ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟙𝟜: Por Pátroclo.

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"Ele não tinha ainda sangue nas mãos e nenhuma sentença de morte pendia sobre sua cabeça."

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 Eu quis tanto voltar para cá. Por dez anos esse foi um desejo frequente em mim. Mais que qualquer outro, mais até que ir pra guerra.

  Porém, agora, eu só queria estar em Tróia, com todos. Lá, temos pessoas que conhecem nossos segredos mais obscuros, que sabem coisas que ninguém na Fítia, por mais que se esforce, consiguirá entender.

  Mas, aparentemente, Aquiles esqueceu desse pequeno detalhe por causa de suas idéias malucas e capricho idiota. Não adiantou Heitor tentar intervir, Páris, eu, ou muito menos Astíanax. Principalmente ele.

  Aquiles nem pensou na nossa prima, simplesmente escolheu dizer que algo pudesse convencer a todos. Nem Briseis teve direito de intervir. Eu realmente não o compreendo.

  A atmosfera perto dele se tornou pesada nesses últimos dias após tantas discussões. Preferimos manter distância para evitarmos brigas maiores que poderiam assustar as moças e nos deixar magoados depois.

  Fiquei no meu canto e ele no dele. Porém, não importava o quanto tentamos nos evitar, qualquer coisa que eu fazia era voltada à ele, e ele à mim. Até as rotas de navegação, uma coisa que eu não entendo, tiveram que ser repassadas por mim. Uma ordem, a menor que seja, ou qualquer alteração simples no navio, éramos obrigados a conversar sobre, como se tudo estivesse bem.

  Percebi o silêncio que se formou entre nós, mesmo os mirmidões preferiam ficar neutros quando estávamos juntos. Nem as meninas conversavam, riam ou cantavam, o que me preocupou.

  Fiquei pensando se, o que ele quis evitar, voltou para nos atormentar mais cedo. Não tirava os olhos das duas, principalmente da mais nova, porém, ao vê-la comentar algo ou rir de uma pilhéria simples que um dos homens falava, meu coração apascentava.

  Mesmo assim, preferi me ocupar e passar o maior tempo possível longe dela, não queria provocar nada pois, caso isso acontecesse, não saberíamos o que fazer e... e... AH! Aquiles é muito cabeça dura.

  Me arrumei antes de todos, para garantir que o mais velho não precisará me mandar fazer isso e fiquei observando o horizonte, onde a cor do oceano se mistura ao céu. A única união tranquila e pacífica existente.

  Permaneço mirando o mesmo lugar a mais de uma hora. Brinco com os dados em minhas mãos, imaginando se algum dia terei coragem de jogá-los com outras pessoas novamente. Mas tudo indica que não. Até hoje não esqueço o que aconteceu.

  De repente, cachinhos brotam ao meu lado, molinhas às quais fazia muito tempo que não via claramente, que tentei manter distância por ser muito arriscado cultivar a proximidade. Mas que me deixaram louco de saudades pois, dessa vez, ela estava aqui e eu escolhi não estar.

  Não posso olhar para seus olhos cor de café e não ter vontade de contar tudo, a verdade inteira, a mesma verdade dolorosa que me toma em cada hora do dia. Não vou poder aturar o que aturei da primeira vez: mentiras, brigas, surpresas, descobertas, mais mortes...

  Não posso. Se tudo fosse explicado desde o início, teríamos evitado tantas coisas que, agora, não precisaríamos estar usando a menina como experiência.

  Ela permanece quieta ao meu lado, e sei que não se importa em ficar assim, mas eu me importo. Sinto como se algo me corroesse por dentro cada vez que fico ao seu lado em silêncio.

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde histórias criam vida. Descubra agora