Amarelo 🌼

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Jenne observava de longe a garota de cabelos cor-de-rosa que rabiscava seu caderno de desenhos há um bom tempo. Já havia virado hábito assisti-la de longe todas as manhãs.

Ambas estudavam no Internato Saint Eilish há anos, exclusivo para garotas, localizado no estado de Vermont. O internato funcionava integralmente, de Domingo à Domingo. As duas garotas estavam em seu último período do high school, embora não cursassem as mesmas disciplinas.

Jenna e Emmy passaram anos existindo dentro dos mesmos muros, mas como numa peça arranjada pelo destino, apenas em seus últimos momentos em Saint Eilish, Jenne notou a existência de Emmy.

- Isso está virando doentio - Nina, melhor amiga de Jenne, zombou, sentando ao lado da outra.

- Cale a boca, Nina! - a garota de pele pálida e cabelos e olhos castanhos exasperou, revirando os olhos - por que não vai cuidar da sua relação com o Noah?

- Porque minha relação com ele vai muito bem, obrigada. Eu não fico só olhando para ele, sem ter coragem de levantar para falar um A.

- Eu tenho coragem! - Jenne argumentou - só prefiro não incomodar.

- Eu deixo ela ganhar a caça à bandeiras dessa vez se você levantar e disser um oi para ela - Nina desafiou - você sabe o quanto ela tenta todo ano.

- Você deixaria mesmo? - Jenne arqueou uma sobrancelha, duvidosa, sabendo o quanto o evento era importante para ambas as garotas

- Dou a minha palavra.

Sem pensar duas vezes - porque se pensasse, não iria - Jenne levantou e caminhou em direção à mesa vizinha, sentando de frente para a garota de pele clara.

- Oi - cumprimentou, vacilante.

A outra parou o que estava fazendo e levantou os olhos, grandes olhos azuis, abrindo um sorriso radiante.

- Oi!

- Eu vi que você estava... hm.. desenhando..

- Sim! Eu vejo! Você me observa todas as manhãs! - constatou, fazendo Jenne corar em seu mais profundo tom de vermelho.

- Eu.. é.. desculpa por isso.

- Desculpa por isso - a outra garota ecoou - meu nome é Emmy - continuou, estendendo a mão para Jenne, que apertou - você quer ser minha amiga?

- Sua amiga? - Jenne perguntou, estranhando a súbita proximidade da outra - sim, claro! Meu nome é...

- Jenne, eu sei. Eu perguntei à Lily.

- Quem é Lily? E o que exatamente você perguntou? - Jenne questionou, curiosa e, ao mesmo tempo, hesitante.

- Lily é minha melhor amiga. E eu perguntei quem era a garota que ficava me olhando enquanto eu desenhava durante a manhã - Emmy respondeu, como se não fosse nada demais.

- Ah - Jenne corou mais uma vez.

- A Leah, namorada da Lily, disse que acha que é paixão. De acordo com o dicionário, paixão é um sentimento humano intenso e profundo, marcado pelo grande interesse e atração da pessoa apaixonada por algo ou alguém.

- Não é paixão! Não é nada disso que você está pensando - Jenne falou, na defensiva - é que... eu gosto de desenho!

- Ah - Emmy deixou os ombros caírem, derrotada - quer ver meu desenho?

- Eu adoraria!

O desenho era um rabisco perfeito, em preto e branco, do lugar no refeitório onde Jenne e Nina estavam sentadas. A riqueza de detalhes chocou Jenne.

- Isso é...

Jenne foi interrompida pelo barulho do sino do internato, fazendo com que Emmy levasse as duas mãos aos ouvidos e levantasse abruptamente, derrubando todo seu material no chão.

- Eu preciso... - Emmy falou, pegando as coisas do chão desajeitadamente - sair daqui - virou para sair, não sem antes dar mais uma olhada para trás - você... ainda quer ser minha amiga? - perguntou.

- Quero - Jenne respondeu, observando a outra assentir e ir embora apressadamente.

Jenne não pôde deixar de notar um pequeno caderno amarelo que ficara caído no chão, que Emmy não apanhara. Jenne pegou o objeto e caminhou em direção a Nina.

- O que diabos foi aquilo? - Nina perguntou, assim que Jenne voltou para pegar suas coisas - você a assustou ou algo assim?

- Achei que você que tinha sugerido - Jenne sorriu, pensando nos últimos minutos.

"Uma moeda por seus pensamentos", havia escrito na capa do caderno, deixando Jenne ainda mais intrigada. "Me dê todas as suas moedas", Jenne pensou, "meus pensamentos são todos seus agora".

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