Capítulo 19

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Dezembro de 2022

A sensação de poder se esvai aos poucos no meu corpo e eu volto a ser eu mesma. A compreensão do que eu acabei de fazer cai como um relâmpago no meu cérebro. Observo cada uma das pessoas, agora sem vida e quase entro em um ataque de pânico. Ai, meu Deus.

Me deixo cair de joelhos e a tábua range sob meu corpo. Lágrimas lavam minhas bochechas e, então, eu me lembro de algo. Desço, correndo, as escadas e, logo, me encontro em frente ao calabouço. Procuro por entre as celas e, a cabeça de Charlotte se vira para mim, quando me nota.

Pego as chaves penduradas em um prego e destranco a grade. Lottie me abraça, aliviada.

— Achei que haviam matado você — ela confessa, entre lágrimas.

— Não seria tão fácil — tento sorrir, mas sai mais como um resmungo.

— O que houve lá em cima? — Charlotte pergunta, quando me solta.

— Acho que você terá que se sentar para ouvir o que eu tenho a dizer.

Conto tudo o que aconteceu minutos antes de eu buscá-la. Ela apenas se mantém imóvel.

— Diga alguma coisa, por favor.

— Eu... não sei o que dizer, Anne... — ela suspira — mas você consegue ver o quanto isso é legal né? Você tem poderes, quem diria?

Bufo em uma risada.

— Eu tenho, não tenho?

— Nos vemos no submundo, querido — ela imita minhas últimas palavras para Carter.

— Eu não falo assim... — alargo o sorriso.

— Oh, você fala assim, sim.

Reviro os olhos.

— Pode me dar uma amostra? — Lottie me olha pidona.

— Não sei se consigo.

Fecho os olhos e puxo o ar, me concentrando naquelas garras ao qual eu havia me apoiado antes, mas não sinto nada. Frustrada, solto o ar e olho para Charlotte.

— Tudo bem, mas você precisa aprender a controlá-lo.

Aceno em concordância.

— E eu posso ajudá-la.

Uma voz doce chama nossa atenção. Merida está vindo em nossa direção.

— Como você entrou aqui...? — deixo o ponto de interrogação no ar, quando vejo suas mãos envoltas em fogo — Você também tem poderes?

— Sim e por isso disse que posso ajudá-la a controlar o seu.

Estreito os olhos.

— E por qual motivo você faria isso?

— Uma amiga de Ben, é minha amiga também...

— Não sou amiga dele.

— Anne, por favor, não seja ranzinza e aceite ajuda quando lhe oferecem de bom grado. Nem todos tem segundas intenções, apenas confie em mim.

Abro a boca para contrariar, mas Elizabeth fala antes:

— Ela aceita, obrigada.

Olho para ela, um sinal de pergunta cobre meu rosto.

— Eu quero muito vê-la em combate — seus cílios piscam com pura inocência fingida.

Bufo e, como nunca pensei que poderia fazer na vida, aceito a ajuda de Merida.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora