ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙𝟛: Por Safira.

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"Aqueles segundos - aquelas frações de segundo - em que nossos olhares se encontravam eram os únicos momentos, no dia, em que eu sentia alguma coisa."

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Tróia ia se afastando gradativamente e eu observava da polpa a areia de sua praia sumir diante da imensidão azul, desaparecendo no horizonte em menos de uma hora.

Olhei para trás saindo de um transe que não compreendi, e percebi que todos se dispersaram. Briseis e Pat estavam claramente bravos ou irritados com Aquiles, o que tornou o clima todo mais tenso e irrespirável.

Os mirmidões se distraíam fazendo suas tarefas, algumas complexas demais para que eu pudesse ajudar.

Então, um pânico se apossou de mim. Um pânico terrível, pior até do que minha primeira entrevista oficial.

Tremia incondicionalmente, minha boca ficou seca e meus olhos marejaram. Meus braços ficaram moles, já não sentia meus dedos embora estivessem cravados em meu vestido.

Antes que minhas pernas resolvessem fraquejar e me levassem a um desmaio sem precisão, resolvi ir até o lugar mais isolado de um navio grego: o porão.

Ele basicamente serve para guardar as bagagens, alimentos e bebidas, somente quando precisamos é que vamos até lá e na hora de dormir, caso chova.

Estou até agora travada, sentada no chão segurando os joelhos pateticamente, contando a respiração e embaçando meus óculos.

Pedi a um dos mirmidões, que entrou para fazer uma checagem, que chamasse Briseis antes que eu começasse a ficar estressada.

O mar agitava-se furiosamente debaixo do casco de madeira, e posso sentir o frio do mesmo tomar meu corpo.

Finalmente, Bri chega. Ela praticamente pula os últimos dois degraus e corre até mim, me abraçando assim que abro os braços.

Tento não chorar, não preciso, afinal.

- O que foi, lindinha?

Respiro fundo.

- Eu tô com medo, Briseis... - confesso. - Não sei o que fazer assim que pisar meus pés na Fítia.

Talvez seja esse o motivo de tanto estresse nesses últimos dias, o motivo para tantas noites em claro.

Pode parecer bobagem, mas já é demais estar dentro de um filme, o que nem me parece possível ainda, e então ter que deixar o único lugar que eu me sinto segura, literalmente dentro de uma fortaleza, me desestabilizou.

Me afastei de pessoas que me conhecem desde pequena, que enfrentaram tantas coisas comigo, que sempre estiveram lá para mim, em todas as minhas chegadas e partidas.

Agora, vou para um lugar totalmente novo, diferente de tudo o que conheci até agora. Nem em meus livros de história, conseguiria encontrar conforto agora.

Retomei mil vezes em minha mente a cidade no litoral que foi governada por Peleu e que, em suas praias, Tétis vaga durante as noites, esperando o filho para conversar. A mesma cidade que foi o lar de Aquiles e Pátroclo, onde cresceram. Um lugar feliz, pacífico graças ao bom governo de Peleu, totalmente reservado e afastado da loucura dos outros países.

Não deve ser tão ruim - falei a mim mesma todas as vezes.

Porém, o medo não se afastou, ao contrário. O que aquelas pessoas pensariam de mim? Como me veriam? Seus príncipes saem para uma guerra e voltam com duas princesas? Ou ainda pior... Essa garota é prima deles? É mesmo nossa princesa?

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde histórias criam vida. Descubra agora