ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙: Por Safira.

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"No coração dela só há espaço para navegar quem sabe a(mar)."

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 Estou tremendo, suando frio e aperto inutilmente minhas mãos numa tentativa de me acalmar. Minha mãe desliza as mãos por meu coque enquanto meu pai me obriga a corrigir a postura.

 - Querida, tente não mexer muito a cabeça porque esse negócio corre sérios riscos de despencar - ela me adverte.

 Concordo levemente temendo mesmo que meu penteado desmanche. Embora eu tenha advertido o cabeleireiro de que esse coque não pararia na minha cabeça, ele disse que me deixaria bem mais alta, e isso foi o bastante para que a produção aprovasse.

 O vestido lilás e roxo é apertado do início ao fim, um estilo cauda de sereia, uns dois números a menos que o meu que não me permite respirar. O scarpin preto aperta meu dedo mindinho e o meu calcanhar. O exagero de anéis e pulseiras me incomodam estranhamente, além dos brincos pesados. E também, essa merda de lente de contato que pinica meu olho.

 A única coisa que me salva agora, é o colar. Deslizo a mão por meu pescoço encontrando fragmentos de uma certa pedra que fora encontrada quebrada, sem explicação aparente, algumas semanas antes. Isso me deixa mais calma, mais corajosa.

 Um pouco à cima dessa beleza, uma gargantilha coleira prateada, para combinar com o restante dos enfeites, que esconde minha cicatriz, um detalhe que mamãe me questiona até hoje de como a adquiri.

 Nunca lhe contei nada, aliás, não contei nada a ninguém. Prefiro pensar que tudo foi um sonho, um sonho bem real mas, ainda sim, um sonho. É melhor assim, pois a saudade diminui assim como os meus incontáveis esforços para tentar entender o que aconteceu.

 - Meu amor, não esquece de sorrir -meu pai aconselha forçando um sorriso.

 Dou uma curta gargalhada pelo seu esforço ao imitar o moço que me ensaiou para esse dia.

 Enfim, paramos ao fim do corredor de frente para uma porta branca com o nome "Silêncio". Mas antes que eu possa pôr em prática a minha ideia de tirar os saltos, sair correndo até o carro mais próximo e, mesmo sem ter a mínima noção de direção, ir para casa, Levi abre a porta com um sorriso alegre.

 Está bonito, como sempre. Com um terno num tom azul muito escuro e com os cabelos cor de mel presos em um rabo de cavalo pequeno.

 Meu pai o encara sério, endireitando a postura e fazendo sumir qualquer resquício da brincadeira anterior.

 - Senhor Kent - ele dá um aceno de cabeça. - Está linda, senhora Kent - se vira para minha mãe que sorri gentilmente.

 - Obrigada, querido, você também está maravilhoso.

 - Mas não a altura de uma maravilha dessas que é a sua filha.

 Me pego com as bochechas coradas e com os três olhando em minha direção, ambos com um sorriso.

 Cubro os olhos fazendo-os dar um risinho e também chamando a atenção do co-diretor. O homem naturalmente carioca aparece atrás do mocinho, nos encara repreensivo e, me fitando em especial, faz um gesto para que entre.

 É agora.

 Meus pais me desejam boa sorte junto com um beijo em minha bochecha, agarro o braço do garoto australiano e respiro profundamente enquanto caminhamos para o fundo do cenário.

 O co-diretor aparece novamente e fico mais nervosa, essa é realmente a primeira vez que sou entrevistada.

 - É uma simples entrevista, Safira - ele me diz numa tentativa de me acalmar.

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde histórias criam vida. Descubra agora