Capítulo 9

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      O ar mais do que gélido sopra no meu rosto, me fazendo estremecer. As ondas, tempestuosas, batem no casco do navio, causando barulhos horripilantes.

      Não importa mais qual seja o motivo pelo qual Benjamin tem me mantido em seu navio, eu sairei daqui e será agora. Ainda estou irritada com a sua recusa em aceitar meu mais simples pedido. Eu ganhei o jogo ora essa e mesmo se eu tivesse usado a palavra agora, eu sei que seu contorno da interpretação foi apenas uma desculpa. Uma brecha que eu me arrependo de ter deixado aberta.

      Escondo-me na parte de trás do convés, enquanto dois marujos passam. Espero-os descerem as escadas e só então, volto a seguir meu caminho. Estou no convés mais alto do Fearless, o convés dos botes.

     Há dois botes aqui, em ambos os lados do navio. Sigo para o que está instalado na parte traseira, à bombordo. Outro pirata surge e não encontro um lugar para me esconder. Merda.

      — O que temos aqui? — Ele se aproxima — Está pensando em fugir?

      — Eu? Não...

      Coloco a palma da minha mão sobre a testa e inclino o corpo para baixo. Com a tontura fingida, tropeço em meus pés e caio sobre ele.

      — O que é isso? — Suas mãos aparecem para me levantar.

      Majestosamente, levo minha mão até o lado do seu cinto, onde há uma pequena lâmina e escondo-a na minha jaqueta.

      — Apenas não me sinto bem... não sei o que há de errado. — Sussurro, quase desmaiando.

      — Ei, ei, ei... acorde. Vou levá-la até o Benjamin, ele saberá o que fazer.

      O cara coloca um dos meus braços ao redor de seus ombros, me carregando para o andar de baixo. Antes que possamos chegar ao primeiro degrau, coloco minha mão sobre sua boca, abafando seu grito, enquanto finco a ponta afiada de sua adaga bem em seu coração.

      Seguro-o até ele cair ao chão, lentamente, para não causar nenhum barulho indesejado. Vejo sua vida se esvaindo e retiro a faca do seu peito, limpando o sangue nas suas roupas. Tenho duas adagas agora.

      Olho para todos os lados, procurando se não há ninguém por perto que possa ter testemunhado o ocorrido. Satisfeita por não encontrar qualquer um que seja, me apresso em chegar ao bote. Estando lá, desamarro-o do calço de madeira em que ele se encontra e começo a abaixar o turco manualmente.

      — O que houve aqui?

      Suspiros seguem-se atrás de mim. Olho na direção da voz, vendo uma mulher e dois homens sobre o corpo falecido. Droga. Eles ainda não me viram, mas é apenas uma questão de tempo. Puxo a adaga e começo a cortar as cordas, se eu for mais depressa...

      — Ali! — Alguém grita.

      Porra. Termino um lado e apresso-me do outro, enquanto os piratas vêm até mim. Afasto-me a tempo de desviar de alguém com sua arma. O pequeno fio se estica, até soltar. Em seguida, as gotas de água se levantam, provocando um barulho tênue quando o bote cai no oceano.

      Dou a volta nos idiotas e corro, fugindo deles. Vejo para onde o bote está seguindo e subo na balaustrada.

     — É melhor você não fazer nada imbecil, gracinha. Ou irá se arrepender.

      Viro a cabeça para trás vendo-os se aproximando de mim. Entrego-lhes um sorriso falso e levanto minha mão, manejando-a como um tchau, antes de pular.

      Afundo no oceano quando caio, calafrios passando por todo o meu corpo diante a temperatura congelante da água. Mesmo que nesse local seja verão, a noite ainda é fria. Com dificuldade, levo meu corpo de volta para a superfície, nadando até dar de encontro com a pequena embarcação salva-vidas. Batendo o queixo, me enfio para dentro dela, pegando os dois remos. Coloco-os na água e começo a remar para longe.

      — Você não vai fugir tão facilmente — alguém grita para mim.

      Olho para trás a tempo de ver um arco disparando flechas em minha direção. Arregalo os olhos. Merda. Merda. Merda. Tento desviar, mas não sou rápida o bastante e, consequentemente, o grande balão ao qual me encontro é acertado.

      A alta pressão de ar que continha internamente no bote expande-se de uma vez, ampliando o furo e provocando uma forte vibração. Em outras palavras, estou afundando. Não tem nenhuma chance de eu permanecer viva nadando nessa glacial imensidão azul.   Cerro minha mandíbula, diante da constatação desse fato. Outra flecha é liberada e dessa vez vem direto para mim. Bem, talvez não seja a temperatura da água que me mate, afinal.

      O bote vira e eu afundo novamente no mar, o azul ficando manchado de vermelho escuro. Minha visão começa a ficar turva e eu só tenho um vislumbre de alguém pulando na água, antes de tudo ficar escuro.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora