Capítulo 1

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Agosto de 2022

— Anne, acorde...

Acorde? Por que a pirata está me mandando acordar? Eu estou acordada. Aqui, grito.

— Anne, acorde agora!

Sinto que estão balançando meus ombros. Demoro mais do que o tempo previsto, para perceber que estou dormindo e alguém está me chamando. Abro, então, os olhos repentinamente e me sento na cama. Viro minha cabeça à procura de quem me despertou.

— O que foi, Charlotte?

Charlotte Evenwood é magnífica com seus grandes olhos azuis claros, cabelos escuros como ônix que descem em camadas lisas por suas costas. Sua beleza é daquelas que se destaca em meio a um salão cheio de donzelas arrumadas para seus pretendentes. O que seria suficiente para torná-la uma presa fácil para os piratas desprezíveis que vivem aqui, mas não é o que acontece.

— Você estava suando e gritando — ela está preocupada. — Os pesadelos voltaram?

— É — o colchão faz barulho quando me levanto. — Eles voltaram com tudo.

— Droga. Qual foi o da vez?

— Está um pouco confuso na minha mente, — aperto os olhos tentando me lembrar — mas eu sei que houve uma luta de espadas e uma mulher capturou um bebê...

— Um bebê? — Lottie fica confusa.

— É. Era uma menina, na verdade — balanço a cabeça. — É um sonho incomum, eu sei.

— Com certeza. E por que alguém raptaria um recém-nascido?

Dou de ombros.

— Isso eu já não sei — murmuro.

Charlotte suspira.

— Ok. Espero que um dia eles te tragam alguma explicação sobre o vazio que você sente sobre seu passado. — faço um aceno em concordância — Mas enfim... — ela abre um daqueles seus sorrisos cínicos, mudando rapidamente de tópico, do modo que só ela é capaz de fazer — Adivinha quem está à sua procura?

A ansiedade que eu estava sentindo é rapidamente substituída e uma onda de raiva me percorre.

— Sério? Ele não desiste mesmo, não é? — Reviro os olhos, com desdém.

— Temo que ele nunca irá, alguma parte daquele cérebro desprovido de inteligência, sempre criará esperanças — seus longos cílios acariciam sua bochecha quando ela pisca para mim.

— Simplificando, ele é burro — sorrio e ela sorri de volta.

— Certo... vou indo agora, você precisa se arrumar, capitã.

Assim que Charlotte sai eu troco minha camisola branca por um vestido preto trançado na parte da frente e que deixa meus ombros à mostra. Fecho o espartilho em cima e coloco um casaco de couro. Prendo meu cabelo para o lado com uma presilha, passo um batom vermelho escuro — é a minha marca registrada, como diz Lottie — e subo as escadas.

— Anne! — O timbre já conhecido chama minha atenção. Avisto um rapaz com trajes extravagantes demais e cabelos castanhos claros, que vão até os ombros. Brincos de argola pequenos preenchem os lóbulos de suas orelhas e uma barba toma conta de seu rosto.

— Carter... — Sussurro.

— Você está mesmo esplêndida hoje. Aliás como sempre.

Começo a andar.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora