ʟɪᴠɪɴɢ ᴀ ʟᴏᴠᴇ ɪɴ ᴛʜᴇ ʜᴏsᴘɪᴛᴀʟ
FanfictionTer câncer de pulmão aos quinze anos e ter que morar em um hospital podem ser as piores coisas na vida de Shivani Paliwal. Ela é uma garota que já perdeu todas as esperanças possíveis de se livrar do câncer por conta dos últimos transplantes terem...