Capítulo 8

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      "Feche os olhos, meu bem

        Não há nada que possa te assustar

       Não há medo que te impeça de sonhar

       Feche os olhos, meu bem

       Não há nada que possa te assustar

       Não há medo que te impeça de sonhar

      Como penas bailando levemente no ar

      Cantarei docemente

      Nada vai te acordar"

      Ela balançava a criança, mas nada adiantava. A bebê só chorava e chorava.

      Acordo em um sobressalto. Minha respiração ofegante. Eu conheço essa voz, ela é tão familiar e, com toda certeza, não é de Emma... ela é doce assim como a música... esses sonhos... eu não consigo entender. Eu sinto que não são apenas isso, sonhos, eles são reais, têm de ser reais.

      Um sentimento familiar me corrói. Preciso descobrir essa verdade oculta sobre meu passado. O que meus sonhos querem me dizer?

      O colchão faz barulho quando me levanto. O relógio ao lado da cabeceira marca 01:10 AM. Ainda estou confusa e, certamente, preciso de respostas. Mas não deixo de pensar em como é a hora perfeita para eu fugir. Charlotte deve estar em algum lugar por aí, pronta para me salvar, eu facilitarei seu trabalho. Deslizo meus pés descalços pela pantufa cinza e me arrasto para fora da cabine.

      Confundo um pouco as direções por causa do escuro, mas sigo pelo corredor até chegar à área principal. Estou prestes a subir as escadas, quando noto uma figura em meio ao escuro. Merda. Talvez ele não tenha me visto e eu consiga continuar com meu plano... essa ideia desaparece tão rápido como chegou, quando ele acende uma luz e seu olhar recai direto em mim. Talvez eu consiga ser mais rápida...

      Suspiro, determinada a deixar a fuga para outro dia. Ignoro Benjamin e sigo para a cozinha, fingindo que era essa a minha real intenção quando resolvi descer até aqui. Abro uma das portas da geladeira, pegando um pote de sorvete de baunilha. Procuro pelos talheres, até encontrar uma colher e pego-a. O lustre sobre a ilha da cozinha, em adição com a luz da lua, ilumina o interior da cozinha. Me sento na bancada e aprecio a presença bem-vinda da consistência branca e gelada.

      — Não deveria estar dormindo?

      A voz profunda de Benjamin diz atrás de mim.

      — Eu poderia dizer o mesmo para você.

      Finalmente me viro para ele e meus olhos traidores captam no mesmo segundo o que eu não havia reparado antes, seu peito nu. O cós da sua calça de moletom cai um pouco por seu quadril e as luzes da lua dançam por seu abdômen tonificado, tremeluzindo sua pele bronzeada. Minha mãe estava certa quando dizia que a beleza é a arma do inimigo, pois Benjamin é uma bela tentação...

      Engulo em seco e desvio o olhar. Seu rosto está encoberto pelas sombras, mas consigo senti-lo me observando. De repente me dou conta de que estou apenas de camiseta e para piorar, ela quase não chega às minhas coxas. Tento ajustá-la melhor ao meu corpo e pego o pote em cima da bancada.

      — Espero que não se importe. — Digo, apontando para o sorvete com a colher — Mas na real, eu não estou nem aí.

      Benjamin se aproxima, adentrando a cozinha, seu rosto, então, se tornando visível pela claridade. Fico nervosa quando ele se abaixa, seus dedos fazendo contato com os meus assim que ele pega a colher. Minha respiração se torna superficial enquanto o assisto mergulhar o talher no pote para em seguida, levá-lo à boca.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora