Capítulo 7

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Novembro de 2022

— Hora de acordar.

Pressiono meus olhos e esfrego as mãos neles, quando Elizabeth empurra a cortina verde da janela redonda e a claridade irrompe no quarto.

— Pra que isso? — Solto um bocejo.

— Café da manhã — ela sibila animada — e depois, tenho planos para a gente.

— Você tem ou seria Benjamin?

Empurro o cobertor branco de cima de mim e me sento na cama. Elizabeth me encara.

— Quando estiver pronta, desça para o café da manhã — ela diz antes de fechar a porta da cabine atrás de si.

Tudo bem, então.

Respiro fundo e me arrasto até o banheiro. Tomo uma ducha rápida e, após escovar os dentes, passo um pouco de rímel e procuro a minha cor entre os batons. Satisfeita, solto o cabelo e volto para o quarto. Verifico a arara de roupas e opto por uma calça e um casaco pretos de couro e um cropped branco. Fecho o zíper da bota over de cano alto e saio da cabine.

Alguns de nós preferiram manter a tradição pirata, mas percorrendo pelo interior do navio de Drake, eu diria, com toda certeza, que nossos antepassados se sentiriam ofendidos. Os revestimentos chegam a ser luxuosos. Faço uma careta.

Embora eu tenha nascido nessa época, ainda estou tentando me acostumar com a globalização. Na minha infância, os costumes ainda eram os mesmos, já que vivia em um lugar do planeta onde os avanços tecnológicos demoram muito mais para chegar do que as outras regiões. O que é um alívio na verdade.

Paro em frente a uma parede cheia de quadros.

— Eu nunca entendi o conceito de se despejar tinta, criando rabiscos e a obra valer milhões de dólares. É caótico.

Jack para ao meu lado. Olho para a pintura de Pollock.

— As cores são muito equilibradas, não poderia ser aleatório. Se trata de uma questão de perspectiva. — Digo — Há quem veja o próprio universo...

— E o que você vê?

Sua pergunta me pega de surpresa. Volto minha atenção para o entrelaçado de cores.

— É o próprio caos. Pollock representou seu expressionismo abstrato por meio de rabiscos despejados em tinta. Só que as linhas preenchem cada espaço da pintura de uma forma pré-determinada. — Me viro para Jack — Até mesmo o caos pode ser organizado.

Ele parece sério e pensativo, quando se volta para a pintura e então para mim de novo.

— Ele só pegou baldes de tinta e despejou aí — Jack cruza os braços. — Não tem nada de organizado nisso, é uma miscelânea. Não seria nada estúpido se eu começasse a fazer o mesmo, ainda mais se a recompensa fosse rios de dinheiro.

Sorrio em meio a sua incredulidade. Ele é divertido.

— Não tenho como discordar. — Pisco para ele.

Jack suspira em uma risada. Seu sorriso é encantador. Na verdade, não consigo pensar em nada que o cara faça que não seja atraente.

A barba em seu rosto o faz parecer mais velho do que eu imagino que ele seja, além do seu cabelo que vai até os ombros.

Limpo a garganta.

— Acho que deveríamos ir... — ele murmura — estou faminto.

Aceno com a cabeça e o sigo por mais um corredor até subirmos as escadas para a área externa da embarcação. Seguimos em direção a uma espécie de buffet. Me admiro com a quantidade de opções que vejo.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora