TEMPESTADE DE PRIMAVERA

DIGA-ME O QUE DESEJA | 24

capítulo vinte e quatro
Nyx

  DEPOIS QUE MINHA MÃE E JASMIN retornaram de seja-lá-onde-estavam, percebi que ela parecia mais leve, até mesmo confortável ao entrar na sala de jantar.

A discussão que acontecia na mesa entre meu pai e meu tio, fizeram com que ninguém reparasse na chegada das duas.

  Jasmin se sentou ao meu lado e sorriu para mim antes de selar nossos lábios em um beijo rápido. Fiquei um pouco surpreso, já que eu não sabia como ela se sentia em relação à demonstrações de afeto na frente da minha família.

  Aquilo me deixou mais à vontade para segurar sua mão sobre a mesa. Ela olhou para os nossos dedos entrelaçados e apenas abriu um sorriso para mim.

  — Os dois bastardos molengas estão fora de forma sim! — Cassian deu um tapa na mesa que fez os pratos e taças tremerem. Depois apontou para meu pai e Azriel.

  — Não tenho nada molenga aqui. Se quiser posso te mostrar — meu pai respondeu, quase se levantando da cadeira.

  Minha mãe e tia Nestha faziam alguma oração silenciosa à Mãe, pedindo por paciência, talvez. Azriel apenas olhava para os irmãos com um pequeno sorriso.

  — Não vai querer medir sua envergadura mediana comigo Rhys — Cassian disse de forma atrevida e meu pai era o retrato do ultraje.

  — Já acabaram com essa briga ridícula? — Nestha perguntou para os dois, cruzando os braços — Todos nós sabemos quem vence essa competição idiota e com certeza não nenhum dos dois imbecís.

  Gwyn parecia querer ser engolida pela sua cadeira enquanto Azriel tinha um sorriso orgulhoso no rosto.

  — É sempre tão divertido assim? — Jasmin sussurrou para mim.

  — Nunca é entediante. — sussurrei de volta.

☾

Jasmin

Várias conversas aconteceram naquela mesa. Por incrível que pareça, eu participei de quase todas. Às vezes eu virava meu rosto para observar Nyx e o encontrava já me observando. Aqueles olhos azul-violeta brilhavam quando encontravam os meus.

— Venha. — ele disse à mim, se levantando e ainda segurando minha mão na sua — Quero lhe mostrar algo.

  Eu não hesitei nem um segundo antes de me levantar e me deixar ser guiada por ele pela casa. Todos estavam tão bêbados – tirando Feyre, que tinha optado por suco aquela noite – que nem devem ter percebido que nos retiramos da sala de jantar.

  Subimos os degraus até chegarmos em um corredor com várias portas, provavelmente quartos.

  Entramos na porta do fim do corredor e pelo cheiro, percebi que era o quarto de Nyx. Nós entramos e ele fechou a porta antes de caminhar pelo quarto para procurar algo.

  Havia uma mesa com alguns papéis, todos organizados em pilhas, mas também tinham algumas adagas espalhadas na superfície de obsidiana.

  Sua cama era enorme, provavelmente para acomodar suas asas – quando ele estivesse às usando – sem que elas tocassem no chão. Os lençóis de seda eram negros, apenas alguns tons mais escuros que o cabelo do próprio Nyx.

  Havia uma porta que deduzi ser para o banheiro e uma porta maior ainda que estava aberta, deixando a brisa fria entrar, mas também mostrando a vista da Cidade de Luz Estelar. Caminhei até aquela varanda e olhei para aquela vista fantástica de Velaris em festa.

  O toque de Nyx na minha cintura, fez com que eu me virasse para encontrá-lo segurando duas coisas. Ele estendeu o quadro para mim e eu fiquei sem palavras.

  Era uma pintura nossa. Era a imagem do dia que nos conhecemos, no baile dos Grão-Senhores na Corte Diurna. Na pintura, Nyx estava me encurralando com seus braços, sorrindo como um gato. E eu estava encurralada contra o parapeito da varanda, mas mesmo assim, meu rosto transmitia meu atrevimento. Ele havia guardado cada detalhe. A forma que meus fios de cabelo loiros desciam pelas minhas costas. O meu vestido. A cor dos meus olhos. Até mesmo o pequeno sinal que eu tinha na coxa esquerda. Ele guardou cada mínimo detalhe.

  Abaixei o quadro para poder vê-lo. Seus olhos encaravam os meus com expectativa e eu deixei que ele visse. Deixei que ele visse o que meus olhos transmitiam silenciosamente.

  Ele levantou sua mão entre nós dois, nela havia uma pequena caixa preta de veludo. Encostei o quadro na parede mais próxima e peguei a caixinha de suas mãos.

  Dentro havia uma pulseira de prata. Seu pingente era uma bolinha de cristal da cor azul-escuro com vários pontinhos brilhantes, parecia com o...

  — É para quando você não estiver aqui. Sei que ama as estrelas da minha Corte, então dei um jeito para que você pudesse vê-las sempre que desejasse. — Nyx disse, completando meus pensamentos.

  Sorri largamente para ele, tentando ao máximo conter minhas lágrimas.

  — Não é somente as estrelas que eu amo nesta Corte. — eu disse de forma quase inaudível, mas mesmo assim os olhos de Nyx se arregalaram um pouco.

  Ele deu um passo, depois outro e outro, parando a um palmo de distância de mim. Engoli em seco e levantei meu pulso para ele. Ele encaixou o fecho da pulseira e minhas mãos foram para a sua nuca, acariciando os curtos fios de cabelo que haviam ali.

  Nos encarávamos com intensidade. Eu conseguia sentir a respiração de Nyx ficar mais pesada. Meu cheiro me delatava e Nyx parecia se deliciar com aquilo, respirando mais fundo. Mesmo aquela brisa fria não conseguia impedir o calor que subiu pelas minhas veias diante daquele olhar.

— Diga-me. — Nyx disse, sua voz mais baixa e intensa — Diga-me o que deseja, querida. — sua mão deslizou pela minha cintura, me puxando pra mais perto.

— Você. — eu respondi, quase como um sussurro — Eu quero você, Nyx.