Capítulo 25

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Julho de 2021

Quatro meses após o casamento, Nicholas morre.

— Confesso que nunca achei que você fosse capaz de fazer algo assim.

Minha mãe cruza as mãos sobre a madeira polida da mesa. Charlotte está sentada à sua frente, dando-lhe um sorriso cruel.

— Você apenas não me conhece o bastante.

— Espero que isso mude de agora em diante, então.

— O que quer dizer? — Seu sorriso vacila.

— Depois do que você fez, eu percebi que precisava de alguém como você na equipe. Destemida e perigosa. Que não tem medo de sujar as próprias mãos — Emma pisca para ela. — Alguém como eu.

Suspiro. Eu fico feliz que Charlotte possa vir comigo para o navio e que possamos conviver juntas, sem seu pai e sem casamento. Mas não que trabalhe para minha mãe. Sujar as mãos...

Há uma semana, um dos empregados, enquanto arrumava a casa, encontrou o corpo de Nicholas sendo arrastado por ninguém menos que, sua esposa. Deduziram, então, que ela o matou. E, por incrível que pareça, ela não demonstrou o contrário. Mas algo dentro de mim diz que não foi isso o que realmente aconteceu. Posso não a conhecer a tanto tempo como gostaria, mas tenho certeza de que ela não faria algo assim. Apostaria minhas cartas nisso.

— Mas e o meu pai? — Charlotte pergunta.

— Freddy? Oh, não — minha mãe dispensa a preocupação com um aceno de mão — ele já sabe sobre isso e concorda. Agora, só basta saber se você concorda também. Não vou pressioná-la, você pode pensar nisso com mais...

— Eu aceito — meu rosto estampa surpresa, quando Lottie concorda rapidamente.

— Ótimo.

Ambas trocam um aperto de mãos.

— Irão trazer todos os seus pertences em breve e Suzzy poderá mostrar-lhe o seu quarto — minha mãe se levanta. — Amanhã embarcaremos em Meratriz e você terá seu primeiro trabalho oficial.

Charlotte agradece e a sigo, enquanto saímos do escritório de minha mãe.

— Por que você fez isso? — Pergunto-lhe quando já estamos no meu quarto.

— Fiz o que?

— Aceitou o pedido da minha mãe sem pensar com clareza.

— Pensei que ficaria feliz com isso...

— E estou, é claro. Mas, Lottie, eu sei que você não matou Nicholas, ok? E como sei disso, eu sei que você não sujaria as mãos como minha mãe quer...

— Anne, como tem tanta certeza disso?

— Eu só tenho.

Uma pausa. Vários suspiros.

— Tudo bem. Eu já queria te contar mesmo, confio em você. Está certa, eu não o matei.

— Eu nunca estou errada — orgulho-me.

— Arrogante. — Ela revira os olhos — Lembra quando havia me dito: não se afogue aí, seria uma morte muito idiota?

— Sim, foi na noite do seu casamento. Me surpreende que você se lembre, estava bêbada.

— Exato e eu consigo me lembrar de tudo, tá? — Charlotte limpa a garganta — Continuando, a morte de Nicholas foi como você disse, idiota. Muito idiota.

— Ele se afogou na banheira?

— Não, não na banheira. No mar. — meus olhos se arregalam — Ele havia passado o dia todo fora cuidando de seus "negócios" — ela faz aspas no ar — ele estava era em um de seus clubes de strip-tease e acabou passando além da conta com o álcool. Em consequência disso, chegou tarde da noite em casa, acabei discutindo com ele e Nicholas saiu para fora, alegando querer nadar um pouco. Bem, como pôde ver, essa natação noturna não ocorreu muito bem. Eu pensei que ele havia voltado para o clube e nem me importei de ir lá olhar. Pela manhã, o encontrei sem vida e tentei arrastá-lo para dentro de casa, sem saber ao certo o que fazer, foi aí que me encontraram.

— Por que deixou-os acreditar que havia feito isso?

— Eu sabia que não acreditariam em mim se dissesse o contrário, preferi levar o crédito para sair por cima. Agora eles têm medo de mim e me respeitam — o canto do seu lábio levanta.

Penso por um momento.

— Está certa. Nesse mundo de homens, devemos levar um pouco de credibilidade. Além disso, o papel de vadia má combina com você — sorrio.

Charlotte me abraça.

— Fico feliz que tenha levado tudo isso numa boa e compreenda o que eu fiz.

— Claro. E eu fico feliz que tenha confiado em mim para dizer tudo isso.

— Amigas para sempre? — ela se afasta e levanta o mindinho.

— Que coisa mais brega — reviro os olhos.

— Não seja estraga-prazeres, Anne. Faça isso.

Sorrindo, seguro seu mindinho com o meu.

— Amigas para sempre.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora