𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑢𝑙𝑜 17

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Num momento vi alguém entrar, quis acreditar que era só fruto da minha imaginação, mas ao ouvir a voz e o nome: — Marco rosa — sair da sua boca o meu corpo todo tremeu.

Durante anos eu consegui esconder do mundo o que sentia ao pensar no que tinha acontecido por isso só mais tarde a minha mãe soube o que aconteceu, mas vê-lo ali era como se eu me quisesse enfiar num buraco ou fugir. O homem que ia fazer o meu piercing tinha uma caneta provavelmente para marcar o local do piercing, mas ele parou ao sentir o meu corpo tremer.

Não sabia se Rúben estava notando realmente o meu pânico interiormente, mas ele olhou de relance para o balcão e logo disse baixinho quase apressado:

— Por favor, tira ele daqui agora, ele fez algo muito grave, pelo amor de deus agora. — Rúben parecia mais em pânico do que eu quando disse isso.

Vi o homem sair do meu lado e se dirigir até a frente do balcão.

— Desculpe, mas infelizmente aqui ninguém poderá atender você, peço que procure outra loja — disse ele numa voz talvez mais alta que eu consegui ouvir. 

— Porquê? — perguntou Marco parecendo  não entender. 

— Política da loja, não podemos dar mais informação — disse o homem.
Antes mesmo de Marco ir embora ele veio em direção a mim, ficando-me olhando, de início sem dizer nada por apenas uns instantes, mas depois ele falou.

— Nos conhecemos? — disse ele não num tom de pergunta era mais num tom de afirmação. Neguei de início com a cabeça. Mas de novo ele disse, chegando mais perto.

— Sim, eu acho que realmente nos conhecemos — disse ele. Aquela foi como a real gota de água porque não apenas ele estava demasiado perto, como ele tinha tocado com o seu indicador o meu rosto.

— NÃO!! — eu gritei, a minha vontade era ter dito que ele não me podia tocar de novo, mas eu não o fiz, apenas me mantive no local, vendo Fernando o levar embora quase o arrastando.

Marco então saiu da loja parecendo com raiva, e de novo Fernando veio até mim passado uns instantes.

— Então você e o meu sobrinho, o Rúben se conhecem — disse ele, de novo mencionando isso, quase parecendo querer mudar de assunto. Mas dessa vez ele referiu que ele era o seu sobrinho o que até me provocou alguma curiosidade.

— Sim, — eu disse, o meu corpo ainda tremia. Fernando não fez logo o piercing deduzi que ele estava esperando o meu corpo se acalmar de certa forma. De repente uma das tatuadoras chegou perto de mim com um copo de água e pensei que tivesse açúcar nele. A minha mãe não estava lá, ela tinha ido à casa de banho, quando voltou, acho que ela notou o meu estado.

— Que aconteceu, meu amor? — perguntou a minha mãe tocando no meu braço de leve.

— Nada mãe está tudo bem...- eu disse tentando convencê-la.

Rúben saiu para fazer a sua tatuagem, quer dizer, ele foi levado pela tatuadora para outra salinha no momento em que a minha mãe voltou.

Algum tempo depois alguém bateu à porta, reparei nesse instante que eles tinham fechado a porta e nem sabia a razão, era óbvio qual era a razão, mas eu não estava focada no presente, a pessoa batia na porta com muita força quase desesperada.

Fernando saiu do meu lado e foi abrir e de novo eu ouvi a voz dele quase gritando.

— Quem me vai impedir agora de fazer uma tatuagem hen? — gritou Marco.

Reparei que ele me olhou de imediato mal entrou, como se buscasse algo, do lado havia um garoto mais magro, alto, cabelo loiro e curto, que eu não conhecia.

— Ah, é por causa dela é? Ela não me quer aqui? Ela não manda em nada, não me podem impedir — perguntou ele se referindo a mim.
— Não interessa a razão apenas não pode estar aqui — eu ouvi Fernando dizer.

Marco veio até mim e me encarou nos olhos por uma segunda vez, naquele momento, lágrimas começaram a escorrer do meu rosto, pensei ter coragem para fazer algo, fechei os punhos e quando pensei em tocá-lo, ele agarrou o meu pescoço, eu estava em pé, a minha mãe tentou agarrá-lo num braço, mas ele empurrou-a para longe.

Não sabia se Marco a tinha magoado, mas o aperto no meu pescoço fazia-me sentir falta de ar. Num momento senti a mão que ele tinha no meu pescoço já não estar lá, tinha sido tudo rápido que eu não tinha percebido ou raciocinado, o meu tempo de reação tinha sido lento. Fernando o tinha pegado por trás e o atirado literalmente contra a parede. Quando ele estava já na parede quase espalmado era Fernando que o apertava o pescoço, tinha raiva e adrenalina, movi-me até ele e ao ver Marco a única coisa que fiz foi-lhe dar uma joelhada no meio das pernas. Logo instantes depois Fernando o levou até à porta, reparei que o outro garoto estava lá imóvel, ele não tinha feito grande coisa, nem para me ajudar, nem para ajudar ele. Ao ter consciência da realidade, movi-me até à minha mãe vendo se ela estava bem e a realidade é que não tinha sido nada graças a Deus.

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