Capítulo 26

137 8 6
                                    

12 de dezembro de 2022

Na calada da madrugada, uma mudança no ar me faz ficar alerta. Tudo se mantém em silêncio, como na noite em que fui trazida aqui. O mesmo portal aparece na minha frente e as mãos de Nox surgem, me puxando para dentro. A mesma sensação horripilante de antes corrói meu corpo, quando me vejo caindo novamente, mas dessa vez não há árvores para amortecer minha queda e sim um Nox com braços pacientes.

Sem conseguir desviar meus olhos do seu rosto moldado por um Deus das trevas, saio da sua segurança, encostando meus pés no chão.

— Por que me ajudou a fugir?

— Quem disse que eu fiz isso?

Fico apreensiva, ele é um amaldiçoado afinal.

— Quer se ver livre da maldição, não é?

— Certamente e salvarei outros como bônus.

Calamidade. Uma raiva irrompe por mim, sinto o fogo nas minhas veias. Toda a minha energia que havia sido drenada, voltando.

— Estou tão cansada de todos vocês me sequestrando, prendendo e levando de um lugar ao outro como se eu não fosse nada além de um tipo de remédio para uma grande peste. Vão se foder!

— Olha a boca, Lilith.

Sinto cada gota da minha magia queimar, como uma grande fogueira, meu corpo. Sem conseguir contê-lo mais, busco sua fonte e deixo-a irradiar para Nox.

— Eu até gosto desse apelido, cai bem em mim. Eu irei me tornar o próprio espírito das sombras, mas não me submeterei mais...

Paro de falar quando algo me derruba. Sinto uma dor latejante nas costas, como se eu tivesse sido arranhada. Viro-me, vendo várias criaturas ao meu redor. Os amaldiçoados. Um deles tem mãos com unhas enormes e afiadas, o que imagino que tenha me machucado. São seres dos mais diversos corpos e faces, alguns até sem rostos. Volto-me para Nox, não vendo nenhum efeito do meu poder. Droga.

— Você está malditamente ferrada, mas como não podemos matá-la antes do anoitecer, trate de aproveitar suas últimas horas — Nox se aproxima de mim e, como se eu não pesasse nada, me joga por suas costas.

Como sei que seria inútil e só serviria para irritá-lo ainda mais, não tento me soltar. Apenas fico quieta, enquanto ele me carrega. Ainda estamos na floresta, como noto. Mas em outro lugar. Ouço o barulho de água caindo e Nox me solta em uma pedra. Olho para a cachoeira e me surpreendo com a vista. É, de longe, o lugar mais exuberante que eu já vi. Sua linda cor azul turquesa lhe dá um cenário surreal.

— Onde estamos? — Pergunto.

— Essa é a cachoeira Devil falls. A floresta: Underworld Witches.

Bruxos do submundo. Já ouvi sobre esse lugar, só não sei onde.

— Sabe, não podemos matá-la agora, mas ainda podemos nos divertir um pouquinho... — um amaldiçoado com dentes afiados e orelhas élficas se aproxima de mim.

— E eu posso estar aqui com vocês, mas isso não significa que eu facilitarei.

Faço um bom punhado de água adentrar por sua boca e o assisto engasgando, com um enorme sorriso no rosto.

— Chega de brincadeiras, Anne. Venha.

Nox me coloca em suas costas novamente e eu lanço o dedo do meio para o idiota que está se recuperando do quase afogamento.

— Sua maldita! — Ele corre até mim.

Nox se vira, impedindo seu ataque.

— Não seja estúpido, Charles.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora