Capítulo 20

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Setembro de 2022

      Anne

      Deito sob o sol quente. Os grãos de areia fazendo cócegas na minha pele e grudando na camada de protetor solar que passei.

      A vantagem de ser pirata é que eu posso aproveitar cada praia, uma mais paradisíaca que a outra.

      Essa, em que estou agora, é uma delas. Levanto o tórax e coloco os braços para trás, respirando, satisfeita, o ar leve e puro, enquanto aprecio a bela vista.

      As águas cristalinas, a areia branca, as rochas em seu formato caracterizado e o fato de que é isolada, tornam a praia Sweet Oblivion, o meu paraíso particular.

      Hoje foi um dia ruim. Prenderam dois dos meus marujos e eu quase fui levada também, se não fosse Charlotte. Fiquei sabendo sobre um tesouro, mas não passava de uma armadilha. Os militares nos aguardavam, armados das unhas aos dentes. Olho para baixo, para a ferida, já fechada, na barriga. Enfim, eu mereço um descanso.

      Com um bom tempo bronzeando, abaixo um pouco a tira do biquíni preto de baixo e fico feliz em ver a marquinha. Mesmo que minha mãe tenha sido uma verdadeira vaca, tenho de agradecer pela genética boa que ela me proporcionou. Eu tenho o corpo perfeito sem precisar fazer academia. Graças a Deus. Eu realmente odeio fazer exercícios físicos. Lutar com espadas já é cansativo por si só e é a única coisa que faço.

      Levanto os óculos de sol pela cabeça e viro-me. Estreito os olhos vendo uma figura se aproximar ao longe. Abaixo-me, pegando a saída de praia. Deslizo-a pela cabeça, vestindo ao corpo.

      Toda a minha admiração e felicidade se esvai quando percebo que a figura é Carter. Que grande filho da puta.

      Já era para eu ter matado o idiota. Por que eu não fiz isso ainda mesmo?

      Ah, é porque ele não vale o meu tempo. É inconveniente, mas inofensivo.

      — Veio finalmente cobrar sua ameaça? — Digo quando ele está mais próximo.

      — Ameaça? Eu não me referiria ao meu pedido como uma ameaça — ele se sente ofendido.

      — Mas para mim é.

      Ele suspira.

      — Eu venho tendo paciência... venho esperando até você ter idade...

      Não consigo resistir e começo a gargalhar. Alto.

      — Está brincando comigo? Meu Deus... você é a pessoa mais imbecil que eu conheço. Qual é o seu problema, cara?

      — Pare de me insultar, Anne — sua voz é firme.

      Finalmente, consigo parar de sorrir.

      — Então pare de me dar motivos para tal coisa — cruzo os braços.

      Carter geme, me encarando.

      — Ei... éramos amigos na infância, crescemos juntos. Você se lembra, não se lembra?

      — Sim, Carter. Eu me lembro de tudo.

      — Então... éramos felizes juntos...

      — Éramos apenas crianças.

      — Poderíamos ser felizes agora — ele me ignora.

      — Quem disse que eu não sou feliz? — Contraponho.

      — Você é?

      — Certamente. Por que não seria?

      — Porque você não tem um marido...

      Sorrio novamente, zombando dele.

      — Ai, meu Deus. Você é inacreditável. Eu não preciso da porra de um homem para encontrar a felicidade, eu posso fazer isso muito bem sozinha, obrigada.

      Dou alguns passos para passar por ele, mas ele me segura pelo braço.

      — Ei... — começo a resmungar, mas sou interrompida.

      Sem que eu possa perceber, sua boca está sobre a minha. Faminta e desesperada. Ele a pressiona tão forte que seus dentes machucam meus lábios. Coloco minhas mãos no seu peito, o empurrando para trás. Ele não se move. Empurro com mais força e consigo me afastar de seu beijo agressivo e hediondo.

      — O que foi? — Sua respiração está acelerada.

      Encaro-o. Meus olhos fulminantes. Fecho minha mão em punho e dou-lhe um soco bem dado no rosto. Quando trago minha mão de volta, minhas articulações doem. Carter coloca a mão sobre o nariz, ele suspira, surpresa e descrença nadando em seu olhar, quando ele traz seus dedos para si e vê que estão vermelhos.

      — Eu. Não. Vou. Me. Casar. Com. Você. Me esqueça!

      Dito isto, saio andando. Pisando duro. Eu odeio esse cara. Como ele ousou?

      Oh, Suzzy. Eu sinto tanto... talvez eu devesse reconsiderar a ideia de matá-lo.

Ouço um barulho de motor sendo ligado e viro-me. Vejo alguém saindo em um jet-ski e mesmo que eu esteja longe e não consiga vê-lo direito, por algum motivo, a pessoa me parece tão familiar.

                                            ***

     Ben

      Ainda não entendo porque ela não veio me procurar mesmo depois de sua mãe falecer, ela era a única coisa que a impedia de podermos nos aproximar. Mas tenho certeza de que ela teve motivos. Ou, simplesmente, Anne achou melhor se afastar, talvez pensou que como éramos apenas crianças, não foi relevante. Gostávamos de brincar juntos, mas os anos se passaram e isso acabou. Mas pra mim não é assim. Foi importante, ela é importante. E eu não consigo sobreviver sem tentar. Preciso tentar falar com ela, reconquistá-la. É isso o que estou prestes a fazer.

      Pedi a Jack para descobrir seu paradeiro e ele o fez. Descobriu que ela estava em um saque hoje, mas não deu certo e quase foi pega. E agora estava na praia Sweet Oblivion. Não estou tão longe, mas pego um jet-ski para chegar mais rápido, antes que ela possa sair.

Amarro a embarcação a cinquenta metros de distância da areia, quando chego. Ando para a frente, olhando para todos os lados, procurando o vestígio de Anne. Encontro-a do outro lado da praia. Em pé na areia, olhando para um ponto. Meu coração acelera somente por vê-la. Faz tanto tempo... Ela ficou tão linda. Meu coração se amolece.

      Começo a andar em sua direção. Meu sorriso de orelha a orelha. Mas paro quando vejo um homem se aproximando dela. Meu sorriso diminui conforme vejo-os conversando. Não consigo ouvi-los, mas percebo que Anne está sorrindo. Pisco, enquanto os observo. Anne vai até ele e paro de respirar quando ele a beija. Todas as noites ao qual meu pai me ensinou obrigou a dormir com mulheres ou todas as surras que levei por qualquer erro e fraqueza, não se comparam com a dor que estou sentindo agora. A grande ferida no meu coração e na minha alma. Vê-la com outra pessoa... dói pra caralho.

      Não posso mais ficar aqui. Com a respiração entrecortada, tropeço na areia enquanto me aproximo do jet-ski. Desamarro-o, ligando o motor e arrancando. Minha visão está turva, tento respirar e pensar com clareza, mas é inútil. Não consigo me acalmar. Mas tudo bem. Anne parecia feliz. Dizem que quando se ama alguém, você deve deixar a pessoa ser feliz. Mesmo que não seja com você.

Coração PirataOnde histórias criam vida. Descubra agora