———— O tratamento não está ajudando. Mas a gente não tem mais nenhuma opção.
Meu pai andava de um lado para o outro depois de ouvir a notícia da minha médica a respeito do tratamento por conta do meu câncer. Eu sabia que não iria ajudar em nada mas não achei que não iria ter mais opções.
Descobri câncer de pulmão aos quinze anos, não foi por ter fumado cigarro ou algo parecido. Minha mãe teve esse mesmo câncer e morreu, então foi mais pelo histórico familiar.
Já tive três transplantes, mas nenhum adiantava em nada já que meu corpo não reagia e eu piorava cada vez mais. Mas ainda tenho esperanças de que eu não morra, talvez eu consiga viver por mais alguns anos.
———— Eu só preciso fazer um exame rápido para poder checar a sua respiração. ———— ela diz.
———— Eu vou buscar um café.
A porta se fecha e eu suspiro aliviada. Não é fácil ficar no mesmo lugar com meu pai, ele sempre comenta que estou igual a minha mãe, e não de aparência, é pela situação.
———— Ele está surtando.
———— Você acha? Não dá para perceber. Sua irmã não vem?
———— A gente não está se falando.
Isso não é novidade. Desde o câncer, minha irmã fica sem jeito perto de mim e a gente está sempre discutindo.
———— O que aconteceu dessa vez? Respira fundo.
———— A gente discutiu e ela disse que eu merecia o câncer.
Foi nossa primeira discussão séria, as outras eram por coisas bobas que não fariam diferenças nas nossas vidas. Mas acho que é essa foi a discussão que mais me machucou entre todas.
———— Ela não deve ter falado por mal, vocês discutiram e ela ficou irritada, acabou falando sem pensar.
———— Não tenho certeza.
———— Sua respiração está mais fraca do que antes.
———— Como está a lista de transplante? Ainda no mesmo lugar?
———— Ainda no mesmo lugar. Qual é, achava que você era o garoto que ainda tem esperança de um transplante chegar.
Eu tenho esperanças, mas não achei que o tratamento estava me matando cada vez mais. Achei que poderia melhorar e não ter que ficar tanto no hospital como agora, já que estou morando aqui ———— não por escolha, é claro. Por um momento, achei que iria voltar para casa mais cedo.
———— É. Ainda sou, não se preocupa. ———— sorri.
———— Tudo bem, tenta descansar um pouco.
Quando meu pai voltou para o quarto, conversamos um pouco mas nada que durasse muito. É difícil falar com ele desde o câncer porque ele não sabe me olhar de outro jeito a não ser com aquele olhar de pena de cachorro abandonado.
———— A Sabina passou na faculdade.
———— Que legal, bom para ela.
———— Filho, ela ia vir te ver.. mas não sabia se devia.
———— Que ótimo que ela sabe que não devia vir. ———— digo.
———— Ela está arrependida.
———— É sério que ela está arrependida? Se a minha irmã estivesse arrependida, ela iria vir ou iria me mandar mensagem pedindo desculpas pelo o que disse. Porra, pai, ela disse que eu merecia a droga do câncer.
Eu não poderia me estressar porque se não a falta de ar me atacava e as chances de eu morrer eram grandes. Então por isso que eu tentava ser "feliz" mesmo com a droga do câncer e aí eu não teria falta de ar, o que não causaria minha morte.
Meu pai se levantou da poltrona e pegou o oxigênio. Ele sabia como funcionava porque não é a primeira vez que isso acontece e também isso já aconteceu quando voltei para casa depois de um transplante que não deu certo. Tiveram que o ensinar como tinha que fazer caso acontecesse se eu estivesse em casa.
———— Pronto, filho, está tudo bem agora. ———— ele passa a mão no meu cabelo me acalmando.
Eu odiava esse câncer. Mesmo que eu sorisse todo dia por aí, essa droga me matava cada vez mais e não dava para esconder.
———— Você precisa descansar agora.
Olho para a porta. Suzie, a minha médica, entrou.
———— Uma das enfermeiras disse que você teve falta de ar, desculpa não ter vindo antes. ———— se aproximou ———— Como se sente?
Fiz um sinal com a mão que eu estava bem. Eu estava muito cansado para falar qualquer coisa agora.
———— Que bom. Preciso falar com seu pai agora, se importa?
———— Hm, não. Eu já volto, filho.
Sei que agora meu pai surtaria com qualquer notícia que escutaria agora. Ele já perdeu a mulher por conta dessa doença e agora poderia me perder em qualquer momento. Eu sei que é difícil para ele, eu consigo o entender.
Não sei o que eles conversaram porque acabei dormindo antes que meu pai pudesse comentar. E acho que eu também não queria saber.
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ʟɪᴠɪɴɢ ᴀ ʟᴏᴠᴇ ɪɴ ᴛʜᴇ ʜᴏsᴘɪᴛᴀʟ
Fiksi PenggemarTer câncer de pulmão aos quinze anos e ter que morar em um hospital podem ser as piores coisas na vida de Shivani Paliwal. Ela é uma garota que já perdeu todas as esperanças possíveis de se livrar do câncer por conta dos últimos transplantes terem...