Capítulo 4

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Novembro de 2022

O que? Abro a boca e a fecho de novo. Eu quase nunca vi Benjamin pessoalmente. Sempre quem geria os negócios era seu pai ou seu irmão, Bruce. Mas, bem, com os dois mortos é ele quem cuida de tudo agora. Era só uma questão de tempo até ele vir atrás de mim. Seu irmão queria a "paz" entre nossas famílias, mas eu posso ter ajudado a causar sua morte, quebrando o acordo.

— Procure Charlotte e diga para ela ir ao meu escritório agora. — Ordeno a Jacob — Depois, você já sabe o que fazer. Temos que ser rápidos.

— Sim, capitã.

O dispenso com um aceno de mão e o sigo para fora. No corredor nos separamos, eu sigo pelo lado direito e ele pelo esquerdo. Chego na porta do meu escritório e entro. Me aproximo do enorme retrato pendurado na parede em frente. Além de sua pintura e valor inestimáveis, ele não é apenas uma decoração. Segurando na sua borda, puxo-o na minha direção. Um pequeno cofre preto com dígitos aparece no meu campo de visão. Digito a senha e após um clique, a porta se abre.

Eu tenho outro cofre maior, onde eu guardo todo o ouro e joias roubadas. Esse é o meu pessoal, ninguém sabe sobre ele. Procuro pelo pingente de caveira da pequena chave de bronze. Encontro-a e vou trancar o cofre novamente, mas um objeto me chama a atenção. Levo meus dedos até ele e sinto o ferro frio em contato com a pele. A corda prata balança e observo os números romanos. O pequeno relógio de bolso marca 14:35, mas não está funcionando. O vidro está quebrado e tento dar corda, mas nada acontece. Os ponteiros continuam no mesmo lugar, eles apenas marcam esse horário como se marcassem um momento que precisava ser lembrado, o tempo parou quando o momento acabou. Sem tique-taque.

Não entendo porque esse mecanismo chamou minha atenção, mas sempre que eu abro esse cofre é como se eu sentisse uma força me chamando para ele, só não entendo o porquê. Tento vasculhar na minha memória, mas eu não consigo me lembrar de como o consegui. Nunca me lembro. Frustrada, o coloco de volta e tranco o erário. Deixando o quadro novamente no lugar, vou até a mesa de cerejeira e abro a primeira gaveta. Pego o mapa enrolado ali, depois de fechá-la, abro o segundo compartimento e pego o diário com a capa envelhecida. Deixo-os sobre a mesa e avisto minha espada no canto da sala, coloco-a na bainha disposta no meu quadril esquerdo e me sento na cadeira. Logo, uma batida soa na porta.

— Entre.

Charlotte entra e ela parece que correu uma maratona. Meus lábios se curvam em divertimento diante de seu sedentarismo.

— O que foi? — Ela murmura ofegante.

— Nada — sorrio mais.

Charlotte se senta à minha frente.

— Jacob me contou que Benjamin está vindo.

— Sim e você se lembra de que eu ajudei a matar o irmão dele...

— Então Jeanne realmente o matou?

— Bem, eu não tive notícias. Mas é certo que sim. — Suspiro — Ouça. Ele tem algum plano e eu não faço ideia do que seja, mas temos que levar tudo em consideração. Não importa o que aconteça, você ficará escondida.

— Não...

— Esse não foi um pedido — a interrompo. — Você ficará com o mapa e com o diário — aponto para os dois objetos na mesa. — Seja o que houver, você terá estruturas para saber de tudo o que precisar.

— Para o quê? Tipo, um resgate?

— Talvez.

Empurro a carta e o caderno em sua direção e ela os pega. Saio da cadeira e me aproximo da parede oposta, onde contém uma estante. Livros preenchem cada espaço das quatro prateleiras. Navego pelos anos 70,80,90... E ali. Pairo minha mão sobre a obra "Mr. William Shakespeare Comedies, Histories, & Tragedies". É uma edição original de 1623, contém quase todas as histórias de Shakespeare, incluindo Romeu e Julieta e Hamlet. Meus dedos tremulam sobre a capa e eu me lembro da minha mãe. Me lembro de quando aprendi a ler com esse livro. Engulo as lembranças e o puxo para o lado. Dou alguns passos para trás enquanto o armário se mexe. Como uma porta, ele se abre e revela um quarto oculto. Alcanço o interruptor e acendo as luzes.

Me viro para Charlotte e ela se aproxima, apreciando o ambiente ornamentado e começa a sorrir, animada.

— Não acredito que você escondeu esse lugar de mim, você sabe como eu amo essas coisas...

— Sim, sim... — a interrompo. — Entre e fique aí, ok?

— Nem precisa pedir duas vezes.

Charlotte passa pelo portal e a estante volta ao seu lugar habitual.

Anne!

Um grito soa e eu saio correndo do escritório. Meratriz não parou de navegar, mas parece que eles já conseguiram nos alcançar. Claro.

O anoitecer poderia estar ao meu favor, mas poderia estar ao dele também, pela névoa e a lua cheia que brilha intensamente no céu. Henry se aproxima de mim.

— Já prepararam os canhões?

— Sim. Ordem para liberar?

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora