ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟚𝟛: Por Pátroclo.

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"Quando eu nasci, a palavra para definir o que eu era não existia."

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  Vou sentindo meu braço dormente, uma coisa fazendo cócegas em meu pescoço, depois dedos entrelaçados nos meus, pernas sobre as minhas e finalmente, consigo abrir os olhos, liberto.

  Estou no quarto de hóspedes, reconheço o teto sem tantos afrescos quanto o meu ou o de Aquiles, e também por causa do cheiro dos produtos comuns para limpeza.

  Pentesiléia está ao meu lado, completamente adormecida. A respiração lenta e delicada ao tempo que a luz da lua ilumina sua face de porcelana e seus lábios levemente rosados, os quais ainda posso sentir nos meus.

  Nós dois nunca trocamos mais que meros beijos pois, além do tempo que não tivemos, sempre me preocupei se ela me veria como um homem que não pensa em amor, só em prazer. E esse não sou eu.

  A amo, e quero que saiba disso. Agora espero ter deixado isso bem claro.

  Viro-me para ela com cuidado e acaricio seu rosto, tão calmo, tão delicado, tão belo, tão cheio de vida... Me enche de esperança, de planos para um futuro que, contra vontade dos deuses, terei.

  O canto de seus lábios perfeitamente desenhados se arqueia deixando um sorriso embriagado pelo sono surgir. Repito tal gesto.

  Aos poucos, ela vai abrindo os olhos, com cuidado e devagar, deixando revelar pouco a pouco um céu só seu, o único espelho capaz de refletir sua alma.

  Aperto seu corpo mais contra o meu, não querendo pensar em nenhuma possibilidade de deixá-la ir. Isso a faz sorrir mais ainda.

  Sem ter mais receio algum, a beijo novamente, como já fiz tanto. Mas, como se fosse uma obra das ninfas, fadas ou da própria Afrodite, parece que essa é a primeira vez. Tão especial quanto ela, tão nova e intensa.

  Eu daria tudo para ficar aqui e esquecer os problemas para o resto da minha vida.

  Então, a loira afasta devagar nossas bocas, um triste infortúnio que quebra certas ideias que correm em minha mente.

  - Só você para me fazer sentir viva no meio de tudo isso - sussurra.

  Diz isso tão rápido que quase não posso organizar as palavras em minha mente, mas consigo e, apesar de não fazerem tanto sentido quanto eu gostaria, as tenho como um elogio.

  - Só você para me fazer perder a fama de mau.

  Consigo arrancar uma gargalhada sua e a acompanho.

  Assim que nossa risada vai se acalmando e o ar volta a circular livremente por nossos pulmões, ela para. Fica imóvel e com o rosto concentrado em algo.

  De súbito, a ponta de felicidade que estava estampada em si, some. Desaparece para dar lugar a algum pensamento sombrio, um pensamento que temo.

  Um tremor invade seu corpo e passa para o meu como se fosse uma corrente elétrica lançada pelo próprio Zeus. Mas não é uma coisa boa, como a de algum tempo atrás, é estranha, me faz arrepiar de um modo ruim.

  Um frio gélido que não pertence às brisas do mar corre por nós, por nosso abraço tão apertado. Parece querer separar o calor de nossos corpos, como se assim fosse conseguir destruir nosso amor.

  Ela se aninha a mim, me abraça mais forte, passando os braços finos ao redor de meu pescoço e me puxando mais e mais para si.

  - Não me deixe... - pede.

𝔼𝕞 𝕄𝕖𝕦 𝕄𝕦𝕟𝕕𝕠 - ℙ𝕥 𝟚: ℙ𝕠𝕣 𝕋𝕠𝕕𝕠𝕤 ℕó𝕤.Onde histórias criam vida. Descubra agora