ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟚𝟙: Por Safira.

3 1 0
                                    

๑_._๑_._๑_._๑

"Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo."

๑_._๑_._๑_._๑

Meus olhos vão abrindo gradativamente, estão pesados e minha visão embaçada, e não é só por causa da miopia.

Aos poucos os borrões a minha volta vão ganhando forma, bem lentamente, mas a primeira pessoa que encontro é Briseis.

Ela me entrega os óculos e consigo ver seus olhos castanhos chorosos, então me dá um sorriso simples e continua acariciando meus cabelos.

Viro a cabeça para o outro lado um tanto confusa, Léia também está aqui e me encara preocupada, não tanto quanto a cacheada, mas, ainda sim, também tenta sorrir.

Abro a boca e formulo uma frase, mas apenas meus lábios se mexem, as palavras não saem. Ficam entaladas ao mesmo tempo que uma pontada se espalha por meu corpo, se agravando na garganta e seguida por um calafrio.

Levo as mãos ao local da dor sentindo uma angústia tomar conta de mim. O que aconteceu?

Sinto as bandagens sobre meu pescoço, úmidas por algo e logo examino minhas mãos a procura de sangue, mas não encontro, melhor.

Antes que eu possa tentar falar novamente, Harry entra no quarto com algo em mãos, posso perceber que a manhã se inicia pelo brilho claro do sol nascendo em contato com sua pele bronzeada.

Ele pára ao lado de Briseis na cama e sorri, noto as sobrancelhas pouco arqueadas e também algum resquício de preocupação em seus olhos.

- Beba - me entrega um copo.

Não contesto. Me sento com a ajuda das moças e sinto a dor se intensificar, e depois sumir parcialmente assim que me acomodo.

Pego o utensílio dourado e sinto o líquido amargo inundar minha boca, descendo queimando direto por minha garganta, e depois chegar pesado ao meu estômago. Faço careta e o centauro ri.

Tento lhe entregar o resto do líquido que não bebi - o copo todo. Mas ele segura minha mão e a leva novamente até minha boca, estimulando-me a continuar bebendo.

Não consigo me lembrar de nada, somente que eu peguei no sono bem cedo. Estou tão atordoada por causa dessa dor que mal consigo pensar direito.

Mas lembro-me com clareza do sonho que tive com Asti... Estávamos na clareira que ele me levara lá em Tróia, sentados a beira do lago. Em seguida, um rapaz, não mais velho que Pat, chegou e se sentou ao nosso lado, mas não pude ver seu rosto. Uma ruiva também chegou num cavalo negro. Espadas e arcos estavam em um canto, enquanto talhávamos algumas flechas. E é então que Agamenon chegou, os soldados cobertos de sangue. O rosto duro, contraído pela raiva. Gritou: Foi você! Por sua causa eu morri! Fiquei em pânico, várias flechas voaram em nossa direção e cobriram o céu, o deixando negro.

Depois disso, nada mais, um profundo e nebuloso breu. Sem nenhum feixe de luz ou qualquer outro sonho brando.

Quirón anda até mim e se abaixa, tento ignorar ao máximo a parte cavalo anexada em si, mas é praticamente impossível.

Ele levanta meu queixo e analisa o curativo com cuidado, o ergue um pouco e continua tirando suas conclusões. Agarro levemente o lençol de cama por conta da dor, mas tento disfarçar.

- É... parece que está bem melhor... - ele para. - Veja, Briseis.

Ainda que esteja com os olhos pro teto, posso ver meio de relance alguns cachinhos da morena ao se aproximar.

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde histórias criam vida. Descubra agora